Por que o acordo da Opep+ de aumentar a produção impulsionou os preços do petróleo (e o impacto para a Petrobras)

Avaliação é de que o cartel passa a atuar de forma mais coordenada em meio ao cenário ainda incerto para a commodity, apesar da alta recente

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um evento bastante esperado pelo mercado, a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) acabou na última quinta-feira (3) com um acordo para que as nações integrantes da organização aumentem a sua produção em 500 mil barris por dia ao mês a partir de janeiro de 2021. Além disso, poderão ocorrer aumentos sucessivos e graduais de produção de petróleo nos meses posteriores.

A princípio, a notícia poderia parecer negativa uma vez que, no início da semana, a Opep estava inclinada a recomendar a manutenção dos cortes existentes de 7,7 milhões de barris ao dia (bpd) por até mais três meses. Com o novo acordo, a partir do mês que vem, o corte de produção será de 7,2 milhões de bpd a partir de janeiro.

Porém, ao contrário do que poderia parecer, o acordo animou os investidores. Na véspera, os preços do contrato futuro com vencimento em fevereiro do brent, valor de referência internacional da commodity, avançaram 1%, a US$ 48,71 o barril, atingindo o maior nível desde março. Enquanto isso, o petróleo dos EUA (WTI) avançou US$ 0,36, ou 0,8%, para US$ 45,64 o barril, máxima de uma semana para o fechamento. Nesta sessão, o movimento prossegue, com o brent chegando a superar os US$ 50 no início da sexta-feira e operando por volta dos US$ 49 em boa parte do dia, enquanto o WTI também registra ganhos de cerca de 1%.

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Em meio às informações sobre o acordo, os papéis da Petrobras (PETR3;PETR4) chegaram a subir 3,7% na véspera, fechando com ganhos de 2,02% para os papéis PETR3 e 2,81% para PETR4. Os ganhos se estendem nessa sessão, com os ativos também chegando a subir mais de 3%.

Mas por que a decisão de diminuir os cortes de produção – e, desse modo, elevar a oferta – influenciou positivamente os preços do petróleo?

Vale destacar que, se a Opep estava inclinada a recomendar a manutenção dos cortes de 7,7 milhões de bpd até março, a visão passou a enfrentar oposição de países aliados, liderados pela Rússia, que queriam retomar o aumento da produção à medida que os preços de petróleo começavam a se recuperar. Em março de 2020, cabe lembrar ainda, os russos protagonizaram uma guerra de preços com a Arábia Saudita que fez a cotação da commodity desabar, ficando ainda mais deprimida com a pandemia.

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Assim, aponta o Goldman Sachs, a Opep+ está eliminando o risco de sair de seus cortes de produção atuais de forma coordenada, o que reforça a convicção de uma recuperação estável e sustentável dos preços do petróleo até 2021.

Conforme ressaltam em relatório Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos, o aumento aprovado corresponde a um meio termo entre os dois lados da discussão dentro da Opep+. A elevação na produção, apontam eles, é pequena, equivalente a cerca de 0,5% da demanda global pré-pandemia de 100 milhões de barris ao dia (mbpd), o que significa um aumento modesto na oferta global.

Poderão ocorrer aumentos sucessivos e graduais de produção de petróleo nos meses posteriores; contudo, o grupo dos maiores produtores globais acordou em revisar o panorama de produção a cada mês tendo em vista o ambiente ainda incerto de demanda para a commodity dada a pandemia da Covid-19.

O Credit Suisse, por sua vez, apontou que a nova política parece mais dinâmica do que o mercado esperava. Se o consenso estimativa por uma manutenção dos cortes de 7,7 milhões de barris/dia até o final de março, com alguns esperando extensão até junho, agora os ajustes não poderão superiores a 500 mil barris por dia tanto para cima (aumento de produção) quanto para baixo (redução de produção).

No momento, aponta o Credit, o preço do petróleo está se sustentando, apesar dos fracos fundamentos de curto prazo (com estoques ainda altos e aceleração dos casos de coronavírus), impulsionado por fatores como um dólar muito mais fraco e a esperança da vacina contra a Covid-19. Por outro lado, a elevação recente da cotação de petróleo tende a diminuir a disciplina de cortes de produção dos integrantes da Opep+, como observado com as diversas discussões entre os integrantes do cartel durante a semana.

O cenário de curto prazo é nebuloso mas, conforme apontam os analistas da XP, conforme houver maior visibilidade sobre a aprovação e administração de vacinas, a expectativa é de uma retomada da demanda por derivados de petróleo com o fim de medidas de isolamento social e restrições a viagens.

