O Paulo Guedes que ninguém conhece

O ministro da Fazenda de Bolsonaro foi meu chefe por seis anos. Isso é o que aprendi sobre ele

Equipe InfoMoney

(Fabio Rodrigues Pozzebom)

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*por Rodrigo Constantino

No mundo acadêmico dos economistas e no mercado financeiro, Paulo Guedes já era um nome bastante conhecido e respeitado. De uns tempos para cá, porém, Guedes se tornou nacionalmente famoso, e muitos querem conhecê-lo melhor.

Como alguém que trabalhou sob sua chefia por seis anos, eis meu objetivo aqui: apresenta-lo aos leitores, com um prisma um tanto pessoal.

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Tenho o maior respeito e admiração pelo Paulo. Suas credenciais acadêmicas dispensam comentários: ele é doutor pela Universidade de Chicago, a casa de Milton Friedman, a maior máquina de prêmios Nobel na área.

Em Chicago, o doutorando precisa passar por um intenso processo de aprendizagem matemática e estatística, instrumentos indispensáveis para a boa prática econômica, para análises mais “parrudas”.

Há quem prefira ficar em “achismos”, em teorias abstratas, em ideologias, e há aqueles que tentam levar a ciência econômica mais a sério, ainda que reconhecendo os limites das ferramentas estatísticas, que ainda necessitam das boas teorias. O segundo time vem de Chicago.

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Paulo retornou ao Brasil, então, com uma bagagem intelectual completamente acima da média de seus pares. Certa vez resumiu a situação usando uma metáfora: é como alguém afogado em esterco, que finalmente consegue colocar a cabeça para fora. No mesmo momento, o cheiro insuportável se torna perceptível.

Os economistas brasileiros estavam presos em suas bolhas cognitivas, com teorias ultrapassadas, quase todas com viés de esquerda e estatizante, sem se dar conta do fedor.

O debate era muito pobre no país: ainda acreditavam em congelamento de preço, inflação inercial, protecionismo comercial etc. Paulo enxergava o óbvio, mas era ridicularizado por seus colegas, a maioria formada por tucanos.

Foi, então, dar aulas, incluindo matemática, e resolveu empreender, enquanto aqueles que desprezavam seu conhecimento técnico pulavam de plano em plano de governo, todos fracassados.

Foi aí que o jovem economista, com o ideal de contribuir para a melhora do Brasil, ajudou a fundar o Banco Pactual, ao lado de nomes como Luiz Cezar Fernandes, André Jakurski e Renato Bromfman. O sucesso do negócio foi estrondoso, e ajudou a fazer de seus sócios homens muito ricos.

O Pactual sempre foi referência de excelência, meritocracia e trabalho duro, tendo que superar uma crescente concorrência. Eram tempos de mercado de capitais bem menos desenvolvido no país, e sua própria evolução é indissociável do esforço de bancos como o Pactual.

Por divergências internas, tanto Jakurski como Guedes decidiram sair da sociedade, e fundaram a JGP, uma gestora de recursos. Vários funcionários e sócios menores trocaram o Pactual pela nova empresa, e foi nesse momento que eu surgi em cena. Fui contratado pela JGP meses após sua origem, e seu DNA era o mesmo do antigo Pactual. Muita ralação, dedicação total, e foco na meritocracia.

Fui analista de empresas e depois gestor, sempre abaixo de Paulo Guedes. Foi ele, inclusive, quem me recomendou a leitura dos economistas austríacos, como já confessei em livro sobre o assunto. Ou seja, apesar de formado em Chicago, Guedes tinha a mente aberta para absorver o que há de melhor em outras escolas, e foi graças a ele que tomei conhecimento de gênios como Mises e Hayek.

Após um dia estafante de trabalho, sob muita pressão e estresse, era comum alguém fazer alguma pergunta teórica para o Paulo, e ele sempre se mostrava muito solícito.

Formava-se então um pequeno grupo dos mais curiosos em torno dele, e a resposta frequentemente se transformava em palestra, em debate, numa verdadeira aula! Foram várias noites assim, e só posso agradecer pela disponibilidade de um professor tão destacado.

Paulo é um devorador de livros, e não só de economia: ele lê muita história, e tem uma cultura geral impressionante. Os elos que fazia entre momentos distintos da história, seu poder de síntese, tudo isso era fascinante, e sinto saudades daquelas noites – mais produtivas do que meu MBA de Finanças.

