Por que nem o ouro, considerado proteção contra crises, está escapando do sell-off

O preço do metal precioso caiu cerca de US$ 200 em uma semana, ou 11%. O Bitcoin, que também era visto como porto seguro, está em baixa

Rodrigo Tolotti

(Shutterstock)

Publicidade

SÃO PAULO – O pânico nos mercados financeiros está tão grande que até ativos considerados “portos seguros”, como o ouro, não estão resistindo à onda de vendas.

O metal precioso caiu cerca de US$ 200 em uma semana, ou 11%. Nesta segunda-feira (16), uma onça (medida de massa do ouro que equivale cerca de 28,3g) foi negociada a US$ 1.490, após chegar a US$ 1.456,80 nos últimos dias, seu nível mais baixo desde 27 de novembro do ano passado.

Analistas estão atribuindo esta forte queda do ouro a uma “corrida por dinheiro”, uma vez que os investidores estão abandonando quaisquer investimentos que tenham para realizar possíveis lucros e “guardando” seu dinheiro em caixa.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Estamos vendo uma busca desesperada por liquidez”, explica Fernando Ulrich, sócio da Liberta Investimentos. “O mundo inteiro está reduzindo risco, desfazendo posições em ativos mais voláteis, tentando levantar caixa”.

E este movimento, segundo ele, também ajuda a explicar a alta do dólar: “É a moeda de reserva. Quando as pessoas precisam buscar liquidez, o mundo vai atrás de dólares”.

Contra o real, a moeda americana acumula ganhos de 14% desde o dia 26 de fevereiro, quando o surto do coronavírus começou a crescer fora da China, fechando esta sessão acima dos R$ 5.

Continua depois da publicidade

O ouro chegou a subir no domingo após o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciar um corte de juros para quase zero e um pacote de estímulos à economia.

Mas estes ganhos logo se apagaram após a reação das Bolsas indicar que as medidas podem não ser suficientes para melhorar o humor dos investidores. Nesta manhã, os índices de Wall Street chegaram a cair 12%.

“Apesar da enorme liquidez que o Fed está lançando nos mercados, o ouro parece incapaz de se recuperar, pelo menos por enquanto. Estamos em um cenário em que os investidores estão vendendo o que podem e isso também afetou o ouro, provavelmente mais do que deveria”, disse Carlo Alberto De Casa, analista-chefe da ActivTrades, em nota ao site MarketWatch.

O banco suíço Julius Baer, em relatório, diz ainda que há um potencial maior de “downside” (queda) no ouro caso a economia global não entre em uma recessão, o que ainda é o cenário base dos analistas da instituição.

Além disso, os analistas do banco reforçam que a prata, que também está em queda, não segue a mesma característica de porto seguro do ouro por ter uma exposição exposição industrial muito grande. De acordo com o Julius Baer, metade da demanda por prata está relacionada a aplicações industriais.

Outro fator que pesa no ouro é a venda acelerada por parte de investidores que estão mais alavancados e precisam buscar recursos.

Com a queda das Bolsas, muitos destes investidores caem no que é conhecido como “chamada de margem”, quando o patrimônio cai abaixo do seu requisito de margem para operar, levando-os a vender ativos mais seguros para tentar cobrir o rombo.

Segundo Ulrich, o ouro é sim um “porto seguro” e tende a ser favorecido em um cenário onde as taxas de juros são zero, ou negativas, ou seja, onde o custo de oportunidade de estocar ouro é mais baixo.

“Mas, num cenário de busca insana por liquidez, que é algo muito temporário e bem pontual, aí nada se salva, nem ouro”, conclui.

O metal, porém, caiu menos que as ações na maioria dos mercados. De 26 de fevereiro, até a última sexta-feira, o Ibovespa teve uma baixa de 32,7%, o S&P 500, da Bolsa de Nova York, perdeu 23,4%, e o Dow Jones recuou 25,1%.

Bitcoin também desaba

Apesar de ser considerado por muitos analistas como uma reserva de valor, sendo chamado de “ouro digital”, o Bitcoin tem seguido a mesma tendência dos ativos tradicionais nas últimas semanas.

Desde o dia 26 de fevereiro, a maior criptomoeda do mundo acumula perdas de 49%, cotada atualmente em US$ 5.000, menor nível desde abril do ano passado.

Mesmo com discussões sobre a real utilidade do Bitcoin como um ativo de proteção, em 2019 a criptomoeda mostrava não seguir a tensão das Bolsas. Em situações como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, ou a crise com o Irã no ano passado, enquanto as bolsas caíram, o Bitcoin registrou fortes ganhos.

Mas isto mudou com o recente pânico dos investidores em meio ao surto de coronavírus. E especialistas apontam que a explicação para a queda do Bitcoin, além de ser um ativo mais volátil, é a mesma que para o ouro, ou seja, investidores buscando liquidez e evitando ficarem posicionados em qualquer ativo.

Segundo o Safiri Félix, diretor da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), as oscilações no Bitcoin são mais fortes porque os ambientes de negociação são mais espalhados, funcionam 24 horas por dia, sem paralisação, e diversas corretoras oferecem alavancagem de até 100 vezes para os clientes.

“O mercado de criptoativos já está sentindo os efeitos de primeira ordem, mas pode se beneficiar no longo prazo com as políticas coordenadas de afrouxamento monetário”, afirma o especialista citando as diversas medidas tomadas pelos banco centrais ao redor do mundo.

Na noite de domingo, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) anunciou um corte de juros para quase zero, além de um pacote de estímulos, e mesmo assim os criptoativos seguiram em queda hoje. Segundo Safiri, o cenário atual é de pânico e no curto prazo o Bitcoin deve realmente seguir pressionado.

Aproveite as oportunidades para fazer seu dinheiro render mais: abra uma conta na Clear com taxa ZERO para corretagem de ações!

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.