“Tal recuperação de demanda deverá levar a uma alta de preços de petróleo, que acreditamos que deva se normalizar por volta da faixa de US$ 55 a US$ 60 o barril [brent], correspondente ao custo marginal de produção do petróleo de xisto nos EUA e que consideramos como produtor marginal da commodity devido à maior flexibilidade de suas operações”, avaliam os analistas da XP.

Para Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), caso o cenário otimista se confirme com a vacina, não seria uma surpresa se o petróleo chegasse a um pico entre US$ 70 e US$ 80 o barril no segundo semestre do ano que vem, operando em uma média entre US$ 55 a US$ 65 ao longo de 2021.

Ele ressalta ainda que a expectativa é que, em caso de retomada de produção, a Rússia e o Oriente Médio apareceriam na frente, uma vez que possuem petróleo mais barato e pelo fato de terem reduzido menos sua produção – a volta da produção, cabe ressaltar, não seria uniforme entre os países. Esse é um ponto, aliás, a se atentar: se a economia voltar a crescer fortemente, com um impacto correspondente na demanda, um novo desequilíbrio pode ser gerado, dessa vez levando a uma alta nas cotações.

E a Petrobras?

Nos últimos trinta pregões até a véspera, a Petrobras viu os seus papéis dispararem entre 35% (PETR4) e 37% (PETR3), em meio a um movimento de rotação dos investidores das ações que se destacaram durante a pandemia – caso de empresas de e-commerce – para os papéis de empresas que sofreram durante a fase aguda do coronavírus, como foi o caso da estatal.

Vale destacar que, no período, o movimento aconteceu principalmente por conta das perspectivas mais positivas para a demanda em meio à vacina (que pode acelerar a retomada das atividades e, consequentemente, impulsionar o consumo de combustíveis), enquanto o acordo da Opep+ apenas ajudou a impulsionar o movimento  No acumulado do ano, os papéis PETR3 ainda caem 11,73% e os PETR4 têm baixa de 14,13%.

No radar da companhia, está em destaque ainda o foco em exploração e produção de petróleo, na venda de ativos e na perspectiva de pagar dividendos robustos em breve. A companhia divulgou na semana passada seu plano de negócios para o período entre 2021-2025 e, se a princípio, os números de produção não agradaram por ficarem abaixo do esperado, a atenção à sustentabilidade financeira da Petrobras frente um crescimento de produção de petróleo a qualquer custo foi avaliada positivamente pelos investidores.

Entre os destaques, a companhia fez também uma reformulação do portfólio que passa a priorizar projetos com breakeven (ponto de equilíbrio) com preços do brent em US$ 35 o barril (versus US$ 45 a US$ 50 o barril no plano anterior).

Conforme aponta Pires, a companhia está corretamente focada no bom portfolio do pré-sal, de custo baixo e grande produtividade, em particular no campo de Búzios.

No novo plano de negócios, a companhia informou esperar trabalhar com um custo de extração de US$ 5,2 o barril de óleo equivalente (boe) entre 2021 e 2025; entre 2015 e 2019, a média foi de US$ 9 o barril.

A empresa ainda enfrenta desafios em meio à sua alta alavancagem e tem como meta chegar em 2021 com uma dívida bruta de US$ 67 bilhões, queda de 15,8% em relação à de 2020, e a estratégia da companhia em reformular o portfolio vai em linha com essa visão.

Neste sentido, o acordo da Opep+ da véspera acaba sendo positivo para a Petrobras por dar sustentação aos preços do petróleo, enquanto os investidores ficam de olho também no processo de desalavancagem da companhia (com venda de ativos e redução de custos de extração) e no cenário para a demanda com a vacina, que guiou a volta dos preços do petróleo aos níveis de março.

O aumento da produção em janeiro, que corresponde a a apenas 25% do previsto no acordo anterior da Opep+, deve manter o mercado de petróleo com déficit ao longo do primeiro trimestre, segundo cálculos da Bloomberg com base em dados da Opep. Isso significa que os estoques repletos de combustível que vinham afetando os preços de combustíveis continuarão em queda.

“Esse meio milhão de barris por dia será absorvido no mercado com muita facilidade”, disse Amrita Sen, cofundadora da Energy Aspects, em entrevista à Bloomberg TV na sexta-feira. “Isso realmente garante que o mercado não terá excesso de oferta no primeiro trimestre”, completou. As petroleiras agradecem.

(com informações da Bloomberg)

Colaboração: Priscila Yazbek

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.