Desgaste de Bolsonaro com ‘caso Coaf’ depende mais da política do que da Justiça

Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, se as primeiras movimentações políticas do novo governo surtirem efeito, questões delicadas tendem a ir para o "freezer" de Brasília

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A despeito das turbulências provocadas por acusações contra nomes relevantes do futuro governo, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) conta com uma boa vontade inicial para seus primeiros meses no comando do país. A longevidade deste período e o que virá em termos de sustentação política à frente, contudo, depende de uma equação de acertos e erros a serem cometidos durante o mandato.

Essa é a leitura que faz o cientista político Carlos Melo, professor do Insper. Para ele, o recente caso envolvendo as contas do policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do novo presidente, pode ter proporções distintas a depender da temperatura de Brasília. O especialista acredita que, neste caso, apesar da importância de se conhecer os detalhes do caso, a Política pode se sobrepor ao Direito.

“Esses casos são importantes? Depende, porque a questão não é só jurídica. Se tudo der certo e funcionar bem, a relação do Executivo com o Legislativo [for positiva], começar a fazer as reformas, essas questões desaparecem ou acabam sendo guardadas em um freezer para serem usadas ou não lá na frente em um momento de desgaste. Agora, se tudo der errado, pingo vira letra e elas acabam tendo centralidade. Anular as questões desse desgaste pré-posse vai depender muito do desempenho do governo nos primeiros meses”, afirmou.

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Carlos Melo participou do programa Conexão Brasília da última sexta-feira (14). Veja íntegra pelo vídeo acima.

Para o especialista, o momento é de trégua e boa vontade de parcela importante da sociedade com o novo governo, após um longo período de fervura política. “Mas o governo se propõe a ser diferente dos outros e não fazer uma política como fizeram, para o bem e para o mal. No que diz respeito à relação com o Congresso, se der certo, a gente vai falar daqui a uns anos que foi uma revolução, um salto de qualidade extraordinário”, observou.

“O grande problema é que para dar certo é muito penoso, vai ser uma guerra. O Congresso passa por uma renovação nominal de 52%, mas metade permanece com a mesma cabeça. Dos que vêm, muita gente retorna com a mesma cabeça que tinha no passado e uma prática que se estabeleceu na relação do Executivo com o Legislativo. Há 20% que são novos de primeiro mandato. Ainda assim, entre eles há muita gente que foi deputado estadual, vereador, secretário ou parente de político tradicional. Vamos ter que ver se houve uma renovação de mentalidade, o que não sabemos. Há uma queda de braço”, complementou Melo.

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O primeiro grande teste do novo governo e seu modelo ousado de articulação política se dará nas eleições para o comando das casas legislativas. “Esse processo é muito delicado e vai contar muito se houve ou não acerto nessa nova postura. Vai contar muito para sabermos se Bolsonaro vai em frente em sua determinação de mudar a relação ou se vai se conter”, explicou.

E é justamente no campo da coordenação política e formação de uma base sólida no parlamento onde residem as principais dúvidas sobre a próxima gestão. A duas semanas da posse, pouco se sabe sobre as armas de Bolsonaro. “Na eleição, muitos operadores com habilidade perderam e vão fazer falta. Quem vai fazer esse papel? Estamos a menos de 20 dias da posse e não sabemos quem são esses operadores”.

Na leitura do professor, apesar dos esforços de Bolsonaro no sentido contrário, os partidos continuarão desempenhando função indispensável no processo político nacional. Afinal, são eles que definem a composição das comissões, a relatoria de pautas relevantes, a apresentação de destaques, a distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral.

Além disso, pouco se tem falado de naturais conflitos de interesses entre bancadas temáticas. “Não há alinhamento automático. Como a bancada evangélica se posiciona em relação à reforma tributária no que diz respeito, por exemplo, às igrejas? E se eu defender esse privilégio para mim, como fica a isenção dos clubes de futebol? E como fica a questão dos incentivos fiscais ao agronegócio? Quando um parlamentar representa uma bancada, ele tem duas funções: lutar por avanços e proteger seus interesses”, explicou.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.