Por que o Bitcoin está perto da máxima histórica em reais – enquanto ainda está bem longe do recorde em dólares

Por conta da forte desvalorização do real contra o dólar e diante das altas da criptomoeda, desempenho do Bitcoin no Brasil é ainda melhor que no exterior

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde o choque de março, com o estouro da pandemia do coronavírus, o Bitcoin engatou um movimento de recuperação, ainda que gradual e antes de qualquer mercado tradicional, já havia deixado a pandemia para trás, ainda em abril.

Entre maio e junho, a maior criptomoeda do mundo andou praticamente de lado, em meio também ao halving, evento que cortou pela metade a oferta de novos bitcoins e que no médio prazo tende a valorizar bastante a moeda digital, segundo analistas (clique aqui para saber mais). Porém, a partir de julho, uma forte alta teve início.

E se, de um lado, os investidores de Bitcoin ao redor do mundo estão animados com a valorização da moeda digital, que superou os US$ 12 mil e bateu seu maior valor em mais de um ano, os brasileiros têm ainda mais motivos para comemorar: por aqui, a cotação se aproxima da máxima histórica, em R$ 70 mil.

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Mas o que explica este descolamento entre os valores do Bitcoin em reais e em dólares? Segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, o câmbio entre a moeda brasileira e americana é fator importante para justificar o recorde por aqui.

Mayra Siqueira, gerente da exchange Binance no Brasil, lembra que em 2017, quando o ativo bateu sua máxima histórica em torno de US$ 20 mil, o dólar no Brasil era cotado em cerca de R$ 3,30. Desde então, tanto a criptomoeda quando o real perderam valor contra a divisa americana.

Nesta quarta-feira (19), o Bitcoin é cotado a US$ 11.770 (cerca de 40% abaixo de sua máxima histórica), enquanto o dólar no Brasil está em R$ 5,50. No acumulado do ano, a moeda digital registra uma valorização de 65% em dólares, ao passo que a moeda americana subiu 37% contra o real, deixando a divisa brasileira entre as piores do mundo.

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Apesar de estar próximo de sua máxima, Siqueira destaca que o investidor precisa ter cuidado. “Essa região de preço é muito importante, mas possui uma forte força vendedora, podendo, por exemplo, ser o momento das pessoas que compraram na alta de 2017 iniciarem o fechamento de suas posições no ativo”, explica ela.

Diante disso, é possível que o Bitcoin tenha bastante dificuldade de superar a sua máxima em reais, de R$ 69.703. E, por enquanto, o que se vê é exatamente isso: na segunda-feira (17), a criptomoeda chegou aos R$ 68 mil – mas, desde então, tem registrado queda. Nesta quarta, ela está na casa de R$ 65.200.

A gerente da Binance também ressalta que o volume de negociação da moeda digital em reais segue bem abaixo das médias do pico histórico em 2017, o que, segundo ela, indica um momento de otimismo dos investidores.

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Para os próximos meses, Ricardo Da Ros, country manager da exchange Ripio, acredita que o cenário seja ainda mais positivo para o Bitcoin, que pode se favorecer de um cenário onde os estímulos monetários serão reduzidos ao redor do mundo com a melhora da crise.

Ele lembra que o Federal Reserve (como é conhecido o banco central dos EUA) já injetou muito dinheiro na economia e reduziu a taxa de juros para próximo de zero, movimento que ajudou na alta das bolsas. Porém, isso deve mudar principalmente após as eleições americanas de novembro.

“Essa política de inflar o estoque de dólares tende a ser revertida para não acelerar a destruição do valor da moeda – independentemente de qual partido vença as eleições. Quando isso acontecer, os mercados podem ter uma forte correção. No Brasil, isso causaria uma desvalorização no real devido à fuga de liquidez internacional para ativos de segurança em seus países de origem, por exemplo”, explica Das Ros.

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Se isso ocorrer, ele afirma que seria um cenário duplamente favorável ao Bitcoin: “como reserva de valor de baixa correlação com mercados tradicionais, a criptomoeda tende a atrair parte dessa liquidez que estaria abandonando o mercado de ações. E como hedge cambial, ela protege os investidores da desvalorização do real”.

Ele destaca ainda que, por sua descorrelação com ativos tradicionais e por uma diversificação de carteira, mesmo que o cenário econômico não siga o que ele apontou, ainda faz sentido o investidor ter um pouco de exposição à criptomoeda.

Diante disso, Das Ros acredita que o cenário segue bastante positivo para o Bitcoin em 2021, com “potencial de ter novamente a maior valorização do ano quando comparado a outros ativos”.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.