E por falar nisso, fiz meu MBA no Ibmec, que também nos remete ao dom empreendedor de Guedes. Quando ele assumiu o controle da instituição de ensino ao lado de Claudio Haddad (não confundir com o petista, especializado em regime soviético, jamais em empreendedorismo), o Ibmec não era nem de longe a referência que se tornou depois.

Sob seu comando, o Ibmec se transformou na escola de ponta do país, atraindo os melhores talentos como alunos. Paulo sonhava em criar o “Bradesco do ensino”, e divergências estratégicas acabaram rompendo a sociedade.

Mas o sonho continuaria vivo, e foi testado uma vez mais – novamente com sucesso – quando Paulo se aventurou no private equity, focando justamente na área da educação.

O negócio de maior destaque foi com a Abril Educação, e os fundos geridos por Guedes tiveram excelente retorno para seus investidores, bem acima da média. Isso era conquistado ao mesmo tempo em que o Brasil ganhava com instituições de ensino mais sólidas e competitivas, preparando melhor as próximas gerações.

Aliás, é típico da mentalidade esquerdista achar que o lucro e o progresso são antagônicos, enquanto a verdade é justamente o contrário: um não existe sem o outro. Paulo, como um liberal clássico, entende bem isso, e sempre quis ajudar a fomentar o mercado de capitais no Brasil, por entender sua importância no avanço da economia.

Defensor do modelo de privatizações de Thatcher no Reino Unido, ele compreende a vantagem de atrair o povo para o capitalismo, tornando-o sócio do crescimento da riqueza nacional. Thatcher usou vouchers para permitir que o empregado sentisse o gosto – e também o risco – do capitalismo. Estão todos no mesmo barco, patrões e funcionários: o sucesso do negócio é o que garante bons salários e dividendos.

Outro aspecto do perfil do Paulo que não pode ficar de fora é seu patriotismo. Sim, ele enriqueceu no mercado financeiro e com o Ibmec. Ele poderia, como tantos outros, ter se tornado esnobe, “globalista”, um “cidadão do mundo” que mais parece um clone dos demais, algo bastante comum no mercado financeiro. Todos precisam passar a gostar das mesmas coisas, falar a mesma língua, vestir as mesmas roupas.

Paulo não caiu nessa. Sempre foi um brasileiro que valorizava suas raízes e apaixonado pelo intelecto e pela Pátria. Não se mudou do seu apartamento, o mesmo desde o começo, continuou um flamenguista fanático e preferia seu bife do que pratos estranhos da culinária contemporânea que “todos os ricos precisam apreciar”, caso contrário demonstram falta de “refinamento”.

Quero dizer com isso que Paulo continuou a mesma pessoa simples, um brasileiro comum, que discutia futebol na copa com o garçom, apesar de todo o sucesso financeiro.

E é esse seu patriotismo, somado a essa paixão pelo desafio intelectual, que o aproximou de Bolsonaro e, por tabela, do Ministério da Fazenda. Paulo jogou limpo com Bolsonaro desde o começo, e foi a franqueza que um viu no outro que permitiu a parceria.

Podemos discordar de muitas ideias do capitão, de seu passado estatizante, mas seu amor pela Pátria parece inegável, assim como sua forma direta de se comunicar e relacionar.

Nem o Paulo nem Bolsonaro são de muitos rodeios ou mensagens opacas. Ambos preferem o “papo reto”, doa a quem doer. Será interessante ver como essa sinceridade mútua vai agir em conjunto, especialmente quando houver divergências – e elas serão inevitáveis.

Se Paulo Guedes será capaz de finalmente mudar a economia brasileira para melhor, retirando inúmeros obstáculos criados pelo governo, trazendo o povo para perto do mercado de capitais, ainda não sabemos. Existem desafios enormes, que passam pela persuasão do próprio futuro presidente, do Congresso, do poder judiciário etc.

Mas uma coisa é certa: não é fácil imaginar um nome melhor para tocar esse projeto de liberalização da economia brasileira. Paulo tem todo o preparo necessário, humildade para reconhecer onde vai precisar de ajuda ou ceder, e uma paixão pelo Brasil que é indispensável, principalmente nos momentos de maior dificuldade.

Temos no comando da economia um economista liberal brilhante e patriota, que ao mesmo tempo é apenas mais um brasileiro comum, como todos nós, e não um elitista esnobe que perdeu o contato com a realidade. Os ingredientes são os melhores possíveis. Espero que tenha muito sucesso!

*Rodrigo Constantino é economista e escritor 

Importante: As opiniões contidas neste texto são do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney.