Possível insolvência de “banco cripto” deixa mercado em alerta para nova crise

O Silvergate Bank divulgou nesta semana que inquéritos e investigações podem afetar sua capacidade de “continuar em operação”

Lucas Gabriel Marins CoinDesk

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O Silvergate Bank, banco amigo das criptomoedas, divulgou na quarta-feira (1) que atrasaria a apresentação de seu relatório anual. A notícia fez o preço das ações da empresa cair quase 60% desde então, e deixou os players do mercado cripto com medo de uma nova crise.

Em reação, temendo que o problema impacte em outras empresas do setor, investidores iniciaram um sell-off de criptomoedas ainda na noite de ontem. Embora impactada também por um evento técnico, a queda veio na esteira da maior preocupação com o Silvergate.

Em documento enviado para a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (a SEC), a instituição bancária informou que precisaria de mais de duas semanas adicionais para concluir o material.

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“A empresa está atualmente analisando certos inquéritos e investigações regulatórias e outros que estão pendentes”, disse o documento. Auditores estão pedindo mais informações.

No documento para o regulador, o banco também disse o seguinte:

“Há ou haverá fatores importantes que podem fazer com que os resultados reais da empresa difiram materialmente daqueles indicados nas declarações prospectivas, incluindo, mas não se limitado, a restrições nos negócios da empresa, resultantes de vários litígios (incluindo litígios privados) e inquéritos regulatórios e outros, bem como investigações contra ou com relação à empresa, investigações de nossos reguladores bancários, inquéritos do Congresso e investigações do Departamento de Justiça dos EUA.”

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O impacto desses eventos pode afetar a capacidade de a empresa “continuar em operação”, acrescentou o Silvergate.

Há duas semanas, a Reuters reportou que a Binance teve acesso à conta bancária no Silvergate de seu braço norte-americano, a Binance.US, e transferiu milhões para uma empresa de trading de propriedade do CEO da exchange global, Changpeng Zhao, sem o conhecimento do CEO da Binance.US. Um porta-voz da Binance não negou a história quando contatado pelo CoinDesk.

Cancelamento

Em meio às dúvidas sobre a solvência do Silverbank, diversas empresas decidiram encerrar o relacionamento com o banco amigo dos criptoativos.

A Coinbase disse em tuíte na quinta-feira (2) que não está mais usando o Silvergate para facilitar pagamentos em dólares para seus clientes institucionais. O novo parceiro da exchange de capital aberto para o serviço é o Signature Bank.

A emissora de stablecoins Paxos também abandonou o Silvergate, descontinuando as transferências para sua conta no banco. Outra emissora de stablecoins, a Circle, tuitou ontem que “somos sensíveis às preocupações em torno de Silvergate e estamos no processo de desfazer certos serviços com eles e notificar os clientes”.

A Galaxy Digital, empresa de serviços financeiros focada em cripto, também parou de aceitar ou iniciar transferências para a empresa, de acordo com reportagem da Bloomberg. Entram ainda para a lista as plataformas Cboe Digital e LedgerX, e as exchanges cripto Bitstamp, Gemini e Crypto.com.

A Kraken parece ser a única grande corretora cripto a continuar usando o Silvergate. A empresa foi contatada pelo CoinDek, mas não respondeu até a publicação desta matéria.

Rebaixamento

Ao mesmo tempo em que empresas cancelaram as parcerias, o JPMorgan rebaixou a ação do Silvergate Bank de neutra para underweight (exposição abaixo da média). Além disso, colocou o preço-alvo dos papéis do negócio em US$ 7,18, ante US$ 14 até então.

A classificação do Silvergate também caiu de compra para neutra pela Canaccord Genuity. A corretora cortou o preço-alvo da ação de US$ 25 para US$ 9.

O JPMorgan disse que, no trimestre recente, o Silvergate percebeu uma perda de US$ 886 milhões com a venda de títulos, resultando na redução do valor contábil tangível do banco em mais da metade, para US$ 12,93 por ação.

“Com a empresa tendo vendido títulos adicionais (além do que foi orientado) como uma perda em janeiro/fevereiro, isso reflete que a empresa está enfrentando desafios contínuos de liquidez”, escreveram os analistas do JPMorgan liderados por Steven Alexopoulos.

O Silvergate foi diretamente afetado pelo colapso da FTX, já que o banco tinha cerca de US$ 1 bilhão em depósitos na exchange falida no momento do colapso, disse o relatório do JPMorgan.

Além disso, os últimos meses foram de idas e vindas entre os vendedores a descoberto (que apostam na queda de preço) e a empresa, com o Silvergate respondendo publicamente em várias ocasiões na tentativa de manter seus negócios, disseram os analistas do JPMorgan.

“Os vendedores a descoberto parecem ter contribuído para uma espécie de corrida aos bancos, com o Silvergate relatando um nível muito maior de saídas de depósitos do que o previsto no quarto trimestre, que provavelmente vão continuar agora no primeiro trimestre de 2023”.

Na tarde desta sexta-feira (3), as ações do Silvergate negociam em alta de 3,65% em Nova York. As perdas em 2023, no entanto, ainda ficam na casa dos 65%, e alcançam os 94% nos últimos 12 meses.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney