Os 2 maiores obstáculos para Bolsonaro ir ao segundo turno

Embora lidere as pesquisas nos cenários sem Lula, Bolsonaro enfrenta dificuldades para crescer entre mulheres e mais pobres

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Apesar de liderar com relativa tranquilidade as pesquisas de intenções de votos para a disputa pelo Palácio do Planalto na ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) não é presença garantida no segundo turno — embora seja apontado por analistas como favorito na disputa pela fatia da direita — e tem mostrado dificuldades em superar a faixa de 1/4 do eleitorado.

A menos de dois meses do primeiro turno, o parlamentar aparece com vantagem de 6 pontos percentuais em relação à segunda colocada, a ex-senadora Marina Silva (Rede), no cenário espontâneo, sem o petista, do último levantamento Datafolha (em 20 e 21 de agosto). A despeito disso, certos ou errados, adversários vocalizam preferência em enfrentá-lo em eventual disputa de segundo turno.

A tabela abaixo pode dar algumas pistas sobre tal comportamento:

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Candidato Estimulada Espontânea Diferença Variação Segundo turno* Primeiro turno Diferença Variação
Fernando Haddad 4% 0% 4 p.p. 25% 4% 21 p.p. 513%
Geraldo Alckmin 9% 2% 7 p.p. 350% 36% 9% 27 p.p. 300%
Ciro Gomes 10% 2% 8 p.p. 400% 35% 10% 25 p.p. 245%
Marina Silva 16% 2% 14 p.p. 700% 38% 16% 22 p.p. 139%
Jair Bolsonaro 22% 15% 7 p.p. 47% 34% 22% 12 p.p. 56%

* Média dos cenários de segundo turno
Fonte: MCM Consultores, com base em pesquisa Datafolha

A torcida dos adversários pode ter seus motivos. Bolsonaro carrega elevada rejeição entre fatias importantes do eleitorado e tem imagem associada a um extremismo à direita, sobretudo na pauta dos costumes.

Leia também: Lula pode usar fundo eleitoral e ter propaganda na TV? Decisão no Pará reabre polêmica

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Como observou o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, apesar da tônica no discurso pelas maiorias, ironicamente Bolsonaro tem como principais pedras no caminho dois grupos majoritários da sociedade: o público feminino e as camadas mais pobres da população.

“São obstáculos relevantes a seu projeto de ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2019. As mulheres representam 53% do eleitorado. Os eleitores com renda familiar abaixo de dois salários mínimos correspondem a 46% do eleitorado. Outros 21% estão na faixa entre dois e três salários mínimos”, lembra o especialista em relatório a clientes.

Leia também: Bolsonaro e Alckmin disputam vaga no segundo turno contra “avatar de Lula”

Na pesquisa espontânea, quando nomes de candidatos não são apresentados aos entrevistados, Bolsonaro recebe o apoio de 15%. Entre os homens, o percentual sobe para 23%, ao passo que nas mulheres a taxa é de 9%. Patamar menor é visto entre os eleitores com renda familiar mensal de até dois salários mínimos: 8%. Tais diferenças acentuadas se repetem nos dois cenários estimulados testados pelo Datafolha.

Veja os detalhes na tabela a seguir (no cenário A, Lula é o candidato do PT. No cenário B, Fernando Haddad o substitui):

Recorte Espontânea Estimulada A Estimulada B Rejeição
Geral 15% 19% 22% 39%
Mulheres 9% 13% 14% 43%
Homens 23% 27% 30% 35%
Ensino Fundamental 6% 10% 13% 37%
Ensino Médio 20% 24% 27% 38%
Ensino Superior 23% 27% 27% 46%
Até 2 salários mínimos 11% 11% 14% 41%
De 2 a 5 salários mínimos 25% 25% 28% 38%
De 5 a 10 salários mínimos 32% 32% 32% 37%
Mais de 10 salários mínimos 30% 30% 33% 35%

Fonte: Datafolha

“É verdade que, na comparação com o conjunto do eleitorado, mulheres e pobres conhecem menos Bolsonaro. 79% do total dos eleitores dizem que conhecem Bolsonaro. Os percentuais são de 74% no caso das mulheres e 70% para os de baixa renda. A diferença não é tão acentuada”, observa Ribeiro.

O cientista político mostra que o nível de conhecimento de Bolsonaro entre os mais pobres cresceu de 48% para 70%. No mesmo período, as intenções de voto nele dentro deste grupo foram de 10% para 14%, ao passo que a rejeição saltou de 28% para 41%.

Entre as mulheres, o quadro é similar. O nível de conhecimento saltou de 57% para 74% no período. As intenções de voto foram de 10% para 14%, enquanto a rejeição subiu de 31% para 43%. Os dois grupos respondem por boa parte da elevação de 7 pontos percentuais na rejeição global do candidato, para 39%.

“Como se sabe, rejeição elevada prenuncia dificuldades para qualquer candidato na disputa de segundo turno. Isto já começa a aparecer nas pesquisas de segundo turno nos cenários em que Bolsonaro está presente”, pontua o analista da MCM.

Segundo o Datafolha, Bolsonaro perde para Marina Silva por 45% a 34%, para Alckmin por 38% a 33%, e empata tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), numericamente atrás por 38% 35%. Sua única vitória hoje é contra Haddad, por 38% a 29%. Mas o petista ainda é muito desconhecido pelo eleitorado.

“A dianteira com relação a Haddad, contudo, provavelmente não se sustentará por muito tempo. Quando Haddad assumir de vez a cabeça de chapa petista e se tornar mais conhecido tende a superar Bolsonaro ou ao menos a ficar emparelhado a ele”, aponta Ribeiro.

“Resta saber o que acontecerá com os eleitores de Bolsonaro quando a possibilidade de ele perder o segundo turno para Haddad começar a ficar mais evidente nas pesquisas”, conclui. Nesta hipótese, ficariam com o deputado ou adotariam o pragmatismo de votar em um nome mais competitivo no antipetismo? Com pouco tempo de televisão e estrutura partidária, Bolsonaro terá de provar resiliência entre seu eleitorado fiel.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.