Após queda, apoio a Bolsonaro fica similar ao do primeiro turno da eleição

Análise das pesquisas de Ibope e Datafolha mostra que o governo tem avaliação positiva equivalente à intenção voto do início de outubro de 2018

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – Passados 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) sofre as consequências de um movimento acelerado de perda de popularidade e distanciamento, tanto entre eleitores que decidiram apoiá-lo tardiamente durante a campanha eleitoral quanto entre seus seguidores mais fiéis.

O tropeço em praticamente todos os segmentos da sociedade levou as avaliações positivas do presidente a níveis similares às intenções de voto que ele tinha dias antes do primeiro turno, em linhas gerais e por segmentos da população.

Na ocasião, início de outubro de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro recebeu 49.277.010 votos, 46,03% dos válidos e 33,45% de todo o eleitorado registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O percentual é levemente superior ao atual patamar de avaliações positivas atribuídas ao governo.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Embora intenção de voto e avaliação de governo sejam questões distintas, o exercício da comparação oferece hipóteses interessantes sobre o comportamento do presidente e mostra como determinados segmentos da população percebem a atual gestão, de acordo com analistas políticos consultados pelo InfoMoney.

Segundo pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 2 e 3 de abril, o governo Bolsonaro é considerado “ótimo” ou “bom” por 36% dos eleitores e “ruim” ou “péssimo” por 19%. Outros 43% avaliam a gestão regular. Foi o primeiro levantamento feito pelo instituto desde que o pesselista tomou posse.

O Ibope, que fez um levantamento no primeiro mês de governo e outro em meados de março, mostrou que as classificações positivas de Bolsonaro recuaram de 49% para 34% no período. O nível de “ruim” ou “péssimo” saltou de 11% para 24%, enquanto o regular avançou 8 pontos percentuais, para 34%.

Continua depois da publicidade

Para fins de comparação, com três meses de mandato, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff carregava 56% de avaliações positivas. Tal nível caiu para 48% no sexto mês de gestão, praticamente o mesmo patamar de Bolsonaro no início de seu governo. Também é verdade que o nível de ótimo e bom da petista em março de 2015 era de apenas 12%.

Já Lula tinha 51% de avaliações positivas em seu terceiro mês de mandato. O petista só foi alcançar os 34% registrados por Bolsonaro com um ano de gestão. Sua pior marca foi 29% de ótimo e bom no quarto trimestre de 2005. Naquele período, porém, as classificações negativas do governo eram maiores: 32% de ruim ou péssimo.

“Bolsonaro é hoje um presidente de 1/3. Isso é muita coisa, é o tamanho do PT, mas são 30%. Ele perdeu a maioria que havia conquistado[nas eleições]”, observa Thomas Traumann, consultor de comunicação e pesquisador do DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas), da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Continua depois da publicidade

Um olhar mais detalhado sobre as recentes pesquisas mostra dois movimentos decisivos para a desidratação da popularidade de Bolsonaro. O primeiro desembarque naturalmente ocorreu entre os eleitores menos identificados com a pauta do presidente, que apoiaram em peso a candidatura pouco antes do segundo turno.

É o caso dos homens, grupo em que as avaliações positivas do atual governo caíram de 53% para 36%. Mergulho também se observou entre os eleitores da região Nordeste: de 42% para 23%. Nos recortes por escolaridade e renda, os maiores tombos ocorreram nos níveis mais baixos.

“Na eleição, houve muitos motivos de intenção de voto em Bolsonaro: a questão da segurança, o liberalismo de Paulo Guedes, a pauta de costumes, o antipetismo. Então, ele acabou ficando com apoio maior do que de fato teria”, pontua Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice.

Publicidade

Para o ele, tal grupo não necessariamente avaliaria positivamente o atual governo. Nesta faixa do eleitorado, o risco de descolamento seria mais elevado – movimento que se confirmou pelos números do Ibope.

Tabela 1: A popularidade de Bolsonaro entre janeiro e março

ibope1
Fonte: Ibope

Continua depois da publicidade

“O Ibope mostrou uma deterioração do apoio de Bolsonaro entre as mulheres, na faixa de renda de até 2 salários mínimos e no Nordeste. Tanto que ele anuncia o 13º do Bolsa Família visando uma recuperação destes públicos em que perdeu espaço”, pontua Borenstein.

Dados mais recentes do Datafolha mostram com maior precisão o impacto de uma segunda onda, que começa a atingir fileiras dos seguidores mais fiéis do presidente – caso de eleitores com níveis mais elevados de escolaridade (-19%) e renda (-21%) e de quem vive nas regiões Sudeste (-39%) e Sul (-32%).

