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SÃO PAULO – Apesar de liderar com relativa tranquilidade as pesquisas de intenções de votos para a disputa pelo Palácio do Planalto na ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) não é presença garantida no segundo turno — embora seja apontado por analistas como favorito na disputa pela fatia da direita — e tem mostrado dificuldades em superar a faixa de 1/4 do eleitorado.
A menos de dois meses do primeiro turno, o parlamentar aparece com vantagem de 6 pontos percentuais em relação à segunda colocada, a ex-senadora Marina Silva (Rede), no cenário espontâneo, sem o petista, do último levantamento Datafolha (em 20 e 21 de agosto). A despeito disso, certos ou errados, adversários vocalizam preferência em enfrentá-lo em eventual disputa de segundo turno.
A tabela abaixo pode dar algumas pistas sobre tal comportamento:
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Candidato | Estimulada | Espontânea | Diferença | Variação | Segundo turno* | Primeiro turno | Diferença | Variação |
Fernando Haddad | 4% | 0% | 4 p.p. | – | 25% | 4% | 21 p.p. | 513% |
Geraldo Alckmin | 9% | 2% | 7 p.p. | 350% | 36% | 9% | 27 p.p. | 300% |
Ciro Gomes | 10% | 2% | 8 p.p. | 400% | 35% | 10% | 25 p.p. | 245% |
Marina Silva | 16% | 2% | 14 p.p. | 700% | 38% | 16% | 22 p.p. | 139% |
Jair Bolsonaro | 22% | 15% | 7 p.p. | 47% | 34% | 22% | 12 p.p. | 56% |
* Média dos cenários de segundo turno
Fonte: MCM Consultores, com base em pesquisa Datafolha
A torcida dos adversários pode ter seus motivos. Bolsonaro carrega elevada rejeição entre fatias importantes do eleitorado e tem imagem associada a um extremismo à direita, sobretudo na pauta dos costumes.
Leia também: Lula pode usar fundo eleitoral e ter propaganda na TV? Decisão no Pará reabre polêmica
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Como observou o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, apesar da tônica no discurso pelas maiorias, ironicamente Bolsonaro tem como principais pedras no caminho dois grupos majoritários da sociedade: o público feminino e as camadas mais pobres da população.
“São obstáculos relevantes a seu projeto de ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2019. As mulheres representam 53% do eleitorado. Os eleitores com renda familiar abaixo de dois salários mínimos correspondem a 46% do eleitorado. Outros 21% estão na faixa entre dois e três salários mínimos”, lembra o especialista em relatório a clientes.
Leia também: Bolsonaro e Alckmin disputam vaga no segundo turno contra “avatar de Lula”
Na pesquisa espontânea, quando nomes de candidatos não são apresentados aos entrevistados, Bolsonaro recebe o apoio de 15%. Entre os homens, o percentual sobe para 23%, ao passo que nas mulheres a taxa é de 9%. Patamar menor é visto entre os eleitores com renda familiar mensal de até dois salários mínimos: 8%. Tais diferenças acentuadas se repetem nos dois cenários estimulados testados pelo Datafolha.
Veja os detalhes na tabela a seguir (no cenário A, Lula é o candidato do PT. No cenário B, Fernando Haddad o substitui):
Recorte | Espontânea | Estimulada A | Estimulada B | Rejeição |
Geral | 15% | 19% | 22% | 39% |
Mulheres | 9% | 13% | 14% | 43% |
Homens | 23% | 27% | 30% | 35% |
Ensino Fundamental | 6% | 10% | 13% | 37% |
Ensino Médio | 20% | 24% | 27% | 38% |
Ensino Superior | 23% | 27% | 27% | 46% |
Até 2 salários mínimos | 11% | 11% | 14% | 41% |
De 2 a 5 salários mínimos | 25% | 25% | 28% | 38% |
De 5 a 10 salários mínimos | 32% | 32% | 32% | 37% |
Mais de 10 salários mínimos | 30% | 30% | 33% | 35% |
Fonte: Datafolha
“É verdade que, na comparação com o conjunto do eleitorado, mulheres e pobres conhecem menos Bolsonaro. 79% do total dos eleitores dizem que conhecem Bolsonaro. Os percentuais são de 74% no caso das mulheres e 70% para os de baixa renda. A diferença não é tão acentuada”, observa Ribeiro.
O cientista político mostra que o nível de conhecimento de Bolsonaro entre os mais pobres cresceu de 48% para 70%. No mesmo período, as intenções de voto nele dentro deste grupo foram de 10% para 14%, ao passo que a rejeição saltou de 28% para 41%.
Entre as mulheres, o quadro é similar. O nível de conhecimento saltou de 57% para 74% no período. As intenções de voto foram de 10% para 14%, enquanto a rejeição subiu de 31% para 43%. Os dois grupos respondem por boa parte da elevação de 7 pontos percentuais na rejeição global do candidato, para 39%.
“Como se sabe, rejeição elevada prenuncia dificuldades para qualquer candidato na disputa de segundo turno. Isto já começa a aparecer nas pesquisas de segundo turno nos cenários em que Bolsonaro está presente”, pontua o analista da MCM.
Segundo o Datafolha, Bolsonaro perde para Marina Silva por 45% a 34%, para Alckmin por 38% a 33%, e empata tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), numericamente atrás por 38% 35%. Sua única vitória hoje é contra Haddad, por 38% a 29%. Mas o petista ainda é muito desconhecido pelo eleitorado.
“A dianteira com relação a Haddad, contudo, provavelmente não se sustentará por muito tempo. Quando Haddad assumir de vez a cabeça de chapa petista e se tornar mais conhecido tende a superar Bolsonaro ou ao menos a ficar emparelhado a ele”, aponta Ribeiro.
“Resta saber o que acontecerá com os eleitores de Bolsonaro quando a possibilidade de ele perder o segundo turno para Haddad começar a ficar mais evidente nas pesquisas”, conclui. Nesta hipótese, ficariam com o deputado ou adotariam o pragmatismo de votar em um nome mais competitivo no antipetismo? Com pouco tempo de televisão e estrutura partidária, Bolsonaro terá de provar resiliência entre seu eleitorado fiel.
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