Quais os sinais do “discurso relâmpago” de Bolsonaro no Fórum Econômico em Davos? 5 analistas respondem

Compromisso com agenda de reformas, abertura comercial, combate à corrupção e recuperação da credibilidade do país junto ao mercado global foram alguns dos temas abordados pelo presidente em sua fala

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A estreia do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em solo internacional contou com um discurso de pouco mais de 6 minutos à elite financeira e política no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O compromisso com uma agenda de reformas, a abertura comercial do Brasil, o combate à corrupção e a recuperação da credibilidade foram alguns dos temas abordados na breve fala do mandatário.

Para analistas políticos consultados pelo InfoMoney, a fala de Bolsonaro veio em linha com o que se esperava, mas representou uma perda de oportunidade do governo, que poderia ter apresentado detalhes sobre sua agenda – sobretudo a reforma da Previdência, que apenas apareceu em entrevista concedida após o discurso, sem novidades.

Eis um resumo dos principais pontos destacados:

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Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria Integrada
É possível observar dois objetivos principais na fala de Bolsonaro: 1) o reforço de legitimidade, da vitória de nas urnas, em função da associação quase natural do governo com a emergência de líderes nacionalistas de direita pelo mundo; 2) busca por credibilidade, diante da necessidade de o Brasil atrair poupança externa, para retomar a atividade econômica, e em um contexto de ineditismo de sua vitória e ausência de um histórico que pudesse sugerir sua agenda econômica. Indicou segurança jurídica, abertura comercial etc.

Foi um discurso pouco ambicioso, marcado por certa moderação, sobretudo em alguns debates caros domesticamente, e de relativa contraposição à imagem de nacionalista que aparece em alguns setores do governo. A fala em Davos também traz uma característica comum a discursos proferidos no âmbito doméstico: o caráter eleitoral ainda muito forte. É mais uma demonstração de que o presidente não pratica o estelionato eleitoral, mas, ao trazer esses elementos (da campanha), mostra limitação. É um discurso que não está ajustada a certas práticas e que não responde a incertezas, como em relação aos detalhes da agenda de reformas e os riscos de sua aprovação.

Dado o fato de a oratória e a agenda econômica não serem o habitat do presidente, é natural que ele não desenvolvesse em sua fala referência e informações mais pormenorizadas. Em linhas gerais, o discurso, apesar de pouco ambicioso, é correto por tratar de melhoria do ambiente de negócios, agenda microeconômica e reformas, mas não traz nenhuma novidade, assim como não traduz riscos reais que o Brasil também oferece em termos de implementação de agenda.

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Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores
O ponto a destacar é a frustração com alguma sinalização mais forte sobre o conteúdo da reforma da Previdência. Em uma situação normal, não se esperaria que Bolsonaro ou qualquer outro presidente tratasse disso em um discurso em Davos, mas criou-se uma enorme expectativa do mercado em relação ao tema.

Não é algo capaz de mudar o humor do mercado drasticamente, mas houve certa frustração com a superficialidade do discurso e também com o fato de ter sido muito curto. Foi um discurso meio vazio. Não foi um desastre, mas perdeu uma oportunidade.

Bolsonaro ainda está devendo uma palavra mais assertiva sobre o conteúdo da reforma da Previdência. Essa cobrança vai continuar, o mercado vai continuar nessa expectativa. Isso está sendo adiado, mas ele não pode demorar muito mais. Daqui a 10 dias, o Congresso está aí.

Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice
Ficou dentro do esperado. O não detalhamento da agenda de reformas também era imaginado, uma vez que quem está respondendo pelo tema é Paulo Guedes (Economia) e já que nem para líderes partidários foi apresentado um esboço da reforma previdenciária, por exemplo.

De um modo geral, a fala foi uma sinalização positiva aos investidores, indicando compromisso com as reformas econômicas, em que pese o fato de que poderia ter aproveitado mais a oportunidade de apresentar mais informações.

