Por que o Banco do Brasil (BBAS3) teve a pior rentabilidade desde 2016?

Inadimplência do agro foi a vilã no balanço do 2T

Lara Rizério

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O Banco do Brasil (BBAS3) divulgou resultados que frustraram as expectativas já reduzidas do mercado, mas o que explica os números decepcionantes?

O Banco do Brasil reportou na quinta-feira lucro líquido ajustado de R$ 3,784 bilhões no segundo trimestre de 2025 (2T25), tombo de 60% ano a ano, abaixo das projeções já reduzidas do mercado. O lucro médio de projeções compiladas por analistas pela LSEG era perto de R$ 5 bilhões, mas algumas casas já haviam reduzido esses números para cerca de R$ 5 bilhões.

Desta forma, o ROE (retorno sobre patrimônio líquido) recuou para 8,2%, baixa de 7,5 pontos percentuais na base trimestral e de 12,8 pontos percentuais ano a ano, o menor patamar desde 2016 e o mais baixo entre os grandes bancos incumbentes.

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Alguns pontos explicam essa derrocada da rentabilidade do Banco do Brasil e a decepção do mercado.

Conforme destaca o Bradesco BBI, o resultado abaixo das expectativas foi explicado, principalmente, por despesas com provisões acima do esperado (13,1% maiores), devido a um cenário ainda desafiador que pressiona os indicadores de qualidade de ativos, apesar do maior crescimento da receita líquida (2,6% acima da nossa estimativa), impulsionada por spreads mais altos e despesas operacionais menores (1,6% abaixo do esperado).

Assim, o banco refletiu uma piora nas taxas de inadimplência nos segmentos de agronegócio, pessoa física e jurídica. Os resultados poderiam ter sido ainda piores não fosse o aumento das baixas contábeis durante o trimestre.

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Em relação à inadimplência de curto prazo, o segmento de agronegócio apresentou piora, passando de 4,1% para 5,5%, indicando que o terceiro trimestre provavelmente trará um custo de crédito igual ou superior aos níveis do segundo trimestre.

A XP também ressalta que o desempenho foi impulsionado quase que inteiramente pela carteira do agronegócio, impactada por atrasos generalizados nos pagamentos, um aumento acentuado nos empréstimos reestruturados e os efeitos da Resolução 4.966 sobre exposições vencidas de curto prazo.

“A inadimplência continuou a pesar significativamente, e a indicação de que julho permanece pressionado adiciona mais incerteza sobre o ponto de inflexão para a recuperação”, avalia. A presidente-executiva do BB, Tarciana Medeiros, ressaltou que o BB deve mostrar um resultado “mais estressado” no terceiro trimestre ainda em razão de operações na carteira de crédito do agronegócio, com melhora apenas no final do ano.

Outras carteiras de crédito continuaram a performar conforme o esperado, ajudando a compensar parte da pressão do agronegócio.

Em resumo, a Genial Investimentos destaca os quatro principais fatores negativos:

1. Inadimplência persistente no agronegócio, atingindo 3,49% (+0,45 ponto percentual na base trimestral e avanço de 2,17 pontos ano a ano), concentrada nas cadeias de soja e milho, sobretudo na região Centro-Oeste. Apesar de não haver quebra de safra relevante nos últimos anos, a queda acentuada dos preços e alavancagem dos clientes levou a um forte aumento nos atrasos e pedidos de recuperação judicial.

2. Aumento da inadimplência em PF e PMEs, ampliando o desafio para o banco.

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3. O custo de crédito saltou 104% ano a ano e 57% trimestralmente, atingindo R$ 15,9 bilhões, evidenciando a rapidez e magnitude da deterioração.

4. Nova Resolução 4.966, que exige reconhecimento das receitas de operações em estágio 3 pelo regime de caixa.

Agro continua?

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Em teleconferência, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, disse que a instituição, com 50% do mercado de agronegócio do Brasil, é a principal do segmento e vai continuar sendo.

As especificidades do agro no Brasil, segundo Tarciana, não têm muito paralelo no mundo. Ela contou que o banco foi fazer uma pesquisa com pares internacionais para ver se haveria casos semelhantes aos do BB, mas só encontrou algo um pouco semelhante na Holanda.

“Éramos conhecido como o banco que não protesta, não buscava garantias, isso mudou”, disse Tarciana, ressaltando que o BB também tem buscado o judiciário para resolver determinados problemas no crédito. “Vamos continuar diligentes e ainda mais próximos dos clientes”, disse a presidente do BB.

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(Com Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.