Bolsonaro e Alckmin disputam vaga no segundo turno contra “avatar de Lula”

Para Jairo Pimentel, cientista político e pesquisador da FGV, jogo começa com placar de 3 a 0 a favor do deputado, mas tucano tem estrutura e televisão para tentar virada; Haddad é o favorito para ocupar a vaga da esquerda

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os resultados das últimas pesquisas para a corrida presidencial reforçam uma avaliação de que a disputa tende a ser novamente travada entre tropas vermelhas e azuis, com o lulismo no epicentro da polarização. Essa é a leitura que faz o cientista político Jairo Pimentel, pesquisador do CEPESP (Centro de Política e Economia do Setor Público) da FGV. O especialista participou do programa Conexão Brasília da última sexta-feira (24).

Para ele, a melhora no desempenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos levantamentos sinaliza condições mais favoráveis para uma transferência de votos a um herdeiro político. Hoje o nome mais cotado para assumir o bastão petista ao longo da corrida é o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, atual vice na chapa encabeçada por Lula.

“Lula está preso, mas há um avatar fora. O avatar de Lula é Haddad e a ideia de transferir essa popularidade vem de uma fusão necessária [das imagens de ambos], porque gera empatia, gera uma relação emocional para que ele alavanque. E vai acontecer. Existem mecanismos publicitários e de comunicação política que conseguem fazer com que esse elemento seja concretizado”, explicou.

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Preso há quatro meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro após ser condenado por unanimidade na segunda instância, Lula está inelegível e tem poucas chances de ser autorizado a concorrer para mais quatro anos no Palácio do Planalto, em função da Lei da Ficha Limpa.

“Com o registro da candidatura, Lula voltou ao patamar do ano passado, com 38%, mostrando que, mesmo que ele provavelmente não seja o candidato do PT, sua figura estará presente”, observou Pimentel. “Esse aumento mostra que a capacidade de Lula de transferir votos e o cenário fragmentado no campo vermelho, com três candidaturas, elevam as chances de Haddad compor o segundo turno com um candidato do mundo azul”.

“Há um tempo atrás, eu apostava no Ciro, mas ele perdeu essa oportunidade quando perdeu o PSB e o centrão. Sem essa estrutura, ele deve definhar. Marina tem um problema de ter o pé de barro. Ela vai bem nas pesquisas no começo, mas transmite certa insegurança. Ela tem um voto de recall muito alto, mas quando você observa as razões de voto dela são frágeis”, complementou.

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No campo azul, ele acredita que o quadro ainda é de indefinição, com Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) disputando o assento remanescente para o segundo turno. No momento, o deputado leva vantagem no confronto em função da vantagem que leva nas pesquisas. O tucano, por outro lado, conta com o tempo de televisão e a estrutura da coalizão construída para virar o jogo. Uma indefinição no peso das redes sociais, contudo, reforça o quadro de imprevisibilidade.

“Há um candidato que está muito à frente nas pesquisas, Bolsonaro, que tem um eleitorado muito firme e consistente, presente nas redes sociais; e outro candidato muito atrás nas pesquisas, Alckmin, que não tem presença nas redes sociais, mas tem muito tempo de televisão, que tradicionalmente faz com que a candidatura avance”, apontou Pimentel.

“Há um tempo atrás, cheguei a pensar que Bolsonaro iria derreter com o tempo de televisão, mas revi minha posição e acho que não. Ele pode perder alguns pontos, mas não derreter. Por outro lado, Alckmin terá tempo suficiente para fazer uma propaganda positiva ao mesmo tempo que faça uma campanha negativa atacando Bolsonaro, sobretudo se ele não subir nas intenções de voto”, projetou.

Por ter mais tempo na televisão, o tucano terá maior controle sobre a agenda do debate e poderá escolher quem atacar: Bolsonaro ou o PT. Por mais que seja necessário roubar votos do deputado, Alckmin pode estrategicamente escolher pela contraposição ao lulismo.

Para o cientista político, Alckmin e Bolsonaro disputam uma espécie de prévia para ver quem será o representante do campo antilulista em uma provável batalha com Fernando Haddad no segundo turno. O candidato que melhor conseguir vender essa imagem ao eleitor e apontar maiores chances de êxito na corrida, pode se beneficiar de uma parcela relevante de “voto útil”. Este pode ser um elemento a beneficiar o tucano ao longo do processo, já que o deputado conta com uma rejeição mais elevada para o segundo turno.

“Acho que Bolsonaro parte na frente, está 3 a 0 para ele neste momento. Alckmin está entrando em campo agora. Claro que ele está com esse tempo de televisão e está bem servido com o melhor equipamento técnico. Pode virar o jogo, mas é uma vantagem muito grande que Bolsonaro construiu”, concluiu.

Confira a íntegra da entrevista pelo vídeo abaixo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.