Por que a Suzano (SUZB3) comprou operação da Kimberly Clark Brasil (incluindo Neve) e qual o impacto para o mercado?

Companhia está focada em consolidar sua posição no mercado doméstico de tissue e aumentar sua presença geográfica de distribuição

Felipe Moreira

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A Suzano anunciou na noite de segunda-feira (24) um acordo de compra de ações com a Kimberly-Clark Brasil (KC Brasil) para adquirir seus ativos e as marcas Neve. Outras marcas globais atualmente utilizadas pela KC Brasil serão licenciadas para a Suzano, como a Kleenex. O principal ativo incluído na transação é uma planta de tissue  (usado para fazer papel higiênico e guardanapo, por exemplo), de 130 mil toneladas localizada no município de Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo. O valor da operação não foi revelado.

De forma geral, analistas avaliaram a aquisição como positiva para estratégia de crescimento da Suzano no mercado brasileiro, pois adiciona capacidade produtiva relevante e aumenta a penetração de mercado dos produtos da companhia.

“Agora, com a KC Brasil, a Suzano poderá ampliar de forma relevante sua capilaridade e exposição para a região Sudeste com marcas muito fortes, como Neve e Kleenex , além de capturar sinergias em distribuição, compras e despesas gerais e administrativas”, comenta BBI, em relatório.

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O time de análise do BBI lembra que a Suzano vem registrando sólida expansão de participação de mercado no mercado de tissue brasileiro (de 0% de participação em 2017, para 6,7% em 2019 e 11,2% em 2021) e atualmente está operando a plena capacidade (cerca de 150 mil toneladas de produção de bobinas jumbo). A participação de mercado da Suzano pode se expandir para cerca de 20% com a aquisição da KC”.

Além disso, a empresa anunciou recentemente um projeto de tissue em Aracruz (Espírito Santo), com capacidade de 60 mil toneladas (possivelmente com início em 2024).

Assim, avaliam os analistas, há um sólido desenvolvimento estratégico para a Suzano e em linha com as recentes mensagens da administração de que a empresa poderia buscar opções de crescimento orgânico ou inorgânico no mercado doméstico de tissue.

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“De fato, como mencionamos em relatório passado, pensamos que a aquisição da K-C Brasil era uma possibilidade real. O consumo per capita de tissue brasileiro continua baixo, com tendências de demanda sinalizando um crescimento estrutural atraente à frente, enquanto o mercado vem passando por uma consolidação nos últimos anos (CMPC e Suzano são players ativos)”, apontam os analistas do BBI.

Segundo Morgan Stanley, a administração da Suzano vê uma tendência premiumização  se desdobrando no Brasil nos próximos anos, com a participação de produtos premium de tissue aumentando no consumo total. “Na visão da administração, o negócio de tissue tem oportunidades interessantes de crescimento no país, já que o consumo per capita do Brasil (6kg/ano) fica abaixo de outros mercados emergentes (Chile 14kg, México 9kg).”

O Morgan destaca ainda que o mercado é muito fragmentado no Brasil (ao contrário de outros países da América Latina). Como resultado, a Suzano está focada em consolidar sua posição no mercado doméstico e aumentar sua presença geográfica de distribuição.

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Para Itaú BBA, a transação é “estrategicamente positiva, pois: i) aumenta a capacidade de tissue da Suzano em 76%, para 300 ktpa; ii) dá acesso ao mercado da região Sudeste; e iii) traz novos produtos (como lenços umedecidos) para o portfólio da Suzano”.

Com relação ao preço, a Suzano não divulgou o valor, mas o banco avalia a transação em US$ 300 milhões. “Assumindo um preço de R$ 1,060 bilhão, a intensidade de capital de R$ 8.155 a tonelada da aquisição se compara favoravelmente ao da nova planta de tissue da Suzano de R$ 10 mil a tonelada – Suzano planeja investir R$ 600 milhões na construção de uma fábrica de tissue em Aracruz” diz Morgan Stanley.

O Itaú BBA é o mais otimista com as ações da Suzano e tem recomendação outperform (equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 63, o que representa upside (potencial de valorização) de 22,5% frente a cotação de fechamento da véspera de R$ 51,42.

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Já o Morgan Stanley manteve classificação equal-weight (equivalente à neutra) e preço-alvo de R$ 60, um potencial de alta de 16,7%. Por outro lado, Bradesco BBI reiterou avaliação underperform (equivalente à venda) e preço-alvo de R$ 56, upside de 8,9%.

Na véspera, o JPMorgan havia elevado a recomendação para as ações da Suzano para equivalente à compra, o que impulsionou as ações na sessão.