Clima entre Bolsonaro e Congresso ainda não está pacificado, e pressão antipolítica deve persistir

Apesar de o discurso ser de "página virada", fatores que provocaram crise recente se mantêm no horizonte e deverão testar habilidade política do presidente

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – A trégua selada entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o parlamento, na figura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deverá ser testada ao longo da semana, tendo em vista a pauta do plenário e o andamento da reforma da previdência na casa legislativa, com a realização de audiência pública com o ministro Paulo Guedes (Economia) na próxima quarta-feira (3).

Apesar das indicações de que a página da crise teria sido virada, conhecidos pontos de tensão permanecem no ar. Essa é a leitura que faz o cientista político Carlos Melo, professor do Insper. O especialista participou do programa Conexão Brasília da última sexta-feira (29). Assista à íntegra pelo vídeo acima.

Para ele, Bolsonaro seguirá pressionado por sua base nas redes sociais a avançar sobre o que tem chamado de “velha política”, além de ter que arbitrar difíceis embates em sua base de sustentação, formada por reformistas e grupos contrários a termos da proposta com mudanças no atual sistema de aposentadorias.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Ainda existem tensões que não vão sumir de uma hora para outra. Independentemente da vontade do presidente ou de sua disposição em se conter ou não, as redes sociais continuam operando e o pressionam. Ele tem uma relação visceral com as redes sociais e seu público quer ouvir a negação da política. Se ele vai falar ou não, é outra história, mas a demanda persiste”, observou.

Por outro lado, o governo enfrenta como um de seus maiores adversários à atual agenda legislativa proposta grupos presentes em sua própria base aliada, que participaram de sua vitória nas urnas. É o caso de policiais militares e categorias de servidores públicos, conhecidas por forte capacidade de pressão.

“Não é que Jair Bolsonaro tem ao seu lado um bloco pró-reforma e uma oposição anti-reforma. Na verdade, ele tem um bloco fragmentado entre pró e contra a reforma. A pressão se dá dentro de casa. Enfrentar a oposição é muito simples. Agora, enfrentar a dissidência interna, os próprios aliados, é muito mais complicado. Há ali cumplicidades, acordos, pactos que não são fáceis de se romper”, completou.

Continua depois da publicidade

Para Melo, Bolsonaro erra ao insistir na divisão da política entre “nova” e “velha” e na terceirização da responsabilidade pela formação de base para aprovar sua agenda legislativa. O especialista diz que o presidente costuma ser o principal articulador político das democracias, sendo responsável por conciliar interesses, não por aprofundar divisões.

“Essa visão do presidente se baseia em um senso comum, que, a bem da política, precisa ser qualificado. A política pressupõe persuasão, que pode ser uma negociação de interesses, mas também um convencimento de que este caminho é melhor que aquele. Articular não é algo necessariamente negativo. Pelo contrário, é necessário. Agora, se houver alguém que esteja achacando ou propondo algo inescrupuloso, que venha à luz do dia”, pontuou.

“Essa narrativa [antipolítica] é ruim, porque simplesmente visa desprezar a atividade política. E isso significa desprezar o regime democrático. É um risco sério. Nós podemos ter a reforma da previdência aprovada – e ela é importante –, mas podemos perder a própria ideia de democracia”, alertou o cientista político.

Para ele, os impasses atuais se devem muito pela falta de lideranças na cena política atual. A elevada taxa de renovação provocada pelas últimas eleições impõem um desafio adicional para o quadro. Boa parte dos nomes que assumem protagonismo nesta nova gestão não têm relevante experiência na cena política e serão testados com pautas ousadas.

“Pensando objetivamente, falta experiência. Então, você olha para isso com muita desconfiança. São atores ainda muito novos e que serão testados nesse processo. É o custo que vamos pagar por uma renovação política que não se deu, mas está se dando. Vamos levar algumas eleições para ter essa transição construída e a consolidação de novas lideranças”, concluiu o professor.

Você também pode conferir o Conexão Brasília também pelo Spotify. Para escutar, clique aqui, ou faça o download pelo player abaixo:

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.