Datafolha: Bolsonaro frágil entre mulheres e mais pobres; Haddad com rejeição crescente em SP, RJ e MG

Crescimento de Haddad na carona do lulismo já era esperado; resta saber qual é o teto deste poder de transferência e como se comportará a rejeição ao petista ao longo da disputa

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira (29) reforçou a maior probabilidade de um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), assim como o caráter plebiscitário desta possível disputa, em função do elevado nível de rejeição aos dois. Com a distância de 11 pontos percentuais do petista em relação a Ciro Gomes (PDT) e de 18 p.p. do deputado sobre Geraldo Alckmin (PSDB), fica cada vez mais difícil para a corrida presidencial apresentar reviravolta suficiente a minar o atual quadro de polarização instaurado.

Já era esperado que Haddad mantivesse a tendência de crescimento observada desde que foi oficializado candidato pelo PT, substituindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro há quase 6 meses. O ex-prefeito herdou votos do lulismo, o que se evidencia sobretudo entre eleitores do Nordeste, com menor nível de escolaridade e renda, embora não tenha atingido patamares de seu padrinho político.

Contudo, cada vez fica mais difícil para Haddad alçar novos voos, já que sobram menos votos lulistas “na mesa”. Quando se compara o grupo dos “não voto” (grupo que consiste nos eleitores que declaram voto em branco, nulo ou estão indecisos) da última pesquisa em que Lula aparecia como candidato ao levantamento atual, com Haddad, nota-se convergência nos percentuais. Lembrando que antes, quando o ex-presidente era excluído das pesquisas, seus votos migravam para brancos, nulos e indecisos e outros candidatos de esquerda.

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Com Lula, 11% dos eleitores com ensino fundamental diziam votar em branco ou nulo. Hoje, menos de três semanas com Haddad candidato, são 10% do eleitorado deste segmento. Entre aqueles com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos, 12% ocupavam o grupo, agora são 11%. No Nordeste, eram 9% agora são 10%. Evidentemente, o quadro eleitoral é dinâmico e novos eleitores podem ter ingressado neste grupo e outros saído, o que dificulta a avaliação sobre quantos votos lulistas ainda podem estar “na mesa”.

O que se sabe é que há muito menos do que três semanas atrás, mesmo que Haddad tenha 22% das intenções de voto e Lula tenha saído da disputa com 39%. Naquele momento, Ciro Gomes, principal adversário do petista em captar votos do lulismo (sobretudo no Nordeste), tinha 5% de apoio. Hoje, o pedetista conta com 11% das intenções de voto, sendo 15% no Nordeste (no último levantamento com Lula, eram 5% na região).

Já Bolsonaro, quando Lula ainda aparecia como candidato, tinha 19% das intenções de voto. No Nordeste eram 11%; 10% entre eleitores com ensino fundamental (agora, 18%); 24% com ensino médio (agora, 32%); 11% com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (agora, 18%); e 25% com renda familiar mensal entre 2 e 5 salários mínimos (agora, 34%).

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É natural que o índice de rejeição de Haddad tenha crescido no período. O bônus da herança lulismo também vem acompanhada de algum ônus eleitoral. Mesmo assim, o petista ainda apresenta índice significativamente abaixo de Bolsonaro, o que lhe garante situação de vantagem momentânea em relação ao seu adversário (com base na atual fotografia). Segundo o último levantamento, 46% dos eleitores dizem não votar de jeito nenhum no deputado, contra 32% no ex-prefeito paulistano.

Isso ajuda a explicar por que Haddad salta 23 pontos percentuais entre o primeiro turno e a simulação de segundo turno contra Bolsonaro, enquanto o capitão reformado cresce apenas 11 p.p.. Embora lidere a corrida presidencial no primeiro turno estável com 28%, o deputado enfrenta rejeição crescente entre as mulheres (de 49% para 52%), os menos escolarizados (de 40% para 46%) e os mais pobres (de 48% para 52%).

Bolsonaro, contudo, tem o alento de ver seu índice de rejeição estacionar nos três maiores colégios eleitorais do País: São Paulo (43%), Rio de Janeiro (36%) e Minas Gerais (43%). Já a curva de Haddad ainda é ascendente e já marca 44% (ante 38%), 34% (ante 31%) e 32% (ante 28%), respectivamente.

Com a evolução da disputa, é necessário monitorar como se comportará o grupo dos que dizem não votar no petista de jeito nenhum. Hoje, os índices mais elevados de Haddad estão entre homens (39%), eleitores com ensino superior (48%), e com renda mais elevada — entre 5 e 10 salários mínimos, 52%; e acima de 10 salários mínimos, 59%.

Ainda é cedo para falar em favoritos, a despeito da liderança de Haddad na disputa de segundo turno contra Bolsonaro e seu menor índice de rejeição. Uma das poucas certezas que esse jogo mostra é que, independentemente de quem ganhar, será um governo minoritário e com ampla necessidade de estabelecer canais de diálogo para governar, mantidas as condições políticas conhecidas.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.