Por que o BC terá de escrever uma carta ao ministério da Fazenda após menor inflação em 19 anos?

O BC informou que publicará a carta aberta de Ilan Goldfajn a Henrique Meirelles às 17h30 (horário de Brasília), no site da autoridade monetária

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Mesmo após um desempenho significativamente acima do esperado em dezembro, com uma alta de 0,44% nos preços ao consumidor, a inflação oficial encerrou o ano passado abaixo do piso da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Conforme informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechou o acumulado de 2017 na marca de 2,95%, em seu menor resultado em 19 anos.

Pela primeira vez desde a criação do regime de metas, em 1999, a inflação brasileira teve desempenho abaixo do estipulado pelo governo. Atualmente, o centro da meta inflacionária é de 4,5% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A realidade é distinta do que se observou nos últimos dois anos, quando o desafio era manter a alta dos preços dentro dos limites fixados pelo governo.

No ano passado, o IPCA acumulou alta de 6,29%, dentro dos limites da banda da época, que permitia oscilação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Em 2015, contudo, a inflação oficial superou os limites do governo e acumulou variação positiva de 10,67%, em um momento em que se discutia uma possível perda de controle por parte do Banco Central. Além do ano retrasado, também houve descumprimento da meta em 2001, 2002 e 2003.

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Apesar da situação bastante distinta entre o atual momento e o passado recente, haverá um desfecho similar. Isso porque quando não consegue manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo CMN, independentemente se a variação dos preços superou ou ficou abaixo do intervalo de tolerância, caberá ao BC encaminhar uma carta aberta assinada por seu presidente — neste caso, Ilan Goldfajn — ao Ministério da Fazenda — comandado por Henrique Meirelles –, justificando a “anormalidade”.

O BC informou que publicará a carta aberta de Ilan Goldfajn a Henrique Meirelles às 17h30 (horário de Brasília), no site da autoridade monetária. O presidente da instituição também marcou para 18h uma entrevista coletiva.

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Desde agosto, Goldfajn vinha apresentando em declarações públicas os motivos para que, em 2017, a inflação estivesse tão baixa. Os comentários serviram de resposta a críticas, de alguns setores do mercado e do próprio governo, de que o BC teria demorado demais a intensificar o processo de cortes da Selic (a taxa básica de juros). Além disso, os comentários já preparavam a base de argumentação para um possível descumprimento da meta do IPCA – como foi confirmado nesta quarta.

Basicamente, Goldfajn afirma que a inflação em 12 meses manteve-se alta até agosto de 2016, para depois começar a ceder, sendo que a queda apenas foi acelerada no ano passado. Além disso, o presidente do BC defende que parte substancial da queda da inflação em 2017 se deve ao choque favorável dos alimentos — em outras palavras, à forte baixa dos preços dos produtos. Estes argumentos devem constar na carta a ser divulgada nesta quarta-feira.

(com Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.