Preços do petróleo têm forte recuperação nas últimas sessões, mas movimento é sustentável?

Commodity se recupera em meio a reabertura de economias e cortes de produção, mas possível nova onda de coronavírus gera cautela no mercado

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após o caos do petróleo nas últimas semanas, com contratos futuros chegando a preços negativos, a commodity passa agora por um momento de alívio, enquanto analistas tentam entender o novo cenário global para a demanda.

Nesta segunda-feira (11), a Arábia Saudita anunciou que vai reduzir ainda mais sua produção, em um esforço para apoiar os mercados da commodity. A partir de 1º de junho, o reino reduzirá a produção em 1 milhão de barris de petróleo por dia (bpd), o que combinado com os cortes acordados pela OPEP+, eleva o corte total da Arábia Saudita para cerca de 4,8 milhões de bpd na comparação com abril.

Com a notícia, o petróleo West Texas Intermediate (WTI), referência no mercado americano, chegou a subir mais de 1%, mas voltou a perder força em seguida, fechando em queda de 2,43%, a US$ 24,14 o barril. O barril do tipo brent, por sua vez, teve um recuo mais forte, de 4,4%, a US$ 29,60.

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Apesar da queda na sessão, ela nem se compara aos dias de verdadeiro pânico do mercado, em que a cotação do petróleo caía na casa dos dois dígitos, além de vir após uma sequência de ganhos para a commodity, em meio a cortes de produção em diversos países (como também nos EUA) e a perspectiva de retomada gradual da economia.

A Arábia Saudita também disse que reduziria a produção de maio “de acordo com seus clientes”. “O Reino visa, por meio desse corte adicional, incentivar os participantes da OPEP+, assim como outros países produtores, a cumprir os cortes de produção com os quais se comprometeram e fornecer cortes voluntários adicionais, em um esforço para apoiar a estabilidade dos mercados globais de petróleo”, afirmou um comunicado da agência de imprensa saudita.

Este novo corte de produção se soma ao noticiário positivo da semana passada, quando o petróleo WTI disparou 25% em cinco pregões após os sauditas também decidirem elevar os preços do petróleo para clientes no mundo todo num cenário de início de recuperação da demanda.

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Segundo a Bloomberg, a Saudi Aramco elevou o preço oficial de venda para seu carro-chefe Arab Light para clientes na Ásia em US$ 1,40 por barril, resultando em desconto de US$ 5,90 em relação à referência do Oriente Médio. A expectativa era de que a petroleira reduzisse o preço oficial em US$ 2,50 por barril, para um desconto de US$ 9,80, de acordo com estimativas da agência de notícias com sete operadores e refinarias.

Esta decisão dos sauditas sugere uma nova etapa após o choque dos últimos meses, indicando uma possível melhora na demanda conforme o maior mercado consumidor do mundo, a Ásia, começa a se recuperar e reabrir as economias locais diante do surto do novo coronavírus.

Conforme a China e alguns países da Europa experimentam voltar aos negócios, a demanda por gasolina também tem mostrado uma evolução, sugerindo que neste início de retomada, as pessoas deverão a usar mais os carros.

Com a flexibilização das medidas de confinamento e reabertura das economias em partes do mundo, dirigir surge como o meio de transporte de distanciamento social preferido e oferece algum alívio a curto prazo ao mercado de petróleo.

“As pessoas estão usando mais o carro porque têm medo de usar o transporte público”, disse Patrick Pouyanne, diretor-presidente da gigante francesa de petróleo Total, para a Bloomberg.

Nas ruas de Pequim, Xangai e Guangzhou, o tráfego matinal agora é superior às médias de 2019, enquanto o uso do metrô está bem abaixo do normal, segundo dados compilados pela BloombergNEF. O tráfego no sistema de metrô de Pequim está 53% abaixo dos níveis pré-vírus. O uso do metrô em Xangai e Guangzhou está 29% e 39% abaixo do normal, respectivamente.

Nesta cenário de retomada, os estoques de petróleo na China também começaram a cair nas últimas semanas, segundo analistas consultados pela Bloomberg e dados de satélite. Os estoques começam a diminuir já que refinarias aceleram as operações para atender à crescente demanda da economia que sai do confinamento.

Segundo o Morgan Stanley, os estoques do maior importador do mundo são sinais preliminares de que o mercado global de petróleo começa a se reequilibrar após o colapso da demanda. Os estoques diminuíram, mesmo com as importações de petróleo em abril em alta em relação ao mês anterior, segundo dados da Alfândega.

Chegou a hora da recuperação do petróleo?

Diante desta melhora de cenário, apesar das incertezas sobre a consistência da recuperação da demanda, a equipe da Ágora Investimentos, liderada pelo analista Vicente Falanga acredita que “o fluxo de notícias sobre petróleo deve se tornar cada vez mais positivo, com a flexibilização da quarentena e mais notícias de cortes forçados na produção (à medida que os estoques cheguem ao seu limite)”.

“À medida que os estoques globais de produtos de petróleo/petróleo bruto atinjam picos em maio/junho, acreditamos que os produtores de petróleo precisarão forçar paralisações, acelerando o reequilíbrio dos mercados globais”, avalia o analista.

Segundo ele, a capacidade global de armazenamento de petróleo, considerando estoques, estoques de emergência e navios-tanque, é de cerca de 9 bilhões de barris, sendo que até o fim de abril cerca de 85% desta capacidade estava ocupada, situação que ainda pode piorar até junho.

“Embora possam surgir métodos criativos de armazenamento, o considerável desequilíbrio atual da oferta e a demanda deve inevitavelmente fazer com que o mundo chegue a seu limite de estoque em breve”, afirma a Ágora ponderando que por conta disso as notícias devem melhorar no futuro próximo.

Com isso, a equipe da corretora aumentou as estimativas para o petróleo brent, de US$ 40 para US$ 45 por barril para 2021, e de US$ 45 para US$ 55 em 2022. Na esteira dessa visão mais otimista, os analistas também elevaram a recomendação para a ação da Petrobras (PETR3;PETR4) de neutra para compra.

Por outro lado, a XP Investimentos destacou em nota na última semana que, apesar das notícias recentes corroborarem o sentimento de otimismo com relação a preços de petróleo, pode ser necessária maior clareza sobre a retomada de atividades ao redor do mundo para confirmar a retomada de demanda pela commodity.

“Quando tal tendência for confirmada, esperamos uma recuperação dos mercados de petróleo globais, ancorada também por fechamento de poços produtores e redução de investimentos pelas petroleiras globais”, avalia.

Deste modo, por enquanto, o ambiente segue de cautela para a commodity, como pode ser observado na sessão desta segunda-feira, com o petróleo registrando queda apesar do corte de produção saudita.

Os preços estão bem abaixo de suas máximas e o caminho para a recuperação está longe de ser certo, com a commodity registrando queda em meio ao receio de uma possível segunda onda de casos de coronavírus, depois que países que pensavam ter superado a pior fase, o que inclui a Coreia do Sul, terem relatado um salto nas infecções.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.