Por que o dólar sobe tanto quando o PT vai bem nas pesquisas?

Moeda disparou para mais de R$ 4,10 após três pesquisas mostrarem Lula na liderança, e isso acontece porque as projeções não são nada boas de mudança no país

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A cada quatro anos, os brasileiros se deparam com uma questão importante, com impactos muito relevantes na vida cotidiana da população. Afinal, em quem votar para ser o próximo presidente do País? Esta decisão, assim como impacto na população, consequentemente tem grande influência no mercado financeiro. Contudo, muitas pessoas não entendem por que a bolsa cai e o dólar sobe quando o candidato “do mercado” não vai bem nas pesquisas – e pior se ele não for eleito.

Mas, mais do que a bolsa, o dólar sente fortemente o impacto do noticiário eleitoral, o que pode ser percebido recentemente com a disparada da divisa americana para mais de R$ 4,10. Mais do que o cenário internacional, a força do PT nas últimas pesquisas fez com que a aversão ao risco do mercado aumentasse. 

Esse movimento ocorre por conta das bandeiras defendidas pelo partido, de maior intervenção no mercado e que causa mais incerteza no ambiente regulatório do País, o que acaba afugentando investimentos e levando a um cenário de maior aversão ao risco. Nesta quinta-feira (23), por exemplo, o economista e responsável pelo plano de governo do PT, Marcio Pochmann, disse que a reforma da Previdência não é prioridade e as mudanças no sistema seriam apenas pontuais. 

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Soma-se a isso o fato de que o candidato oficial do PT (e líder nas pesquisas) é o ex-presidente Lula, que deverá ter a candidatura barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por ser condenado em segunda instância. Seu provável substituto é o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, que ainda não pontua bem nas pesquisas, mas tem potencial de subir levando em conta a possível transferência de votos. Tal incerteza gera ainda mais temores no mercado. 

Para os investidores, neste momento é preciso que o próximo presidente tenha uma agenda reformista, que faça logo a reforma da Previdência, algo tido como crucial para o País sair da atual crise e começar a melhorar. “A questão principal para o preço dos ativos do mercado financeiro é a proposta econômica de cada candidato, não importando o partido”, afirma José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos.

“Assim, como o candidato que lidera as pesquisas tem propostas colocando menos peso no ajuste fiscal, dólar e juros sobem porque não há perspectiva de melhora da situação financeira do governo central e, consequentemente, de reavaliação do no nosso rating para cima”, explica Faria.

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É importante lembrar que o mercado sempre trabalha olhando para o futuro. Ou seja, o dólar está disparando neste momento porque há um grande temor de que o candidato que for eleito, em seu governo, não irá resolver nossos problemas econômicos e a situação tende a piorar. O diretor da Wagner ressalta que o que mercado enxerga agora é que não há sinais de redução da dívida do governo e, com o PT, poderemos ver uma maior intervenção do estado na economia.

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Se no futuro algo mudar, seja no rumo da campanha eleitoral ou mesmo nos próximos anos o presidente mostrar que todos estavam errados, a tendência é de ver um forte movimento no sentido oposto. Algo neste sentido já ocorreu exatamente com Lula em 2002, com o dólar disparando antes de sua eleição, mas acalmando durante o seu governo conforme os números da economia mostravam uma melhora.

É desta ideia de antecipar o movimento, por exemplo, que surgiu a expressão “sobe no boato e cai no fato”, ou seja, o mercado normalmente precifica antes, e quando o esperado evento chega, já foi precificado.

“As pesquisas trouxeram à baila a efetiva possibilidade do PT estar na disputa da Presidência, e isto ficou bastante evidente com a real possibilidade de migração dos votos que vêm sendo atribuídos ao ex-presidente Lula”, explica o diretor executivo da NGO, Sidnei Moura Nehme.

O economista lembra que o dólar é mais sensível aos momentos de insegurança no país, e por isso está recebendo todo o impacto da mudança forte de humor em torno das perspectivas para a eleição presidencial. Por outro lado, ele ressalta que, na visão dele, o que se vê agora é que a pressão está “indo muito além do razoável”.

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Nehme diz ainda que “a preocupação do mercado se fortalece na medida em que as candidaturas mais identificadas com o mercado financeiro brasileiro não evidenciam capacidade de recuperação junto ao eleitorado”, ou seja, que os candidatos “do mercado” não estão mostrando força. No caso atual, este presidenciável seria o tucano Geraldo Alckmin, um dos que mais defende a agenda reformista.

Neste sentido, é importante destacar que o mercado não só não gosta de Lula, mas também não gostaria de ver outros nomes como presidente. Um dos exemplos é o candidato do PDT, Ciro Gomes, que proclama ser contra a reforma trabalhista aprovada pelo atual governo e contra a privatização da Eletrobras, medidas estas que animaram o mercado em 2017.

Mais do que seguir estressado enquanto o PT seguir forte nas pesquisas, o dólar vai continuar em patamares elevados enquanto o “candidato do mercado” não passar a performar melhor e dar sinais de que pode, pelo menos, ir até o segundo turno.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.