Por que as bolsas subiram mesmo com o corte surpresa de estímulos do Fed?

Para os analistas, sinal de credibilidade emitido pelo Fed e fim das especulações sobre quando teria início a redução do QE3 sustentaram o rali após o fim da reunião do Fomc

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Durante os últimos dias, os mercados operaram com cautela em relação à reunião do Federal Reserve, encerrada nesta quarta-feira (18) às 17h. A expectativa era de que a autoridade monetária dos EUA não iria trazer novidades sobre o programa de estímulos, mas o que se viu foi que a retirada gradual do QE3, prevista apenas para a partir do ano que vem, já foi anunciada nesta sessão. Mesmo assim, os investidores reagiram de forma positiva: o Ibovespa fechou com significativa alta de 0,94%, em 50.563 pontos, enquanto em Wall Street em índices Dow Jones e S&P 500 subiram mais de 1,5% e fecharam próximos de suas máximas históricas. Reforçando o apetite por risco do mercado, o rendimento dos títulos dos EUA mostrou alta e o preço dos contratos do ouro caiu, mostrando menor demanda por esses ativos considerados mais seguros.

Surge então a dúvida: se o mercado estava com “medo” da retirada de estímulos – e isso de fato aconteceu -, o que explica essa reação positiva dos investidores após a decisão anunciada pelo Fomc? Os analistas apontam dois “motivos” para essa reação controversa: 1) o sinal de confiança passado pelo Fed ao mercado ao realmente mostrar parcimônia no ritmo de retirada de estímulos; 2) a mudança de “status” do mercado, que passou da expectativa para o fato consumado – em outras palavras: é melhor a confirmação de uma má notícia do que viver a expectativa de quando ela virá – e de que forma será recebida pelo mercado.

No momento do anúncio do Fed, as bolsas nos EUA registraram perdas, mas poucos instantes depois já estavam em alta. Apesar de ter sido uma surpresa, analistas acreditam que o corte anunciado indica que o Fed irá manter sua palavra e retirar os estímulos de forma gradual, o que transmitiu certa tranquilidade para os investidores, que acreditam que o QE3 (Quantitative Easing 3) ainda deve se manter por um bom tempo. Segundo foi definido pelo comitê, o QE3 – programa mensal de compras títulos realizados pelo Federal Reserve – terá uma redução de US$ 10 bilhões no montante injetado na economia, que passará a ser de US$ 75 bilhões a partir de janeiro. Além disso, o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que as próximas retiradas serão “modestas” como esta de hoje e também reforçou que a taxa de juros dos EUA deve se manter na faixa atual – entre 0% e 0,25% ao ano – por mais tempo.

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Cai no boato, sobe no fato
A equipe de análise do Barclays Capital comenta sobre o fim das dúvidas que pairavam sobre o mercado, que viviam na expectativa de quando, quanto e como seria feita essa redução no programa de estímulos. Para eles, a decisão do Fed tira a angústia do mercado, que agora não opera mais com a dúvida sobre uma possível retirada de estímulos, mas sim com a certeza de que em janeiro serão injetados US$ 10 bilhões a menos na economia norte-americana.

Com isso, a volatilidade deverá diminuir daqui pra frente, apostam os analistas do banco britânico.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.