Crise na Venezuela, OCDE e Otan: os destaques do encontro entre Bolsonaro e Trump nos EUA

Reunião indica maior alinhamento de Brasília com Washington em comparação com governos anteriores e dá sinalizações sobre encaminhamentos em questões geopolíticas e comerciais delicadas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – No terceiro dia da viagem oficial aos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) encontrou-se com o mandatário norte-americano Donald Trump na Casa Branca, em Washington. Entre os assuntos mais discutidos, ganhou destaque a crise na Venezuela, a solicitação do Brasil para integrar a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), estreitamento de relações comerciais e militares e um acordo militar envolvendo a base de Alcântara no Maranhão. Confira os detalhes de cada ponto:

Venezuela

O presidente Donald Trump disse que “todas as opções” para uma resolução da situação venezuelana estão à mesa, mas admitiu que Brasil e EUA têm “opções diferentes” e precisam conversar sobre o assunto.

“Eu sei exatamente o que quero que aconteça na Venezuela, vamos conversar sobre elas. Todas as opções estão sobre a mesa. É uma vergonha o que está acontecendo na Venezuela, toda a crise e fome, vamos falar sobre isso em profundidade”, disse.

Segundo Trump, ainda não foram impostas sanções mais rígidas contra o governo de Nicolás Maduro. Os norte-americanos deverão monitorar os desdobramentos da crise em Caracas antes de decidir posturas a tomar. Ele elogiou o governo brasileiro por reconhecer Juan Guaidó como presidente interino legítimo venezuelano.

Já Bolsonaro disse que discutiu a possibilidade de o Brasil entrar como aliado extra-OTAN e que poderia atuar estocando alimentos em Boa Vista para ajuda humanitária. Quanto à questão específica da possibilidade de uma intervenção militar, o presidente brasileiro disse que o assunto precisava ser mantido em sigilo.

“Não podemos dizer se se vamos falar ou se já falamos disso”, afirmou. “Tem certas questões que, se você divulgar, deixam de ser estratégicas”. Antes, Bolsonaro havia dito em entrevista à emissora Fox News que há limites para a atuação brasileira contra Maduro, dando a entender que a via militar estava descartada.

OCDE

No encontro, Trump também disse que apoia os esforços do Brasil para integrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. “Estou apoiando os esforços deles [brasileiros] para entrar [na OCDE]“, disse ao lado de Bolsonaro. Não foram dados mais detalhes.

O ingresso na organização pode ajudar na construção de uma imagem mais favorável ao ambiente de negócios no Brasil, atraindo investimentos internacionais relevantes ao país.

A posição norte-americana era um dos entraves para o ingresso brasileiro na OCDE. Analistas eram céticos sobre a possibilidade de uma manifestação favorável à solicitação brasileira de 2017 por Trump no encontro desta terça-feira, o que acabou acontecendo. 

Otan

O presidente norte-americano também sinalizou maior proximidade entre o Brasil e a Otan (Tratado do Atlântico Norte), organização militar comum de defesa, com 28 países-membros, capitaneada por Washington.

Segundo ele, a ideia seria o Brasil desempenhar papel de aliado especial fora do grupo, o que poderia avançar para posições mais relevantes. “Temos um aliado especial fora da Otan. E quem sabe dentro da Otan”, disse.

Trump também falou em trabalhos conjuntos dos dois países para “proteger o povo do terrorismo do crime transnacional e do tráfico de drogas, armas e pessoas”.

“Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como grande aliado extra-Otan (que não faz parte oficialmente do grupo de países)”, afirmou Bolsonaro. A possibilidade de ganho de relevância brasileira nesta situação ocorre no contexto da crise venezuelana.

Bilateralismo

“O Brasil e os Estados Unidos nunca tiveram tão próximos quanto estão agora”, afirmou Trump. Na coletiva de imprensa, Bolsonaro disse que seu governo representava uma ruptura em uma sequência de presidentes antiamericanos eleitos no Brasil.

“O Brasil mudou a partir de 2019. E obviamente temos muito a conversar, muita coisa a oferecer um para o outro para o bem dos nossos povos”, disse. “Temos muito em comum com o senhor Donald Trump e isso, para mim, é motivo de orgulho e satisfação. Ele quer uma América grande, como eu quero um Brasil grande também”.

Em alguns momentos o reforço das negociações para avançar parcerias nas áreas de segurança militar, comércio e tecnologia foram destacados, sem maiores detalhes.

Base de Alcântara

Um dos acordos firmados durante a viagem, que trata de salvaguardas tecnológicas para permitir o uso comercial do centro de lançamento de Alcântara, no Maranhão, também foi assunto da coletiva de imprensa. Segundo Trump, o local é “ideal para o lançamento de foguetes” e ajudará os EUA. “Economizaremos dinheiro com isso”, disse o presidente norte-americano. Já o governo brasileiro argumenta que o acordo poderá trazer recursos para o país e o Maranhão e não haveria desrespeito à soberania nacional.

(com Agência Brasil)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.