Delação de Palocci envolve grandes bancos, empresas e políticos e fala em “organização criminosa do PT”

Entre as empresas, o ex-ministro cita Ambev, BTG, Itaú, Bradesco, Vale, BRF e Qualicorp, que negaram as acusações

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Nos últimos dias, ganharam destaque notícias sobre a delação na Operação Lava-Jato de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff, com nomes de algumas empresas e políticos sendo implicados.

Em reportagem desta quinta-feira (15), o jornal O Estado de S. Paulo deu mais informações sobre os depoimentos dados por Palocci à Polícia Federal. Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou a delação em 2018, ordenou que 4 bancos, 12 empresas e 12 políticos tenham supostas condutas ilícitas investigadas a partir das declarações do ex-ministro.  

Palocci afirmou, ao longo dos 23 anexos da delação, que instituições financeiras e empresas fizeram uma sucessão de pagamentos ilícitos a ele, a dirigentes do PT ou ao partido. Palocci vincula a maioria dos valores a eleições, fala em ‘organização criminosa’ do partido e aponta situações relativas a um período de pelo menos 12 anos (2002-2014).

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Entre as empresas, o ex-ministro cita Odebrecht, Ambev, Grupo Camargo Corrêa, Pão de Açúcar, Banco Safra, Casino, Instituto Lula, PAIC Participações, Votorantim, Aracruz, BTG Pactual, Grupo Parmalat, Itaú-Unibanco, Bradesco, Vale, Brasil Seguros, BNDES, Sadia-Perdigão (BRF), Qualicorp, Touchdown, OAS. 

Já entre políticos e empresários, ele menciona, além de Lula e Dilma, Fernando Haddad, Eduardo Cunha, Benjamin Steinbruch, Rubens Ommetto, Fernando Pimentel, Carlos Zarattini, Gleisi Hoffman, João Paulo Lima e Silva, Tião Viana, Lindbergh Farias, Luciano Coutinho e Delfim Netto.

Na semana passada, o jornal havia revelado trechos sobre o depoimento que ‘alude ao pagamento de vantagem indevida pela sociedade empresária Ambev ao próprio colaborador e aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, no intento de obstar a majoração tributária (PIS/Cofins) sobre bebidas alcoólicas’.

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A companhia de bebidas afirmou em nota que as alegações relatadas eram “falsas e incoerentes”. “Falsas porque nunca fizemos pagamentos de qualquer natureza para obtenção de vantagens indevidas. E incoerentes porque, desde 2015, o setor de bebidas sofreu um grande aumento da carga tributária referente a PIS/Cofins, da ordem de 60%, contradizendo tudo o que foi alegado”, afirmou. 

Sobre o Itaú Unibanco, Palocci cita, segundo o Estadão, repasse de R$ 4 milhões à campanha presidencial de Dilma para atuação da base em favor da instituição financeira. Em nota, o banco respondeu: “o Itaú Unibanco repudia a tentativa de vincular doações eleitorais feitas de forma legal a supostas condutas para atender a interesses particulares. O banco não teve acesso à delação, mas afirma que a declaração mencionada é mentirosa. Nas eleições de 2006, 2010 e 2014, o banco doou montantes iguais aos candidatos que lideravam as pesquisas de opinião, conforme consta nos registros do TSE, o que deixa claro que não houve privilégio a qualquer um dos partidos. O Itaú Unibanco lamenta que seu nome tenha sido usado indevidamente por um réu confesso que tenta obter vantagens em acordos com a Justiça.”

Já sobre a Vale, Palocci narrou o que seriam transferências ao PT “em contrapartida ao apoio do governo na defesa dos interesses do Bradesco, em especial no âmbito do conselho de administração da Vale do Rio Doce”.

No período entre 2002 a 2014, Palocci alega que foram R$ 27 milhões doados ao PT pelo Bradesco e R$ 26 milhões pela Vale. A Vale se pronunciou, afirmando que “repudia enfaticamente qualquer alegação que procure distorcer suas doações eleitorais ou questionar sua legalidade. As doações sempre foram feitas em estrita observância da legislação e com total transparência, podendo ser conferidas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).” 

Com relação ao BTG, Palocci reitera que houve repasses indevidos nos valores de (i) R$ 4 milhões sob roupagem de doação eleitoral à campanha presidencial no ano de 2006 a Lula pela atuação do governo na resolução de procedimento disciplinar contra André Esteves perante o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro. (ii) R$ 2 milhões à campanha presidencial do ano de 2010 de Dilma , em troca da atuação da base governista em prol dos interesses daquela instituição financeira. (iii) R$ 9,5 milhões entregues à campanha presidencial do ano de 2014 de Dilma para obter informação financeira privilegiada a ser concedida pelo colaborador. Além disso, aponta a criação de um fundo de investimento da instituição para gerir os recursos repassados ao PT e repasses indevidos de valores ao grupo liderado por Eduardo Cunha, no ano de 2014, para auxílio de agentes políticos na compra da empresa AMIL pelo BTG Pactual. 

Ao Estadão, o BTG Pactual afirmou que “repudia a tentativa de vinculação de doações eleitorais feitas inteiramente de acordo com a legislação em vigor, durante os ciclos eleitorais, a qualquer benefício indevido”. 

Qualicorp e BRF também foram citadas. Sobre a primeira companhia, segundo o ex-ministro, ocorreram repasses efetuados pela empresa ao PT, ao Instituto Lula e à empresa Touchdown em troca de benefícios concedidos pelo governo no âmbito da ANS. Com relação à BRF, segundo Palocci, houve um repasse de R$ 3,6 milhões ao PT realizado no ano de 2010, por meio de doação oficial, em troca de atuação do governo no processo de fusão da Sadia-Perdigão junto ao CADE.

Em nota, a Qualicorp afirmou que “é uma companhia de capital aberto, com milhares de acionistas nacionais e internacionais, e todos os seus contratos são auditados por empresas renomadas. Sua atividade é exclusivamente privada e depende da contratação voluntária de cada cliente de plano de saúde. A empresa nunca pleiteou ou obteve qualquer tipo de benefício público e jamais transgrediu a lei. A companhia não comentará supostas acusações do ex-ministro, que foram rejeitadas pelo Ministério Público Federal por ausência de base fática”.

A BRF também se pronunciou: “todas as doações eleitorais que foram realizadas pela BRF em 2010 são públicas e foram devidamente registradas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de acordo com a legislação vigente na época. A companhia é a principal interessada e colaborará sempre que requisitado pelas autoridades para que quaisquer fatos sejam esclarecidos em toda a sua profundidade e extensão.”

Palocci também deu declarações sobre a operação deflagrada pela Polícia Federal em 2009, a Castelo de Areia. Os investigadores tiveram acesso a documentos que indicavam repasses da empreiteira Camargo Correa a políticos. Contudo, o caso foi arquivado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) com argumento de que o início do inquérito teve como base em denúncia anônima.

Segundo Palocci, houve  pagamento indevido de R$ 50 milhões, por parte do Grupo Camargo Corrêa, às campanhas do PT no pleito do ano de 2010, que teve Dilma como candidata à presidência, com objetivo de obter auxílio do Governo Federal na anulação da Operação Castelo de Areia junto ao STJ. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.