A tabela abaixo compara o nível “ótimo” e “bom” atribuído ao presidente no levantamento mais recente por segmentos da população com as intenções de voto registradas em pesquisas feitas pelo mesmo instituto em três momentos da eleição: início da campanha; primeiro turno; e segundo turno.

Publicidade

Tabela 2: O desempenho de Bolsonaro por segmento da sociedade, da eleição aos 100 dias de governo

datafolha1
Fonte: Datafolha
* As regiões Norte e Centro-oeste foram excluídas do levantamento por aparecerem conjuntamente nas pesquisas de avaliação de governo (amostra menor) e separadamente nas pesquisas de intenção de voto.

“No primeiro turno, era um eleitorado mais bolsonarista de fato, e no segundo, os agregados que optaram por ele para não voltar o PT. Há uma diferença maior no segundo turno [em relação ao atual momento] do que no primeiro”, observa Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.

Para ele, o presidente caminha para patamares próximos ao que tinha na primeira ida às urnas. “Bolsonaro encolheu. Mas é cedo dizer que ele não conseguirá reverter esse o encolhimento, ou, pior ainda, que continuará encolhendo”, pondera o especialista.

Já Leopoldo Vieira, analista político da consultoria Idealpolitik, acredita ser possível que a tendência de queda na popularidade de Bolsonaro continue nas próximas pesquisas.

O peso da economia que não decola

Na avaliação de Vieira, há uma série de elementos que justificam a desidratação de Bolsonaro. Um deles seria a intensa polarização política que marca o início da atual gestão, que deixa parte da sociedade mais pré-disposta a desaprovar o governo, apesar de demonstrações de boa vontade ao final do processo eleitoral.

A persistência de um quadro negativo para indicadores econômicos e sociais, diz Vieira, também produz impactos sobre a avaliação de Bolsonaro, sobretudo entre camadas de menor renda, que em parte passou por uma desilusão com o PT mas espera resultados práticos do novo governo.

Já do lado da base ideológica do presidente, que também erodiu, pode haver uma percepção de que a pauta dos costumes ainda não saiu do discurso para a prática. Além disso, casos envolvendo campanhas eleitorais de candidatos do PSL, partido de Bolsonaro, acusações contra ministros e investigações contra um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), potencializam o efeito.

“A maior parte dos eleitores de Bolsonaro votou contra a corrupção e, nem bem saiu o resultado das urnas, o futuro governo já fora atingido por denúncias. Eles não vão aderir imediatamente à oposição, mas nem por isso vão declarar às pesquisas que estão contentes. Um pouco como com Temer, em muito menor escala, porque a desidratação não foi tão grande e o governo se equilibra jogando no desgaste do Legislativo e no rechaço das práticas do presidencialismo de coalizão”, ressalta Vieira.

O cálculo político de Bolsonaro

Os números das pesquisas podem motivar uma estratégia defensiva de Bolsonaro.

“A tática 1 seria parar de sangrar”, diz Traumann. Para isso, ele acredita que o governo deve concentrar esforços em manter a base bolsonarista coesa.

“Mas não se consegue andar além disso com ela. É bom para manter o governo vivo, mas ele vai precisar de apoios extra-base para passar uma reforma da Previdência, por exemplo. Ele ainda está na fase de acentuar divergências, e não gerar convergência”, complementa.

A efetividade de tal estratégia não é consenso entre os analistas. “Seria um erro focar nos bolsonaristas, porque são minoritários. Essa turma são os 15% que aderiram logo no início da campanha. Podem fazer barulho, mas não sustentam”, contrapõe Ribeiro.

Mesmo com o atual tombo, Bolsonaro continua significativamente maior do que iniciou a campanha eleitoral. Em janeiro do ano passado, o então candidato tinha 19% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

Naquele momento, seus pilares de sustentação eram eleitores do sexo masculino (25%); jovens com idade entre 16 e 24 anos (29%) ou 25 a 34 anos (25%); Ensino Médio (24%) ou Superior (25%) completos; e das regiões Sudeste (22%) e Sul (21%).

Este pode ser um sinal de virtude ou uma indicação de que há mais espaço para perder nos próximos meses.

Tabela 3: Variação de Bolsonaro entre pré-campanha e início de governo

bolsonaro
Fonte: Datafolha

Insira seu e-mail abaixo e receba com exclusividade o Barômetro do Poder, um estudo mensal do InfoMoney com avaliações e projeções das principais casas de análise política do país:

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.