“A população deu um basta e foi totalmente contra os mesmos políticos de sempre”, diz Romeu Zema

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, candidato ao governo de Minas fala sobre salto surpreendente na reta final da disputa, apresenta propostas para sanear as contas públicas do estado e analisa o recado das urnas à classe política

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em cinco dias, o empresário Romeu Zema saiu de 10% de intenções de voto nas pesquisas eleitorais para o governo de Minas Gerais, para 42,73% dos votos válidos nas urnas. O desempenho fez com que o candidato do Partido Novo, mesmo com pouca estrutura partidária e apenas alguns segundos no rádio e na televisão, desbancasse o atual governador do estado Fernando Pimentel (PT) e terminasse o primeiro turno à frente do senador Antonio Anastasia (PSDB), seu atual adversário na segunda etapa da disputa. Agora, a pouco mais de duas semanas do retorno às urnas, ele é considerado favorito para vencer a disputa, inflado pela onda por renovação que tomou as eleições de 2018 e varreu lideranças tradicionais de cargos eletivos da política nacional.

O resultado parcial surpreendeu o próprio candidato, que agora sonha com a oportunidade de ocupar o Palácio da Liberdade e cumprir sua promessa de mudar a forma de se fazer política em Minas, segundo maior colégio eleitoral brasileiro. “Isso serve de alerta para esses mesmos políticos de sempre começarem a repensar como fazem política. Essa velha política, que sempre somente olhou para o interesse dos políticos e nunca representou a população adequadamente”, afirmou em entrevista ao InfoMoney.

Corte de privilégios, enxugamento da máquina pública, renegociação da dívida do estado e privatizações são algumas das bandeiras defendidas pelo candidato para sanear as contas públicas de Minas, um dos casos mais dramáticos do país na área fiscal. Para implementar tal agenda, o empresário terá de lidar com uma oposição dura na Assembleia Legislativa, onde seu partido terá apenas 3 dos 77 assentos. Consciente das dificuldades , Zema promete uma gestão transparente e com participação da sociedade.

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“Ficou claro para a classe política o resultado das urnas, que se eles não se modernizarem e não mudarem o discurso, daqui a quatro anos vai ficar muito mais difícil do que já ficou. Creio muito nesse movimento da própria sociedade, que quer um governo muito transparente, no qual vou deixar muito claro quais deputados estão contribuindo para os avanços e quais estão contribuindo para o retrocesso”, disse o candidato hoje apontado pelas pesquisas como favorito na disputa contra o senador Anastasia.

Confira os destaques da entrevista:

InfoMoney – Nessas eleições, vimos quadros tradicionais da cena política serem derrotados. Partidos como MDB e PSDB sofreram perdas importantes. Já o PT ampliou sua dependência no Nordeste, embora tenha mantido o status de maior bancada na Câmara. Qual é a mensagem que as urnas estão dando ao sistema político? E o que isso sinaliza sobre o futuro do país?
Romeu Zema – Isso serve de alerta para esses mesmos políticos de sempre começarem a repensar como fazem política. Essa velha política, que sempre somente olhou para o interesse dos políticos e nunca representou a população adequadamente. A população, com a crise de 2015 e 2016, que custou tão cara para todos nós, deu um basta. Esta eleição para governadores, presidente e os legislativos está mostrando que, pelo menos nas regiões onde há um maior esclarecimento, a população foi totalmente contrária aos mesmos políticos de sempre. Nas regiões mais atrasadas, infelizmente esse processo talvez leve mais tempo para chegar.

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IM – O Novo elegeu 8 deputados federais, 11 estaduais (sendo 3 em Minas Gerais) e 1 distrital. O candidato João Amoêdo chegou em quinto na corrida presidencial, com 2,68 milhões de votos. O senhor foi ao segundo turno com uma votação expressiva. Qual é sua avaliação sobre o desempenho do partido?

RZ – Posso afirmar que é um resultado surpreendente, lembrando que nós não gastamos R$ 0,01 do seu recurso, do imposto que você paga e que eu pago. Se nós tivéssemos recursos, condições de igualdade com os partidos tradicionais, com certeza esse número teria ido muito além. No meu caso, apesar de ter gastado menos de 20% do que meus concorrentes, tive mais votos que eles. Isso demonstra que trabalho, competência e eficiência dão resultado e é o que quero levar para dentro do Estado. Não é uma fonte de dinheiro jorrando com o sacrifício do povo que paga imposto que vai corrigir os problemas, é uma gestão profissional e responsável. Existia um Novo até semana passada, mas a partir desta, apesar de ainda ser um número pequeno, já começa a existir um partido com certa representatividade e peso. Em Minas Gerais, temos uma chance bem grande de assumir o governo do estado.

