“50 tons de Temer” e poucos ataques: os destaques do primeiro debate eleitoral

O encontro, que durou pouco mais de três horas, foi composto por cinco blocos e teve um clima "ameno", com apenas um pequeno bate-boca já na reta final do programa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A TV Bandeirantes realizou nesta quinta-feira (9) o primeiro debate entre os candidatos à presidência de 2018. O encontro, que durou pouco mais de três horas, foi composto por cinco blocos e teve um clima “ameno”, com apenas um pequeno bate-boca já na reta final, mostrando que os candidatos evitaram confrontos diretos, principalmente os mais bem posicionados nas pesquisas.

O debate foi mediado pelo jornalista Ricardo Boechat e contou com a presença de oito candidatos: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT).

Entre os principais temas debatidos ficaram a reforma da Previdência, segurança, emprego e saúde. Em geral, o clima acabou sendo bastante morno, com poucos ataques à Bolsonaro, por exemplo, que hoje é líder nas pesquisas nos cenários que desconsideram Lula. Enquanto isso, os estreantes em debates, Meirelles, Daciolo e Álvaro Dias, mostraram bastante nervosismo, a exceção foi Boulos, que conseguiu demonstrar firmeza, apesar de não ganhar protagonismo.

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Já entre as falas curiosas, Boulos, mais de uma vez, disse estarem ali no debate “50 tons de Temer”, acusando os outros candidatos de apoiarem o atual governo. Já o Cabo Daciolo fez várias acusações e fez uso de um discurso bastante religioso.

Confira abaixo a íntegra do debate e um resumo do que foi dito pelos candidatos:

1º bloco – candidatos respondem uma pergunta dos leitores do jornal Metro e depois ocorre uma rodada de perguntas e respostas entre eles.

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A questão selecionada dos leitores foi sobre as propostas para gerar emprego. O senador Álvaro Dias, sorteado como primeiro a responder, preferiu se apresentar e dizer quem é, em vez de responder à questão.

Na sequência, Cabo Daciolo criticou os outros candidatos, dizendo que eles representam a “velha política”, com dezenas de anos de atuação na política, sem mudanças. Assim, como o senador, ele não respondeu a pergunta.

Alckmin respondeu a questão resumindo suas propostas gerais, citando o lado fiscal, sem aumentar imposto e buscando reduzir despesas, além da sua proposta de simplificação tributária.

Marina Silva também reforçou o seu discurso de propostas para melhorar o país na economia e como isso ajuda a trazer emprego.

Bolsonaro focou na desburocratização, dizendo que sua missão é dar esperança para a população, fazer um governo diferente. Citou ainda a questão de resolver a violência para ajudar a trazer empregos para o País.

Boulos começou citando o ex-presidente Lula, que segundo ele está preso “injustamente”. Afirmou que irá revogar as medidas do governo Michel Temer e que não realizará a reforma da Previdência. Falou de seu programa para trazer empregos, mexendo nos privilégios dos mais ricos.

Meirelles foi mais um que preferiu começar se apresentando, dizendo que durante sua atuação no Banco Central ajudou a gerar milhões de empregos. Ele ainda citou seu trabalho no ministério da Fazenda, dizendo que tirou o Brasil da maior recessão da história. “Ao contrário do que muitos pensam, não se cria emprego no grito, mas com política econômica”, disse.

Ciro Gomes afirmou que tem uma proposta de gerar no primeiro ano de governo 2 milhões de empregos. “Precisamos consertar os motores do emprego”, afirmou.

Em seguida começou a rodada de perguntas e respostas entre os candidatos

Boulos acusou Bolsonaro de ser racista, machista e homofóbico. Disse que ele fez parte do partido de Paulo Maluf e questionou um caso em que o deputado teria empregado uma funcionária “fantasma”, a Wal. O deputado negou a história e disse que o Ministério Público investigou seus bens e nunca encontrou irregularidades.

Ciro questionou Alckmin sobre a reforma trabalhista, falando da diferença de visão que os dois têm sobre o assunto. O ex-governador defendeu a reforma, disse que moderniza as relações de trabalho, enquanto Ciro é contra as mudanças.

