Haddad salta 6 pontos e deixa Ciro para trás, mas vê rejeição chegar a 60%; Bolsonaro sobe para 28%, mostra XP/Ipespe

Com apenas 10 dias como candidato à presidência, petista chega a 16% das intenções de voto, mas sua rejeição já supera numericamente a de Bolsonaro. O deputado, por sua vez, dispara entre eleitorado evangélico e reforça bases

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Duas semanas após ser vítima de um atentado a facada durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) continua crescendo nas pesquisas para a corrida presidencial. A 16 dias do primeiro turno, o parlamentar chegou a 28% das intenções de voto no cenário estimulado, segundo pesquisa XP/Ipespe realizada entre 17 e 19 de setembro. O desempenho representa uma oscilação positiva de 2 pontos percentuais em comparação com a semana anterior, movimento correspondente à margem de erro máxima da pesquisa.

Só em setembro, o deputado cresceu 5 p.p.. No cenário espontâneo, quando eleitores indicam em quem pretendem votar sem que lhes sejam apresentados nomes de candidatos, o salto de Bolsonaro é de 8 p.p., para 24%, o que indica uma cristalização de apoio entre 1/4 do eleitorado. Nos dados estratificados, observa-se movimento positivo do parlamentar entre quase todas as faixas do eleitorado, mas é entre os domiciliados no Sudeste, evangélicos e renda superior a dois salários mínimos que o salto foi mais expressivo. Somente neste grupo religioso específico, Bolsonaro foi de 26% para 39% em uma semana.

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Logo atrás do deputado aparece o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), que agora não mais divide a segunda posição com um adversário. A dez dias como candidato oficial do PT à presidência, em substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad viu suas intenções de voto dobrarem para 16% em duas semanas no cenário estimulado, sendo 6 p.p. de alta apenas entre o último levantamento e o atual. Pela primeira vez, não se observa significativa diferença no desempenho do petista quando seu nome é apresentado aos entrevistados acompanhado da informação de que é o nome apoiado por Lula na disputa.

Da semana passada para cá, Haddad saltou de 19% para 25% nas intenções de voto no Nordeste e agora lidera a disputa na região. O petista também apresentou crescimento significativo no Sudeste neste período: de 7% para 12%. O avanço se deu de forma equilibrada entre as faixas etárias, mas foi mais intenso entre eleitores com Ensino Médio (de 5% para 13%) e renda familiar mensal de até dois salários mínimos (de 10% para 17%), segmentos em que o lulismo se faz mais presente. Em paralelo ao avanço na disputa, Haddad também vê seu índice de rejeição crescer (dados completos abaixo dos cenários de segundo turno apresentados).

Com o forte avanço, Haddad conseguiu abrir uma vantagem de 5 pontos sobre o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), com quem aparecia tecnicamente empatado em levantamentos anteriores. O pedetista oscilou negativamente 1 p.p. e agora tem 11% das intenções de voto. Ele é o candidato mais bem visto pelos eleitores de adversários como segunda opção de voto ao longo deste processo eleitoral, embora também seja um dos que mais corre risco de ser negativamente afetado pelo chamado “voto útil”. Segundo o levantamento, 54% dos apoiadores de Ciro admitem a possibilidade de votar em outro candidato para evitar a ida ao segundo turno de um candidato indesejado. A pesquisa também mostrou que Ciro é o único candidato que hoje supera Bolsonaro por diferença acima da margem de erro (veja os detalhes nos cenários de segundo turno).

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Dono da maior fatia de tempo no horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) não consegue romper a resistência dos 10% de intenções de voto. Desta vez, o tucano aparece com 7%, em uma oscilação negativa de 2 p.p. em comparação com a última pesquisa, o que o mantém em condição de empate técnico com a ex-senadora Marina Silva (Rede), que tem 6% – menos da metade do que tinha há três semanas. A quase duas semanas do primeiro turno e com a viabilidade de suas candidaturas posta em questionamento, os dois candidatos correm riscos crescentes de sofrerem com os efeitos do ‘voto útil’. Segundo o levantamento, 52% dos eleitores da ex-senadora e 42% dos apoiadores do tucano admitem a possibilidade de trocar de candidato para evitar uma disputa de segundo turno com um candidato indesejado.