IM – Até a terça-feira que antecedeu o primeiro turno, o senhor tinha 10% das intenções de voto, segundo o Ibope. No domingo, as urnas apontaram 42,73% dos votos válidos, em uma disparada que surpreendeu analistas. Ao que o senhor atribui este movimento? Foi o aceno a Jair Bolsonaro no último debate?

RZ – Eu atribuo a alguns fatores. Primeiro, sem dúvida, ao trabalho que tenho feito desde janeiro. De todos os candidatos de Minas, fui o que mais visitou município, o que mais andou quilômetros, o que mais fez eventos. Foi algo quase insano o que fizemos de janeiro até a semana passada. Isso me possibilitou dar um salto, quebrando a barreira de 6% que a TV Globo exigia para participar do debate. No debate, tive oportunidade igual aos concorrentes. Lá ficou claro para quem assistiu que o único que estava destoando dos mesmos políticos de sempre era eu. Todo mundo ali estava conversando politiquês. Você está conversando comigo e está vendo que não tenho nada a ver com eles. Vejo que o povo quer essa simplicidade, são as correções necessárias. Os mesmos políticos de sempre parecem viver na ilha da fantasia, perderam contato com a realidade. Há 20 anos os partidos que ficaram em segundo e terceiro lugar (PSDB e PT) são os que vem governando esse estado, que foi à falência. Em vez de fazerem alguma coisa, têm só jogado a culpa um no outro.

Então, o que contribuiu muito foi esse trabalho, a participação no debate da Globo e as propostas minhas e do Partido Novo. Nenhum deles tem falado tanto em cortar privilégios. Quero ser o primeiro governador a morar em minha residência, e não em um palácio. Vou alugar uma casa ou um apartamento, só vou receber meu salário quando o funcionalismo estiver recebendo em dia e quero aprovar uma lei que proíba quem tem cargos graduados no governo de receber salário caso essa situação venha a se repetir no futuro, para que haja mais responsabilidade no trato da coisa pública. Nenhum deles tem nada disso e vejo que o mineiro está escaldado da classe política. Temos um ex-governador preso, outro que procurou foro privilegiado se elegendo deputado federal e devemos ter o atual governador que vai responder a vários inquéritos, e, se brincar, também vai ter esse triste destino.

Minas é um estado que só tem perdido participação na economia brasileira e hoje não tem nenhum político relevante. Muito pelo contrário, tem políticos que só nos causam vergonha. Em todo esse cenário sombrio, surgiu a minha figura. Não me considero nenhum salvador da pátria, mas me considero pelo menos muito bem intencionado e com uma competência superior à deles — que meu próprio histórico profissional indica.

IM – Parte da imprensa atribuiu seu salto ao aceno feito a Bolsonaro durante o debate da TV Globo. O senhor se vê beneficiado pela “onda Bolsonaro”? Outros candidatos a governos estaduais, como Wilson Witzel, apresentaram desempenho similar em função deste tipo de associação.

RZ – O que posso dizer é que praticamente todos os candidatos a deputado federal e estadual do partido do Bolsonaro em Minas Gerais me apoiaram voluntariamente, porque viram que minha causa e do Novo era a que mais se aproximava da proposta do PSL. No final daquele debate, eu até não me expressei adequadamente. O que queria dizer naquele momento era que, em Minas Gerais, quem votasse no Amoêdo e no Bolsonaro estava votando com Zema. Mas já era quase 1h em um dia muito exaustivo e as palavras não foram exatamente essas que saíram. Mas fica difícil avaliar até que ponto isso ajudou. De qualquer forma, com certeza esse trabalho dos deputados estaduais e federais do PSL contribuiu muito.

IM – Apesar da onda de renovação no país, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais os partidos tradicionais ainda fizeram um número expressivo de deputados: PT, PSDB e MDB somados têm 24 dos 77 assentos na casa. Como convencer “políticos antigos” da necessidade de uma nova visão da gestão pública? Como trabalhar governabilidade com essa configuração do Legislativo?

RZ – Realmente esse vai ser um grande desafio, mas eu sempre fui uma pessoa muito aberta ao diálogo. Quero conversar com cada um dos 77 deputados estaduais de Minas para conhecê-los bem, para saber o que cada um tem de demanda para sua região ou para a categoria que representa. Quero fazer um trabalho muito diferente do distanciamento que sempre houve aqui entre Executivo e Legislativo. Isso não quer dizer que vai resolver. Também vou usar o respaldo do segundo turno, que certamente vai deixar muito claro que o mineiro quer essa mudança, que ele quer representatividade do governo, e não esse distanciamento.