Cabo Daciolo questionou Alckmin sobre o que fazer para baixar os juros dos bancos e sobre o uso das urnas eletrônicas. O ex-governador concordou que o Brasil é um país caro e que quer abrir a economia, com o surgimento de mais bancos e o uso do cadastro positivo. Sobre as urnas, Alckmin diz que não tem motivos questionar seu uso. Daciolo rebateu dizendo que este é um “discurso repetido” e afirmou que existe fraude nas urnas eletrônicas.

Álvaro Dias questionou Bolsonaro sobre equidade de salários entre homem e mulher. O deputado disse que Estado não deve interferir no assunto e que a mulher deve ser valorizada.

Alckmin direcionou sua pergunta para Marina, sobre o assunto saúde. A candidata disse que irá implementar adequadamente o SUS (Sistema Único de Saúde). Na réplica, o ex-governador aproveitou para trazer suas propostas para o assunto, também focando na melhoria do sistema de saúde.

Bolsonaro devolveu sua questão para Álvaro Dias, focando na “caixa preta” do BNDES, com uso questionável do dinheiro público. O senador elogiou o seu vice, Paulo Rabello de Castro, que foi presidente do BNDES, dizendo que usará o dinheiro da instituição para melhorar o País.

Marina questionou Alckmin sobre sua aliança com o centrão, que seria a base do atual governo e responsável pela crise que vivemos. O ex-governador afirmou que temos um quadro pluripartidário e que estas alianças são necessárias para realizar rapidamente as reformas que o Brasil precisa, aproveitando para citar suas propostas de mudança tributária e política.

Meirelles questionou Álvaro por que houve um fracasso no governo anterior. O senador decidiu atacar diretamente a atuação do ex-ministro, citando altas taxas de juros. Meirelles devolveu dizendo que há falta de informação e que não participou do governo Dilma, lembrando que os juros não subiram durante sua gestão na Fazenda.

2º bloco – os jornalistas da Band fazem perguntas, escolhendo quem responde e quem comenta

Sérgio Amaral questionou Marina com comentário de Meirelles: como resolver a questão do déficit fiscal. A candidata citou a reforma da Previdência. O ex-ministro deu uma “aula de economia”, citando a queda de juros para ajudar a resolver a questão. Marina concordou, mas disse que não deve ser feito da mesma forma que foi feito no governo Temer, quando Meirelles era ministro da Fazenda.

Rafael Colombo focou no tema de segurança, questionando Alckmin com comentário de Bolsonaro. O governador reconheceu o grave cenário e diz que seu governo em São Paulo reduziu bastante o número de mortes, afirmando que irá enfrentar o crime, principalmente nas fronteiras do País, criando uma Guarda Nacional para proteger as áreas rurais. O deputado disse que a criminalidade aumenta por uma “equivocada” política de direitos humanos, defendendo o direito das pessoas de se armarem. Alckmin rebateu dizendo que irá focar na questão dos jovens e nas fronteiras para resolver a questão de segurança.

Lana Canepa questionou Álvaro Dias com comentário de Daciolo sobre a violência contra as mulheres. O senador citou o número de mortes dos jovens, dizendo que é maior que na guerra do Vietnã, falando como solução o combate às drogas.

Fabio Pannunzio para Ciro Gomes com comentário de Alckmin: Reforma trabalhista e da Previdência. O ex-governador reclamou do atual governo, dizendo ser contra a atual reforma trabalhista e afirmou que o atual sistema previdenciário é insustentável. Disse que irá propor uma mudança, mas de forma diferente. Alckmin elogiou a reforma trabalhista, dizendo que foi um bom início para melhorar, também criticando o sistema previdenciário.

Sérgio Amaral para Daciolo com comentário de Boulos: questionou as propostas de investimento diante de um grave déficit fiscal. Daciolo disse que a atual crise é “mentirosa” e falou em sonegadores e caloteiros. Boulos afirmou que o problema do Brasil não é falta de dinheiro e citou medidas, como combater o que ele chama de “bolsa banqueiro”.

