Para mercado financeiro, votação da reforma da Previdência deve demorar mais que o esperado

A maioria dos investidores acredita que a proposta só será analisada na Câmara dos Deputados no segundo semestre. Mas atribui grandes chances de ela ser aprovada 

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A turbulência política que envolveu o governo do presidente Jair Bolsonaro não mudou radicalmente o otimismo dos investidores com relação às chances de aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano nem do impacto fiscal esperado para a versão final do texto. Mas têm levado mais profissionais do mercado financeiro a acreditar que a proposta levará mais tempo para ser analisada pelo Congresso. 

Esse sentimento foi captado por um sondagem feita pela XP Investimentos. Segundo o levantamento, que ouviu 104 investidores institucionais (público formado por gestores de recursos, economistas e consultores) entre os dias 3 e 5 de abril, a probabilidade atribuída à aprovação da reforma é de 80%, mesmo percentual registrado em março.

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A expectativa média de economia gerada em dez anos com a proposta é de R$ 700 bilhões, o que representa uma desidratação de R$ 465 bilhões da versão original e R$ 300 bilhões em relação ao objetivo apontado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para o início de uma transição para o regime de capitalização. O número é o mesmo de um mês atrás.

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Para a maioria dos investidores entrevistados (61%), a reforma previdenciária só será aprovada no plenário da Câmara dos Deputados no segundo semestre, após o recesso parlamentar de julho. Em fevereiro, 59% acreditavam que o fim da tramitação aconteceria até o meio do ano, em linha com o que projeta o governo.

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Desta forma, cresceram as apostas de que a conclusão de todas as votações da PEC nas duas casas legislativas ocorra apenas no quarto trimestre. Vale lembrar que, por se tratar de emenda constitucional, é necessário que o texto passe por dois turnos de votação no plenário de cada casa, com necessidade de apoio mínimo de 3/5 dos parlamentares (308 deputados e 49 senadores) – isso depois de passar pelas respectivas comissões.

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Na ponta do lápis

Os investidores também foram ouvidos sobre as projeções para os principais indicadores do mercado dependendo do futuro da reforma. Se o texto for aprovado tal qual apresentado pelo governo, as expectativas são de que o dólar caia para R$ 3,50 (10% em comparação com o atual patamar), a taxa Selic vá para 6% ao ano (corte de 25 pontos-base) e o Ibovespa chegue a 120 mil pontos (alta de 24%).

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Tal possibilidade, contudo, é considerada remota. No meio político, a retirada de mudanças nas regras para a concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e deficientes de baixa renda, e das aposentadorias rurais já é dada como certa. Além disso, o fato de o governo ter encaminhado um texto mais brando para os militares provocou uma redução na expectativa de economia de R$ 81,9 bilhões em dez anos.

Caso seja aprovada uma reforma com impacto fiscal de R$ 580 bilhões, os investidores projetam dólar a R$ 3,75 (queda de 3%), Selic estável a 6,5% e Ibovespa a 105 mil pontos (alta de 8%).

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Fim da ‘lua de mel’

A despeito da manutenção da confiança na aprovação da reforma da Previdência no parlamento, o levantamento captou uma drástica mudança no humor dos investidores em relação ao governo Bolsonaro. Próximo de completar 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro agora conta com apenas 28% de avaliações positivas (“ótimo” ou “bom”).

O resultado corresponde a uma queda de 42 pontos percentuais em comparação com fevereiro e 58 p.p. ante janeiro. Já as avaliações negativas (“ruim” ou “péssimo”) saltaram de 1% para 24% de janeiro para cá.

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Deterioração também se observa nas expectativas do mercado com o futuro do governo. Neste caso, as expectativas recuaram de 86% em janeiro e fevereiro para 60% em abril. Já as projeções negativas subiram de 2% em fevereiro para atuais 13%. O nível regular, por sua vez, chegou a 28%, 16 p.p. a mais do que no levantamento anterior.

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O mau humor dos investidores com a política também se reflete nas avaliações sobre o Congresso Nacional. Segundo a sondagem da XP, 40% consideram a instituição ruim ou péssima, ante 21% registrados no mês anterior. Em dezembro, porém, o número estava em 63%. Já os que avaliam o parlamento como ótimo ou bom agora somam 15%, 2 p.p. a mais do que o resultado de dezembro e metade do registrado em fevereiro.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.