Tenho realmente um bom desafio, mas acredito que, com trabalho, seriedade e principalmente bons exemplos, vamos começar a mudar essa cultura. Não estou dizendo que está resolvido, mas vejo que o endosso do povo vai ajudar muito. E vamos trabalhar também com muita transparência. Acho que ficou claro para a classe política o resultado das urnas, que se eles não se modernizarem e não mudarem o discurso, daqui a quatro anos vai ficar muito mais difícil do que já ficou. Creio muito nesse movimento da própria sociedade, que quer um governo muito transparente, no qual vou deixar muito claro quais deputados estão contribuindo para os avanços e quais estão contribuindo para o retrocesso. Quero governar junto do povo.

IM – Minas é um dos estados que mais sofre com desajuste nas contas públicas. O senhor falou sobre reduzir privilégios e dar o exemplo, mas sabemos que essas medidas são simbolicamente muito importantes, mas sozinhas não resolvem o problema fiscal. Que tipo de medidas seriam necessárias para sanear as contas do estado?

RZ – Vamos ter quatro pilares. O primeiro, reduzir drasticamente as despesas, reduzindo de 21 para 9 secretarias, cortando 80% dos cargos de indicação política. Hoje não há transparência com relação à Previdência do estado, o que supõe que há coisas erradas lá dentro. Vamos abrir essa caixa preta. Vamos rever contratos.

O segundo ponto é que Minas hoje é o ambiente mais inóspito do Brasil para se investir. Temos a legislação tributária mais complexa de todo o país. Por ter estabelecimentos em Minas e em outros estados, conheço muito bem essa situação. Além disso, temos a maior lerdeza dos órgãos ambientais e sanitários também, e, com toda a certeza, corrupção. Você leva sete anos pedindo um processo de outorga de água e não tem nem um sim nem um não do Estado, você fica quatro anos para construir um centro de distribuição em área urbana. É uma coisa absurda, um desestímulo para quem quer investir. Sabemos a quantidade de empresas que foram embora do Triângulo Mineiro e da Zona da Mata. Quero um estado amigo de quem trabalha, e não inimigo. Com isso, vamos atrair empresas, gerar emprego, melhorar a renda e a arrecadação.

O terceiro vai ser renegociar com o governo federal a dívida do estado, o que deveria ter sido feito pelo governo atual e não foi porque a contrapartida exigida eram medidas de austeridade. Minas Gerais virou um cabide monstruoso de emprego de quem é do PT e perdeu eleição Brasil afora. As medidas de austeridade vão possibilitar renegociar a dívida em termos mais favoráveis.

Por fim, vamos rever a aposentadoria do funcionalismo público. Há categorias hoje que se aposentam prematuramente, e vai ser necessário rever. Nossos avós viviam 65 anos e se aposentavam com 50. Hoje estamos vivendo 85 e continuamos nos aposentando com 50. Por uma questão meramente matemática, a conta não fecha. Então, nesses quatro pilares, com toda certeza a gente consegue melhorar significativamente as contas do estado. Lembrando também que vou ter um secretariado de alto nível, sem nenhuma indicação política, principalmente no Planejamento e na Fazenda. Com tudo isso, quero colocar o trem nos trilhos novamente.

IM – As ações da Copasa e da Cemig subiram cerca de 15% na B3 na segunda-feira. Analistas atribuem o movimento ao desempenho de sua candidatura e maiores chances de uma privatização dessas empresas com uma eventual vitória sua na disputa pelo governo mineiro. O mercado está certo em apostar nisso para sua gestão?

RZ – Privatizar essas empresas imediatamente não é prioridade, pelo valor de mercado delas, que não vai resolver o problema de contas do estado. Mas já quero deixá-las totalmente profissionalizadas, enxutas. Pela primeira vez, será presidente da Cemig e da Copasa quem está lá há 15 ou 20 anos, e não um deputado, como tem acontecido. Isso, por si só, já vai ser excepcional para que essas empresas melhorem o desempenho. E estaremos preparando a privatização assim que o valor de mercado delas subir e remunerar melhor o estado. Esse, com toda a certeza, será o caminho.

IM – Muito tem sido especulado sobre um eventual incremento na distribuição de dividendos da Copasa como uma saída para reduzir o déficit fiscal no curto prazo. Isso está no horizonte? Como podemos imaginar esse tema em sua gestão?

RZ – Foi algo que eu ainda não analisei, mas não quero o estado usando alterações, medidas extraordinárias em empresas estatais para maquiar o déficit público. Quero que se mantenha aquilo que sempre foi feito, até para efeito de comparação. Porque tem sido frequente o uso dessas empresas para poder piorar ou melhorar as contas públicas de acordo com a conveniência. Então, sou favorável a manter aquilo que sempre foi feito.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.