O que explica o novo salto de Bolsonaro no Datafolha?

Para cientista político, sentimento antipetista e capacidade de mobilização dão favoritismo a Bolsonaro contra Haddad na corrida presidencial

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A pesquisa Datafolha divulgada na noite desta terça-feira (2) confirmou tendência indicada pelo Ibope um dia antes, com o deputado Jair Bolsonaro (PSL) sendo o único candidato a crescer acima da margem de erro (2 p.p.), ampliando vantagem em relação ao segundo colocado, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT).

No cenário estimulado de primeiro turno, agora o militar reservado conta com diferença favorável de 11 pontos percentuais sobre o petista e vê a rejeição ao seu adversário já aparecer em condição de empate técnico com a sua (45% de Bolsonaro contra 41% de Haddad). No cenário de segundo turno, Bolsonaro voltou a aparecer numericamente à frente: 44% a 42%.

O movimento pegou alguns analistas políticos de surpresa, já que o noticiário recente era marcado por fatos negativos ao candidato do PSL. Da ideia ventilada por seu guru econômico, Paulo Guedes, sobre uma “nova CPMF” às críticas de seu vice, o general Hamilton Mourão, ao 13º salário, passando pelas antigas denúncias de sua ex-esposa e o avanço de manifestações de mulheres contra sua candidatura, Bolsonaro viu pautas ameaçadoras ganharem espaço na imprensa.

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Contudo, o que se observou nas pesquisas eleitorais que sucederam os eventos foi uma melhora expressiva em suas condições na corrida presidencial. Para entender este aparente paradoxo, o InfoMoney ouviu o cientista político Paulo Moura, especialista em comunicação política. Eis os principais pontos apresentados por ele:

CRESCIMENTO DE BOLSONARO

A alta de Bolsonaro tem duas razões básicas. A primeira é a questão do sentimento de antipetismo. O antipetismo hoje é o maior partido informal do Brasil. A rejeição ao PT sempre foi maior que a de Bolsonaro, embora a imprensa sempre desprezasse este fato. Em outras oportunidades, afirmei que, se fosse Bolsonaro contra o PT, as rejeições se equivaleriam ou até poderiam ser piores para o PT.

O segundo fator é o potencial de mobilização social da base de Bolsonaro. Opinião pública não é estatística de pesquisa publicada. Opinião pública é gente mobilizada nas ruas e forma as ondas de opinião. A campanha de Bolsonaro hoje é um fenômeno cívico, não é uma campanha eleitoral tradicional. Ela não tem comícios, mas manifestações.

A imprensa amplificou a manifestação do #EleNão, mas tanto no sábado quanto no domingo aconteceram manifestações [a favor de Bolsonaro] em todo o Brasil, inclusive no interior do Nordeste. Há um sentimento de saturação da sociedade que ele soube captar. A sociedade hoje percebe a mídia como cúmplice do establishment, como cúmplice de tudo que a população quer varrer quando escolhe Bolsonaro.

REJEIÇÃO “ENGANOSA”
Há uma avaliação enganosa da rejeição das mulheres a Bolsonaro. Há um tempo, eu dizia que uma grande quantidade de eleitores iria convergir para um nome na reta de chegada, que as abstenções, brancos e nulos iriam reduzir e que havia uma probabilidade de o escolhido ser Bolsonaro. Também afirmei que a rejeição feminina a ele era uma construção artificial e midiática e que havia muitas mulheres na base dele. Na carona desse eleitorado indefinido, poderia acontecer uma surpresa e a surpresa está acontecendo. Hoje, Bolsonaro, que já era líder nas pesquisas entre as mulheres, está crescendo nesta faixa e também entre os pobres. Ele está crescendo homogeneamente em todos os segmentos sociais e regiões do país. Para quem faz análise de dados, isso significa consistência, tendência.

TETO DE HADDAD

Haddad oscilou para baixo nas duas pesquisas (Ibope e Datafolha), parece que atingiu seu teto e a rejeição aumentou agora, com o fato de que ele usou Lula para alavancá-lo – isso se tornou prejudicial e um fator de descrédito.

VITÓRIA NO PRIMEIRO TURNO?

Venho afirmando que essa possibilidade existe, embora nunca tenha afirmado categoricamente que ela aconteceria. Para Ibope e Datafolha estarem dando Bolsonaro com 31%/32%, é porque é possível que, se a tendência se confirmar, ele esteja se aproximando da possibilidade de uma vitória em primeiro turno.

O analista Paulo Moura esteve no programa Conexão Brasília, transmitido na InfoMoneyTV em 30 de agosto. Assista a íntegra pelo vídeo abaixo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.