Rafael Colombo perguntou para Meirelles com comentário da Álvaro Dias sobre a entrada de venezuelanos no País. O ex-ministro disse que a situação é dramática e não pode deixar o Brasil virar a Venezuela. Ele afirmou que irá trabalhar para resolver a situação doméstica, com ajuda em Roraima. Álvaro Dias seguiu a mesma linha e aproveitou para criticar os antigos governos que apoiaram a Venezuela.

Lana Canepa perguntou sobre aborto para Boulos com comentários de Marina. O candidato disse que ninguém é “a favor” do aborto, mas questionou a situação das mães que não têm dinheiro para cuidar de suas situações. Ele aproveitou e falou da proposta de creches e atendimento no SUS para ajudar as mães.

Fabio Pannunzio fez uma pergunta sobre educação para Bolsonaro com comentário de Ciro Gomes. O deputado citou os colégios militares e disse que são um bom exemplo para a educação, sendo melhores que as escolas públicas e privadas. Ciro disse que é preciso mudar o padrão de ensino no Brasil.

3º bloco – os candidatos fazem perguntas entre eles

Álvaro Dias para Alckmin: o que ele acha sobre a Lava Jato. “É uma conquista da sociedade”, disse o governador, complementando que deve-se ampliar a operação, combatendo o chamado crime do colarinho branco.

Meirelles também questionou Alckmin, desta vez sobre programas sociais, elogiando o Bolsa Família e criticando o programa de mesma linha do estado de São Paulo. O ex-governador também elogiou o Bolsa Família e disse que vai ampliar o programa. O ex-ministro rebateu citando as críticas do PSDB, que chama o programa de “Bolsa esmola”.

Bolsonaro questionou Daciolo sobre os acordos futuros e “loteamento” dos cargos. Daciolo “ignorou” a pergunta e criticou as falas de todos os candidatos, focando em Alckmin, dizendo que é preciso fazer mudanças e não apenas falar. Bolsonaro rebateu dizendo que as pessoas não sabem os nomes dos ministros e que ele é o único que tem capacidade para não fazer este fatiamento de cargos.

Alckmin questionou novamente Marina Silva, desta vez sobre educação. Marina disse ser o “milagre da educação” por ser analfabeta até os 16 anos e hoje ser professora. Ela afirmou que irá focar na qualidade do ensino. Os dois concordaram em seus discursos e evitaram se atacar.

Marina Silva questionou Ciro Gomes sobre a transposição do rio São Francisco. O ex-governador elogiou bastante o trabalho de Marina com o meio ambiente e falou que irá trabalhar para melhor a infraestrutura do país e realizar trabalhos na região.

Boulos perguntou para Meirelles dizendo que ele é o candidato de Temer e dos banqueiros. O ex-ministro disse que é o candidato da renda e do crescimento econômico. Ele deu uma pequena cutucada no questionador, lembrando que foi escolhido para ser ministro no governo Lula, passando então a destacar o seu trabalho em diferentes governos.

Cabo Daciolo questionou Ciro Gomes sobre o chamado plano URSAL, em que teve como resposta que o ex-governador não sabe do que está sendo falado.

Ciro questionou Bolsonaro sobre as pessoas com nome no SPC, com o deputado dizendo que o problema vem do antigo governo e devolvendo a pergunta. O ex-governador criticou o governo Dilma nesta linha e disse que ajudará estas pessoas que têm dívidas.

4º bloco – os jornalistas da Band fazem as perguntas e escolhem quem responde

Fabio Pannunzio para Daciolo sobre as greves, com comentário de Meirelles, citando as greve ilegais de policiais que ele apoiou. Ele respondeu dizendo que foi o único que esteve “dentro” da greve dos caminhoneiros, criticando que as reivindicações não foram atendidas. Ele disse que se eleito irá abaixar o preço do diesel em 50%. O ex-ministro afirmou que o Brasil não pode ficar refém de certas corporações, criticando a paralisação de serviços.

Lana Canepa questionou Álvaro Dias com comentário de Daciolo sobre como combater a corrupção. O senador disse que quer transformar a Lava Jato em uma espécie de política permanente de combate a corrupção, citando mais uma vez que ele convidou o juiz Sérgio Moro para ser seu ministro da Justiça. Daciolo afirmou que os “engravatados” são o maior problema do País, que vai “pegar” estes corruptos e investir na Lava Jato.