Os ataques à esquerda também estão na agenda não só de Bolsonaro como do próprio chanceler Ernesto Araújo, de inflexão da política externa à direita. Se observarmos a situação da América do Sul, com exceção da Bolívia e da Venezuela, de um modo geral, a balança de poder está se inclinando para a direita. Então, a agenda de Bolsonaro não tende a trazer prejuízo. É uma conjuntura muito diferente da que Lula viveu.

Fábio Lobato, consultor de relações governamentais da Barral M Jorge Consultores Associados
O discurso de Bolsonaro era bastante aguardado mas não foi surpreendente. Havia uma pequena possibilidade de a fala conter o anúncio de planos mais objetivos para os problemas mais relevantes que afetam o Brasil (principalmente a questão da previdência). Mas o Presidente preferiu seguir sua linha usual e apenas abordar os principais temas de forma superficial. Importante lembrar, também, que haverá outras oportunidade para que o ministro Paulo Guedes, que integra a comitiva brasileira, possa detalhar aos participantes as ideias econômicas do governo.

Por outro lado, foi uma importante oportunidade para o presidente se apresentar internacionalmente já que busca o incremento de investimentos estrangeiros no Brasil, sendo o primeiro chefe de Estado da América Latina a discursar na abertura do fórum. Nesse ponto, o discurso foi importante para deixar claro como pensa sobre temas cruciais, tais como: reformas econômicas necessárias; preservação ambiental e desenvolvimento econômico; segurança pública e as ações anticorrupção, sempre focando na segurança jurídica e num novo ambiente de negócios com menor carga tributária e estabilidade macroeconômica.

O discurso não foi ruim para a imagem do Brasil. Porém, o presidente perdeu uma excelente oportunidade de se aprofundar em temas sensíveis e tentar, de fato, convencer os ouvintes de que o Brasil está em um novo rumo de recuperação econômica. O ponto é que, ao deixar de aproveitar essa oportunidade (ele usou apenas um terço do tempo disponível), alguns possíveis investidores podem não levar o discurso tão a sério e considerá-lo apenas como uma fala de campanha eleitoral.

Em suma, Bolsonaro não pecou em seu discurso, mas deixou passar uma valiosa oportunidade de se comunicar, com propriedade e objetividade, com uma sedenta e relevante plateia internacional, sendo, inclusive, pouco aplaudido ao final.

Leopoldo Vieira, analista político da Idealpolitik
A participação de Bolsonaro, do ministro da Economia Paulo Guedes e do ministro da Justiça Sérgio Moro no Fórum Econômico de Davos era a grande agenda política da semana. Qual imagem ficaria do governo brasileiro: reformista e aberto ou um risco à ordem global? Dependeria muito do quanto conseguisse passar de credibilidade em sua agenda econômica e fiscal e na agenda anticorrupção.

Bolsonaro foi vago. Do tipo: ‘relaxa que não sou um estatista nem um perigo ambiental’. Comprometeu-se com as reformas – sem destacar a da Previdência –, com redução de impostos e do tamanho e do peso do Estado, sem, no entanto, apresentar propostas concretas. Não o fez nem mesmo quando defendeu reformar o Mercoul. Em relação ao meio ambiente, a generalidade com que rechaçou qualquer negligência com desmatamentos, emissão de CO2 etc. manteve a dúvida sobre o inverso.

Em resumo, o presidente não usou a tribuna em Davos para mandar qualquer sinal contundente sobre os temas que o aguardam no Brasil (talvez só de que não se curvará ao “jogo de Brasília” quando exaltou a composição não político-partidária de seu ministério) e nem para entusiasmar os agentes ali presentes a virem já apostar no País. Parece não haver mais dúvidas quanto à vontade liberal do capitão na economia. Pode haver em relação à estabilidade institucional e, portanto, do ambiente de negócios, por causa da crescente monta de acusações contra seu filho e futuro senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Então, por que o presidente usou a tribuna? Para tentar se colocar como uma liderança da direita global, quando defendeu como “bom” o avanço destas contra a esquerda na América Latina e ao redor do mundo. Cabe ver os dividendos reais disso no comércio internacional. Bolsonaro sabe que não há projeto político sem retaguarda econômica.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.