O nome mais exposto a este efeito negativo do ‘voto útil’ seria o senador Álvaro Dias (Podemos), com 60% de seus eleitores admitindo essa possibilidade. Por um cruzamento de dados da pesquisa, os apoiadores do parlamentar se dividem entre Alckmin e Bolsonaro como segunda opção de voto. Dias tem 3% das intenções de voto, mesmo percentual do empresário João Amoêdo (Novo). O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) tem 2%, ao passo que o deputado Cabo Daciolo (Patriotas) aparece com 1%. Outros candidatos não pontuaram na pesquisa.

De acordo com o levantamento XP/Ipespe, o grupo dos “não voto” (composto por votos em branco, nulos e eleitores indecisos) soma 23% do eleitorado no cenário estimulado, mesmo patamar registrado na semana anterior. No cenário espontâneo, eles somam 39% dos eleitores – uma queda de 8 p.p. em comparação com a última pesquisa.

O levantamento também mostrou que, a pouco mais de duas semanas do primeiro turno, o nível de interesse pela eleição presidencial oscilou positivamente de 59% para 60%. Agora, 37% dos eleitores se dizem muito interessados, enquanto 23% afirmam estar mais ou menos interessados no processo. Duas semanas atrás, a soma desses grupos representava 52% do eleitorado. A faixa de eleitores que se diz desinteressada com o processo está em 22%, o que pode indicar uma ativação tardia e decisão de voto de parcela relevante durante o sprint final.

Confira os cenários de primeiro turno para a corrida presidencial testados pela pesquisa:

Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos

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Cenário 1: pesquisa estimulada

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Cenário 2: com Fernando Haddad, ‘apoiado por Lula’*

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*O cenário busca simular o potencial de transferência de votos de Lula a Haddad. Nesta situação, o nome de Haddad é apresentado pelo entrevistador juntamente com a informação de que é o candidato apoiado por Lula. O ex-presidente teve seu pedido de registro de candidatura indeferido pelo plenário do TSE, por 6 votos a 1, em 1º de setembro, o que fez com que o PT substituísse seu representante na disputa dez dias depois.

Confira a série histórica das pesquisas XP/Ipespe

Segundo turno

Foram testadas seis situações de segundo turno nesta pesquisa. Vale lembrar que, assim como nas últimas duas semanas, em função do aumento do número de entrevistas (de 1.000 para 2.000), a margem de erro máxima caiu de 3,2 p.p. para 2,2 p.p., o que pode modificar interpretações sobre alguns dos cenários apresentados em relação a levantamentos mais antigos.

Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, o tucano venceria com 38% das intenções de voto, contra 31% para o petista, e 31% de brancos, nulos e indecisos. A diferença entre os dois candidatos chegou a ser de 16 pontos percentuais a favor do ex-governador em três pesquisas. Uma semana atrás, era de 10 pontos. Em nenhum momento Haddad esteve à frente.

No caso de enfrentamento entre Alckmin e Bolsonaro, o cenário é de empate, com 39% das intenções de voto para cada. Brancos, nulos e indecisos somam 22%. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio. Nas últimas duas semanas, o tucano apareceu numericamente à frente, mas em situação de empate técnico. Na maior parte do tempo, Bolsonaro apresentou níveis de apoio mais elevados, mas a diferença, salvo em dois momentos, ficou dentro do limite da margem máxima de erro.

Em eventual disputa entre Marina Silva e Bolsonaro, o parlamentar lidera a disputa com 40% das intenções de voto, contra 35% para a ex-senadora. Brancos, nulos e indecisos somam 25%. Com este resultado, o deputado interrompe uma sequência de 14 semanas numericamente atrás e em situação de empate técnico com Marina. Agora, a diferença entre ambos, favorável a Bolsonaro, supera o limite da soma das margens de erro dos candidatos.

Se o segundo turno fosse entre Ciro e Alckmin, o cenário seria de empate técnico, com o pedetista numericamente à frente por 37% a 35%. Brancos, nulos e indecisos agora somam 29% do eleitorado. É a segunda vez que Ciro aparece numericamente à frente na disputa. Em nenhum momento um dos candidatos teve vantagem superior ao limite da soma das respectivas margens de erro, mas na maior parte do tempo Alckmin esteve numericamente à frente.

