Por que o Brasil é a grande aposta das corretoras globais de criptomoedas na América Latina

Um mix de inflação e desvalorização do real gera um boom de criptomoedas que players como Binance, Coinbase e Crypto.com não querem desperdiçar

Andrés Engler

(Getty Images)

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Em meio a um boom de criptomoedas no Brasil, várias bolsas de cripto globais veem o país como o principal mercado da América Latina em 2022.

O interesse de Binance, Coinbase, Crypto.com e outras exchanges no Brasil vem crescendo à medida que a maior economia da região luta com desequilíbrios econômicos significativos.

O Brasil registrou uma taxa de inflação de 10% em 2021 e uma desvalorização constante do real brasileiro em relação ao dólar. De cerca de R$ 4 em janeiro de 2020, a moeda americana subiu para cerca de R$ 5,50 dois anos depois.

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Esse coquetel de desequilíbrios macroeconômicos alimentou o boom das criptomoedas nos últimos anos. Em 2020, as exchanges de criptomoedas começaram a perceber que o número de traders brasileiros de stablecoins estavam quadruplicando.

De acordo com a Receita Federal, entre janeiro e novembro de 2021, os brasileiros negociaram US$ 11,4 bilhões em stablecoins e quase triplicaram o total negociado em 2020. No mesmo período, os trades de Bitcoin (BTC) atingiram US$ 10,8 bilhões.

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Os brasileiros têm incentivos para comprar criptomoedas em vez de dólares americanos para se proteger contra inflação ou desvalorização. Ao adquirir moeda estrangeira, os brasileiros são obrigados a pagar o imposto sobre operações financeiras (IOF), que varia entre 1,1% e 6,38%. O imposto, no entanto, não se aplica a stablecoins.

Além disso, o Banco Central do Brasil não permite que se guarde dólares em uma conta bancária, ao contrário do que acontece em outros países da América Latina. A proibição foi abolida após a sanção do novo marco cambial em dezembro de 2021, mas a implementação ainda depende de regulação específica.

Os brasileiros também priorizam as criptomoedas em detrimento de outros investimentos mais tradicionais. De acordo com dados do Bacen, em agosto de 2021, os brasileiros detinham US$ 50 bilhões em criptomoedas, em comparação com US$ 16 bilhões em ações dos EUA.

Há também forte familiaridade com dinheiro digital, já que o país lidera esse segmento na região. No seu primeiro ano de operação, o Pix registrou mais de 104 milhões de usuários – quase a metade da população – e concentrou mais de 70% do total de transações.

No setor de criptoativos, o BCB planeja realizar os primeiros testes de sua moeda digital de banco central (CBDC), o real digital, em 2022. Já o Senado discutirá três projetos de lei que buscam definir as regras para o ecossistema cripto no país ainda este ano.

A Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo, tem um interesse especial no Brasil. “É um mercado estratégico chave para a Binance, com certeza. É o maior mercado da América Latina em todas as métricas e com enorme potencial; também é muito importante para a empresa globalmente”, disse a corretora à reportagem.

A exchange informou que, nos últimos três anos, se concentrou na contratação de brasileiros para fortalecer sua equipe de suporte local. Agora, busca um gerente geral para liderar seus negócios no Brasil. No total, segundo sua página de carreiras, há sete vagas abertas no país.

Em novembro de 2020, a Binance começou a aceitar reais por meio de um gateway de pagamentos. Segundo a empresa, a medida foi responsável por aumentar o número de usuários ativos em 125% em 2021, em relação ao ano anterior.

Naquele mesmo mês, a exchange de criptomoedas Coinbase anunciou a criação de um hub de engenharia no Brasil, para o qual tem nove vagas abertas. Levando em consideração sua página de carreiras, a empresa parece ter um interesse particular em entrar no ecossistema brasileiro de pagamentos.

A exchange de criptomoedas Crypto.com, com sede em Singapura, é outro peso pesado trabalhando para integrar sua plataforma ao mercado brasileiro.

Segundo Guilherme Sacamone, head de growth da Crypto.com no Brasil, a empresa atua no mercado local há “alguns meses”, já oferece integração com o Pix e lançou um cartão de débito Visa no Brasil.