Rafael Colombo para Ciro Gomes com comentário de Álvaro Dias, questionando a crise fiscal e citando o reajuste aprovado ontem pelo STF. Ciro disse que é uma imprudência o Supremo ter aprovado o aumento de salário (saiba mais aqui). O senador rebateu falando em reduzir o estado e fazendo reformas para acabar com esta situação.

Sérgio Amaral questionou Marina Silva, com comentário de Bolsonaro, sobre a competitividade do produto brasileiro. A candidata disse que o Brasil tem um problema de infraestrutura e que irá investir para melhorar a qualidade da produção e tornar o País mais competitivo.

Fabio Pannunzio para Alckmin, com comentário de Marina, se ele chamaria alguém com “má reputação” para o seu governo. O candidato disse que escolheria os melhores políticos nos partidos para assumirem os cargos, falando ainda em fiscalização e acabar com a corrupção.

Lana Canepa questionou Bolsonaro, com comentário de Boulos, sobre privilégios dados para os parlamentares e militares. O deputado disse que está na lei ele ter um apartamento em Brasília e afirmou que sua classe não tem “direito a nada”. Boulos disse não ter rabo preso para enfrentar esses privilégios.

Rafael Colombo para Boulos com comentário de Alckmin, questionou sobre a atualização da tabela do Imposto de Renda. Boulos falou sobre acabar com privilégios, taxando dividendos e grandes heranças, confirmando que irá mudar o IR para que “quem ganha mais, pague mais, e quem ganha menos, pague menos”. O ex-governador também diz que irá mudar o IR, falou em reajuste de tributos e taxação de dividendos.

Sérgio Amaral para Meirelles com comentário de Ciro Gomes sobre a grande burocracia que há no Brasil. O ex-ministro falou em usar a tecnologia para ajudar a população, citando ideias para registro de medicamentos usados. Neste momento, Ciro criticou Bolsonaro sobre uma proposta de droga para combater o câncer, gerando um pequeno bate-boca sobre o assunto, com o deputado pedindo direito de resposta, que foi prontamente negado.

5º bloco – os candidatos fazem suas considerações finais

Ciro Gomes corrigiu uma informação dada anteriormente sobre a esposa de Sergio Moro. Disse que houve um debate de alta qualidade e diz que está junto com a população para mudar o País. Falou em sua proposta de gerar 2 milhões de empregos em um ano e ajudar quem tem o nome no SPC.

Guilherme Boulos disse que vê muito cansaço com a política no Brasil, mas muita esperança. Ele citou Cristiane, que ele ajudou a entregar uma casa. O candidato afirmou ser um jeito novo de fazer política e que estará nas redes sociais para responder as questões dos eleitores.

Marina Silva disse que é candidata para que o País não fique apenas admirando as exceções que tem. Ela citou a si mesma como pessoa que lutou para aprender a estudar e conseguir viver de forma digna. A candidata falou em melhorar os transportes, saúde e desenvolver o sertão.

Jair Bolsonaro disse que é o único que pode mudar o destino do País. Diz que o Brasil precisa de um candidato honesto, com deus no coração e que seja patriota, que honre e respeite a família, que não permita “ideologia de gênero”. Ele falou em deixar para trás o comunismo e socialismo, aplicando o livre mercado.

Álvaro Dias citou mais uma vez o juiz Sergio Moro, dizendo que os candidatos precisam ter “credenciais” e lembra de seu governo no Paraná e diz ser preciso mudar a política.

Cabo Daciolo disse que a mudança do País começa em melhora o ensino. Ele citou ateus e outras religiões, dizendo que levará todos a ter fé em deus, encerrando com uma citação da Bíblia.

Geraldo Alckmin disse que irá organizar o trabalho de mudança do País e que está criando uma grande equipe, tendo governabilidade para fazer as reformas necessárias. Ele citou seus feitos no governo de São Paulo e afirma que irá mudar o país com determinação.

Henrique Meirelles afirmou que pretende ser presidente baseado em uma história, lembrando sua passagem pelo Banco Central em um governo que ele havia feito campanha contra anteriormente. Ele disse ser preciso olhar para o resultado do que foi feito em diversas áreas.

Termina o debate

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.