Caso Bolsonaro e Ciro se enfrentassem, o pedetista venceria com 40% das intenções de voto, contra 35% do parlamentar. Brancos, nulos e indecisos somariam 26%. O quadro é exatamente o mesmo do levantamento anterior e representa a quarta vez na série histórica que Ciro lidera a simulação. Há três semanas, o pedetista contava com vantagem de apenas 2 pontos percentuais. Nos dois primeiros levantamentos, realizados em maio, o deputado vencia com diferença superior à soma das margens de erro.

A pesquisa também simulou um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Neste caso, o quadro também é de empate técnico, com o deputado numericamente à frente por placar de 41% a 38%. O grupo dos “não voto” soma 21%. Em abril, Bolsonaro chegou a contar com gordura de 11 pontos percentuais. Na semana passada, a diferença passou para apenas 2 pontos. Em nenhum momento Haddad esteve à frente.

Leia também: Bolsonaro x Haddad: como votariam os eleitores de Ciro, Marina e Alckmin neste cenário?

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados em quais candidatos não votariam em hipótese alguma. Marina Silva lidera o ranking da rejeição com taxa de 67%, em um crescimento de 3 pontos percentuais em comparação com a semana anterior e de 7 pontos em um intervalo de um mês. Foi a maior elevação em repúdio registrada entre os principais presidenciáveis.

No sentido oposto, Bolsonaro manteve os 57% apresentados na semana anterior, o que corresponde a um recuo de 5 pontos em relação ao seu maior patamar, registrado no início de setembro, antes do atentado sofrido em Juiz de Fora. O deputado encontra-se em condição de empate técnico neste quesito com Alckmin e Haddad, que hoje são rejeitados por 60% do eleitorado.

Já Ciro Gomes é repudiado por 54% dos eleitores, contra 51% de Álvaro Dias. O senador, porém, é desconhecido por 26%, contra 7% registrados do lado do pedetista. A trajetória dos índices de rejeição dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

CANDIDATO DE 06 A 08/08 DE 13 A 15/08 DE 20 A 22/08 DE 27 A 29/08 DE 3 A 5/09 DE 10 A 12/09 DE 17 A 19/09
Jair Bolsonaro 57% 58% 59% 61% 62% 57% 57%
Marina Silva 59% 60% 60% 60% 62% 64% 67%
Ciro Gomes 60% 59% 59% 59% 59% 56% 54%
Geraldo Alckmin 57% 59% 60% 59% 59% 60% 60%
Álvaro Dias 46% 48% 48% 48% 48% 49% 51%
Fernando Haddad 56% 54% 54% 56% 57% 57% 60%

Fonte: XP/Ipespe

Leia também:

– “Por que votarei em Geraldo Alckmin”, por Andre Lichtenstein
– “Por que votarei em Jair Bolsonaro”, por André Gordon
– “Por que votar em João Amoêdo”, por Pablo Spyer
– “Por que Henrique Meirelles seria o melhor presidente para o Brasil”, por Jason Vieira

Metodologia

A pesquisa XP/Ipespe foi feita por telefone, entre os dias 17 e 19 de setembro, e ouviu 2.000 entrevistados em todas as regiões do país. Os questionários foram aplicados “ao vivo” por entrevistadores (com aleatoriedade na leitura dos nomes dos candidatos nas perguntas estimuladas) e submetidos a fiscalização posterior em 20% dos casos para verificação das respostas. A amostra representa a totalidade dos eleitores brasileiros com acesso à rede telefônica fixa (na residência ou trabalho) e a telefone celular, sob critérios de estratificação por sexo, idade, nível de escolaridade, renda familiar etc.

O intervalo de confiança é de 95,45%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro máxima, estabelecida em 2,2 pontos percentuais. O levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo código BR-02995/2018 e teve custo de R$ 60.000,00.

O Ipespe realiza pesquisas telefônicas desde 1993 e foi o primeiro instituto no Brasil a realizar tracking telefônico em campanhas eleitorais, a partir de 1998. O instituto tem como presidente do conselho científico o sociólogo Antonio Lavareda e na diretoria executiva, Marcela Montenegro.

Em entrevista concedida ao InfoMoney em 12 de junho, Lavareda explicou as diferenças de metodologias adotadas pelos institutos de pesquisa e defendeu a validade de levantamentos feitos tanto presencialmente quanto por telefone, desde que em ambos os casos procedimentos metodológicos sejam seguidos rigorosamente, com amostras bem construídas e ponderações bem feitas. Veja as explicações do sociólogo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.