Por que os analistas gostaram do balanço de Ambev e Cielo mas o mercado não?

Apesar dos números elogiados - principalmente da Cielo -, ações das duas gigantes da Bolsa caem mais de 2% nesta quarta-feira

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SÃO PAULO – Duas gigantes da Bolsa divulgaram seus resultados do primeiro trimestre antes do pregão desta quarta-feira (7): Ambev (ABEV3) e Cielo (CIEL3). O desempenho operacional foi bastante positivo, reforçando a robustez destas duas empresas, que costumam trazer resultados consistentemente sólidos – fato que ajudou para a forte alta das ações nos últimos anos. Contudo, se os analistas gostaram dos balanços apresentados, o mesmo não podemos dizer dos investidores.

As ações da Cielo recuaram 2,29%, a R$ 38,90, após subirem 3,0% nos minutos iniciais pós-divulgação de resultados – destaque ainda para o volume financeiro movimentado: R$ 294,5 milhões, contra média de R$ 127 milhões. Já a Ambev recuou 2,40%, a R$ 16,25, com um giro financeiro mais dentro da normalidade.

No caso da companhia de bebidas, os analistas acreditam que, apesar de alguns números muito fortes no balanço do 1º trimestre, o desempenho geral ficou abaixo do esperado. Para a equipe da Citi Corretora, pesa o fato de que o primeiro trimestre deve ser o melhor da empresa no ano, e mesmo assim não atingiu as projeções.

Análise de Ações com Warren Buffett

Assim como o Citi, os analistas da XP Investimentos acreditam que o que mais pesou para a Ambev neste balanço foi um resultado pior com despesas gerais, de vendas e administrativas (SG&A, na sigla em inglês) oriundos dos gastos de marketing com a Copa do Mundo. Isso acabou pesando no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que veio abaixo do esperado, atingindo R$ 4,051 bilhões – expectativa era de R$ 4,153 bilhões do Citi e R$ 4,183 bilhões da XP.

Somado a isso, as projeções não são tão boas principalmente após o governo anunciar na última semana o aumento de impostos para bebidas geladas- o impacto deve chegar a 1,3% no preço final dos produtos. Segundo os analistas do Credit Suisse, embora o segundo trimestre tende a ser forte por causa das vendas durante a Copa do Mundo, a expectativa para a segunda metade do ano deve ser revisada para baixo. 

Por conta dos impostos mais altos, a companhia alertou que vai investir menos este ano. Isso, na opinião da XP Investimentos, é positivo, pois deve elevar o caixa líquido da companhia. “Continuamos acreditando que a Ambev poderá reportar um dividendo extraordinário no final do ano, readequando a posição de caixa da companhia”, diz a corretora em relatório.

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Mesmo com as preocupações dos analistas, a Ambev viu seu lucro líquido subir 9,4% no primeiro trimestre e atingir R$ 2,597 bilhões, ajudada pelo forte aumento da receita com cervejas no Brasil. No período, a geração de caixa medida pelo Ebitda cresceu 11,6%, a R$ 4,044 bilhões, enquanto a margem Ebitda sofreu contração de 1,6 ponto percentual, a 44,7%, num reflexo principalmente do recuo em outras receitas operacionais. 

Cielo: chegou ao limite?
Se o caso da Ambev é mais fácil de explicar pelos números abaixo do esperado pelos analistas, o da Cielo tornou-se um questionamento quase que doloroso aos analistas, que não souberam explicar o movimento atípico das ações hoje – após abrirem com alta de 2,99%, passaram o dia inteiro no negativo, atingindo perdas de mais de 3% na mínima do dia. “Sólido” e “surpreendente” foram alguns dos adjetivos utilizados por bancos e corretoras em suas análises aos números da administradora de cartões e, por isso, a trajetória de queda dos papéis só pode ser explicado por um movimento de mercado e não aos fundamentos da companhia.

Desde a metade de março, o Ibovespa tem engatado um forte movimento de alta, impulsionado principalmente pelos rumores em cima das pesquisas eleitorais. As principais ganhadoras neste período foram as estatais, que foram duramente penalizadas na Bolsa nos últimos anos e mostram uma recuperação com a expectativa de que uma mudança no governo pode mudar os rumos da gestão destas empresas.

Dessa forma, a queda de Cielo hoje pode estar ligada ao cenário de menor aversão ao risco, o que motiva os investidores a buscarem ações mais arriscadas mas que podem trazer um rendimento melhor do que aqueles papéis “defensivos”, como a Cielo e a Ambev – é a tal da relação “risco x retorno” tão conhecida no mercado financeiro.

A recordar: as ações da Cielo subiram 44% no ano passado e em 2014 acumulava alta na faixa de 20%. Nos respectivos períodos, o Ibovespa caiu 15,5% e subiu 5,0%.

A máquina de fazer dinheiro
Em relatório intitulado “ninguém bate essa máquina”, os analistas do Credit Suisse acreditam que o balanço da companhia foi bastante sólido, com lucro de R$ 803 milhões, ficando em linha com o esperado. Além disso, a Cielo conseguiu surpreender ao mostrar um ótimo desempenho, mesmo com um ambiente de maior competitividade, o que animou as expectativas dos analistas.

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Já para a Citi Corretora, o balanço foi muito forte, com destaque para a “impressionante” alta de 22,5% no crescimento dos volumes da companhia – dando continuidade aos 23% apresentados no trimestre passado. Além disso, os analistas chamaram atenção para a alta de 76% para o crescimento da receita por antecipação de recebíveis, apontada como um dos principais pontos do resultado.

Por fim, os analistas Jorge Kuri e Jorge Chirino, do Morgan Stanley, apontam a Cielo como sua favorita no Brasil, com um caminho para ainda maiores ganhos no setor financeiro. Segundo eles, uma revisão pode acontecer e suportar um bom desempenho das ações daqui pra frente.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.