Bolsonaro nas redes ou Alckmin na TV: quem leva vantagem na disputa?

Deputado lidera pesquisas, mas terá pouca exposição no rádio e na televisão. Tucano contará com latifúndio nos meios tradicionais, mas ainda patina no engajamento digital

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi o candidato à presidência que se sobressaiu e foi mais eficiente em pôr em prática suas estratégias durante sabatina concedida ao Jornal Nacional, da TV Globo, na série realizada com os presidenciáveis nesta semana — a ex-senadora Marina Silva (Rede) encerra hoje o ciclo. Essa é a avaliação dos cientistas políticos Carlos Eduardo Borenstein e Paulo Moura, que participaram do programa Conexão Brasília desta quinta-feira (30). Assista à íntegra ao final desta matéria.

“Apesar de o formato das entrevistas indicar que os entrevistadores buscavam cercar os candidatos que estavam lá, ele foi o único que conseguiu sair disso e, inclusive, pautar a entrevista em alguns momentos. Alckmin, em 16 minutos de entrevista, foi muito cercado pela questão da corrupção. Tentaram grudar nele o rótulo de político tradicional, e ele teve dificuldade de sair disso”, observou Borenstein, que trabalha como análise política da consultoria Arko Advice. Para ele, Ciro Gomes (PDT) ficou entre a capacidade de pautar do deputado e o comportamento menos ativo do ex-governador paulista.

Para Moura, especialista em comunicação política, para além do debate do potencial de cada plataforma de comunicação, pouca atenção tem sido dada pelos analistas à capacidade de mobilização social de cada um dos candidatos. “Hoje vejo duas forças políticas no Brasil com essa capacidade: Bolsonaro e o PT. Mas há uma diferença qualitativa entre os elementos motivadores da mobilização do eleitor de Lula e do eleitor de Bolsonaro”, pontuou. Ele acredita que este elemento será decisivo para os desdobramentos da corrida eleitoral e hoje são os fatores que o levam a crer em uma maior probabilidade de segundo turno entre essas duas forças.

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“Bolsonaro está há mais de 3 anos construindo uma base de seguidores. Ao contrário de outros partidos, que têm uma assessoria centralizada cuidando de internet, ele também tem milhões de seguidores e uma estrutura capitalizada, orgânica, de produção de conteúdo espontâneo, que a meu ver é imbatível”, avaliou o cientista político.

“Já Alckmin montou uma estrutura profissional agora, na boca da eleição. E internet não é como televisão, que é unidirecional. Internet é relacionamento. Mídia social é relacionamento e isso se constrói ao longo do tempo. Não adianta um candidato cair de paraquedas na véspera da eleição, colocar milhões de reais em impulsionamento, na tentativa de adquirir seguidores, se não tem uma rede orgânica montada ao longo do tempo com antecedência”, pontuou.

Para Moura, Alckmin deverá colher resultados do tempo que dispõe no rádio e na televisão, se a propaganda for bem feita na captura do interesse do público, mas será difícil ter o mesmo poder de fogo de mobilização que Bolsonaro apresenta das redes. Já Borenstein, chama atenção para uma suposta falta de narrativa do lado tucano, além do próprio desgaste recente sofrido pelo PSDB.

“A militância que Bolsonaro tem nas redes também é muito consequência do fato de que ele e Lula são os únicos que hoje têm uma narrativa e capacidade de mobilização de seguidores, ao passo que Alckmin carece de posicionamento e discurso. Creio que o eleitor médio tem dificuldade em associar o tucano a algo”, argumentou o analista da Arko.

Para ambos, não está claro se Alckmin conseguirá se vender como candidato atraente ao mercado eleitoral posto. Neste desafio, apenas a supremacia em exposição na televisão não basta. O tucano terá que se vincular a uma imagem que agrade os eleitores.

“O que Alckmin tem a oferecer? Ele não só não é novo, como o velho que representa é um velho carregado de atributos negativos, que vêm de uma aliança com o Centrão e do próprio desgaste de seu partido em São Paulo pelo tempo e também pelo episódio de João Doria”, afirmou Moura.

Confira a íntegra do programa pelo vídeo abaixo:

Agora você pode acompanhar o Conexão Brasília também no Spotify! Clique aqui para ouvir o programa ou faça o download pelo player abaixo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.