Por que o Walmart acendeu novamente o sinal amarelo para as varejistas nos EUA

Gigante varejista americana cortou novamente as suas projeções de lucro por pressão da inflação e impacta ações do setor como um todo em Wall Street

Lara Rizério

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Depois de um início de temporada de resultados nos Estados Unidos aparentemente acalentador, o Walmart gerou um novo alerta para o mercado, principalmente para as ações de crescimento, o que impactou o setor varejista como um todo.

A varejista anunciou na noite de segunda-feira (25) um corte em sua previsão de lucro trimestral e anual, pontuando que a forte alta dos preços tem forçado seus clientes a gastarem mais com itens de primeira necessidade como alimentos e menos com itens discricionários como roupas e eletrônicos.

Como resultado, essa mudança nos gastos deixou mais itens nas prateleiras e armazéns das lojas, pressionando a varejista para reduzir agressivamente os estoques de itens que os clientes não desejam através de liquidações.

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A varejista espera que seu lucro ajustado por ação para o segundo trimestre e o ano inteiro caia cerca de 8% a 9% e 11% a 13%, respectivamente. Anteriormente, esperava-se que eles ficassem estáveis no segundo trimestre e caíssem cerca de 1% no ano inteiro.

Por outro lado, o Walmart prevê que as vendas por loja nos EUA aumentem cerca de 6% no segundo trimestre, excluindo combustível, à medida que os clientes compram mais alimentos em suas lojas. A nova projeção é maior do que o aumento de 4% a 5% que a empresa esperava anteriormente. No entanto, o novo mix de mercadorias pesará nas margens empresa. Os mantimentos têm margens de lucro menores do que itens discricionários, como TVs e roupas.

“Sendo uma das maiores varejistas dos EUA, o anúncio da empresa acendeu um alerta amarelo para todo o setor e economia americana, com o sinal de uma redução significativa dos hábitos de consumo dos americanos”, ressalta a XP. No trimestre passado, um movimento parecido tinha ocorrido, com a companhia já cortando as suas projeções.

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Com os novos cortes, mostrando o prolongamento desses efeitos, as ações do Walmart caíam 9,48%, a US$ 119,50, no pré-market da Bolsa de Nova York na manhã desta terça-feira, por volta das 9h (horário de Brasília), levando outros papéis a caírem no pré-mercado, como a varejista Target, em queda de mais de 5%,  Amazon em baixa de mais de 3%, Macy’s em queda de 4,75%, entre outras baixas do setor.

Após o anúncio do Walmart, o Morgan Stanley, por exemplo, além de cortar as suas projeções para a varejista, também pontuou possíveis reflexos para a Amazon, vendo impacto principalmente em vendas no 1P (estoque próprio).

“Como tal, acreditamos que o guidance de lucro para baixo do Walmart e a expectativa de aumento de remarcações e pressão de margem de mercadorias em geral na segunda metade do ano aumentam os riscos em torno das margens de mercadorias da Amazon no 1P. Vimos a pressão da margem de mercadorias diminuir a lucratividade esperada antes (no 1T22), quando níveis de estoque mais altos e inflação levaram a um lucro bruto US$ 1,5 bilhão abaixo do esperado”, avaliam os analistas do banco.

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O Morgan aponta que cada 10 pontos-base de pressão de margem de mercadoria no 1P é um vento contrário para o lucro antes de juros e impostos (Ebit) na segunda metade do ano de cerca de US$ 140 milhões.

“Atualmente modelamos as margens de mercadoria da Amazon do 1P para aumentar em cerca de 60 pontos-base sequencialmente na segunda metade do ano (supondo que a empresa seria capaz de tomar o preço e compensar algumas pressões de custo)”, avaliam os analistas. Para os analistas, embora as possibilidades de mix de categorias torne a modelagem reconhecidamente difícil, pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença.

A Amazon, avalia o Morgan, pode tomar medidas para compensar parte dessa pressão (incluindo o aumento de preços anunciado recentemente no European Prime) mas, à medida em que deve haver mais impacto dos descontos, este pode ser um obstáculo incremental para monitorar o lucro por ação do segundo trimestre. Os analistas, porém, mantêm recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para os ativos, com preço-alvo de US$ 175 (potencial de alta de 44,5% frente o fechamento da véspera).

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Já para o Walmart, o banco americano cortou efetivamente as suas estimativas para o preço-alvo, que passou de US$156 para US$ 145 (alta de 10% frente o fechamento de segunda).

Os analistas, contudo, seguem com recomendação overweight para os ativos, “embora a ação possa afundar no curto prazo”. A recomendação é baseada em melhor visibilidade de ganhos e relativa defesa em um cenário de desaceleração macroeconômica. Os analistas ainda veem o Walmart favoravelmente, devido à sua alta exposição em mercearia (onde está ganhando participação) e exposição a categorias de mais baixo valor (onde há potencial de trade down, ou mudança para produtos mais baratos).

“Mas o guidance de ontem (e o segundo em dois meses) desafia nossa visão otimista. Houve alguns sinais de alerta que provavelmente subestimamos, incluindo aceleração da inflação no trimestre, comentários cautelosos sobre estoques e novas sobretaxas sobre fornecedores que sugeriram que o primeiro corte em maio – que foi relativamente modesto – não seria o último”, ponderam.

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As remarcações/mix de vendas foram os principais impulsionadores para o primeiro corte das projeções, em maio. Desde então, a inflação acelerou ainda mais e os consumidores mudaram ainda mais os seus hábitos de compras. “Essa narrativa é semelhante ao que estamos ouvindo de outros varejistas, públicos e privados, incluindo a Target, que também cortou a sua projeção, embora muito antes do Walmart”, destacam. Os analistas apontam que este pode ter sido o último corte de estimativas da varejista, mas avalia ser “difícil ter convicção”.

O Goldman Sachs também segue com recomendação de compra para o Walmart, ainda que com preço-alvo de US$ 135 por ação (upside de apenas 2,3%). Os analistas reconhecem que a melhora do perfil de rentabilidade da empresa agora levará mais tempo para se concretizar (estimam a partir de 2023), mas veem fortes tendências de receita apoiadas por ganhos de participação de mercado, além de verem que as pressões de custo são em grande parte temporárias, com visibilidade sólida no caminho para a melhoria.

O Credit Suisse também cortou seu preço-alvo para os papéis de US$ 155 para US$ 133 (alta de 0,7%), ainda com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado). Os analistas apontam preferência no setor por  marcas de alta qualidade que tenham poder de precificação suficiente (Hershey) ou propostas de valor convincentes (Hostess) para navegar na pressão inflacionária.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.