A Crypto.com também procura um country manager para liderar sua operação brasileira. Além disso, está interessada em fortalecer seu portfólio institucional por meio da contratação de um diretor de vendas institucionais.

“A América Latina é uma região importante para a Crypto.com e o Brasil, sendo seu maior mercado, tornou-se uma prioridade global para a empresa”, falou Sacamone.

O Brasil também começa a atrair exchanges europeias. A Bit2me, uma corretora espanhola de criptomoedas que levantou 20 milhões de euros por meio de uma ICO em 2021, planeja desembarcar no país no decorrer do primeiro trimestre de 2022, disse o COO da Bit2Me, Andrei Manuel.

A empresa estuda permitir a compra e a venda de criptomoedas com reais, bem como fornecer criptomoedas para negociação de ativos digitais. A corretora tem uma equipe de 20 pessoas no Brasil e espera contratar mais 20 funcionários ao longo de 2022 para aumentar suas equipes de marketing, compliance, produto e suporte, acrescentou o executivo.

Mas, a agitação no mercado brasileiro não se limita às exchanges. A empresa global de pagamentos Ripple considera o Brasil o principal gatilho para seu crescimento na América Latina. Atualmente, a companhia está procurando um gerente de desenvolvimento de negócios para coordenar “relações estratégicas” que incluem “empresas de pagamentos e fintechs, instituições financeiras e players de ativos digitais e infraestrutura”, entre outros.

Embate regional

As exchanges regionais de criptomoedas que já operam em mercados de língua espanhola também estão de olho no Brasil. Mas elas enfrentam o desafio de competir com o principal player local do país, o Mercado Bitcoin.

Fundado em 2014, o Mercado Bitcoin é a maior exchange de criptomoedas do país, com 3,2 milhões de usuários, disse a empresa em nota. Também arrecadou US$ 250 milhões em uma rodada de financiamento da Série B do Softbank em 2021, tornando-se o primeiro unicórnio cripto brasileiro.

O principal concorrente do Mercado Bitcoin na região é a Bitso, uma exchange de criptomoedas com sede no México que levantou US$ 250 milhões em uma rodada de financiamento da Série C que a transformou no primeiro unicórnio de criptomoedas da América Latina.

José Molina, vice-presidente de marketing da Bitso, disse que a empresa planeja se tornar a maior exchange do Brasil em 2022. Embora não tenha divulgado sua base de clientes no país, a Bitso disse que sua unidade de negócios brasileira cresceu 97% nos últimos seis meses.

Atualmente, a Bitso tem mais de 30 vagas de emprego no Brasil, pois quer “crescer rapidamente”, disse Molina. A empresa contratou o veterano do Facebook Vaughan Smith em agosto de 2021 para impulsionar sua expansão no país.

A Bitso tem mais usuários que o Mercado Bitcoin – 3,7 milhões contra 3,2 milhões – quando contabilizados os números de Argentina, Brasil, Colômbia e México, que são os mercados onde opera atualmente.

Mas, a disputa pode mudar em 2022, já que o Mercado Bitcoin está procurando expandir sua operação para o restante da América Latina por meio de aquisições na Argentina, Chile, Colômbia e México, disse o CEO da 2TM, Roberto Dagnoni, em junho.

Por outro lado, a Bitso não é a única exchange de criptomoedas da América Latina de olho no Brasil. Em janeiro de 2021, a corretora de criptomoedas Ripio, com sede na Argentina, adquiriu a BitcoinTrade, a segunda maior corretora do Brasil.

Para 2022, a empresa planeja lançar sua mesa de operações corporativas, a Ripio OTC, voltada para investidores institucionais e traders de alto patrimônio líquido, afirmou à reportagem o country manager da Ripio Brasil, Henrique Teixeira. Paralelamente, a exchange está trabalhando em “vários produtos de pagamento” com a Visa Brasil, incluindo um cartão cripto, bem como em projetos com fintechs locais.

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Andrés Engler

Jornalista e repórter da CoinDesk para a América Latina