Do liberalismo à ditadura: os destaques de Bolsonaro no Roda Viva

Deputado foi o décimo presidenciável a participar do programa neste ano

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – Pré-candidato à presidência pelo PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) foi o convidado do Roda Viva, programa da TV Cultura, nesta segunda-feira (30). O parlamentar hoje lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários de primeiro turno que desconsideram a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso no âmbito da operação Lava Jato há quase quatro anos pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Apesar do bom desempenho na disputa até o momento, Bolsonaro deverá enfrentar dificuldades com a falta de tempo de televisão, recursos para a campanha e estrutura partidária. O deputado foi o décimo presidenciável a participar do programa neste ano. Veja alguns destaques:

Marca de governo: uma economia liberal

Questionado sobre um projeto que marcasse seu governo, caso eleito, Bolsonaro responde: “[Queremos] Um redirecionamento na política. Cansamos da esquerda, queremos um Brasil liberal, que faça comércio com o mundo todo sem viés ideológico”. O parlamentar quer que seu governo seja lembrado como uma gestão na qual a economia brasileira passasse a ser liberal.

“História não está bem contada”

Em um questionamento sobre o coronel da ditadura Carlos Alberto Brilhante Ustra e a prática de tortura: “Nós abominamos a tortura. Agora, naquele momento, o mundo vivia um clima bastante complexo, a tal da Guerra Fria: ou você pendia mais para os Estados Unidos, ou mais para a União Soviética. E este pessoal que se diz torturado — alguns acho que foram, aconteceu uma maldade, mas em grande parte, não. É uma forma que faziam de dizer que eram torturados para conseguir indenizações, votos e poder. Essa história não está bem contada na questão da tortura, porque só se lembra um lado da história. Se tivéssemos perdido a guerra naquele momento, hoje seríamos uma Cuba nesses 8 milhões e meio de metros quadrados”. O deputado disse que não convém lembrar as feridas daquela época e citou a Lei da Anistia.

“O sentimento que tenho nas ruas é que tenho mais votos que Lula”

Bolsonaro diz que, em qualquer lugar que vá, é recebido de forma “completamente diferente” do que foi o ex-presidente em suas caravanas. “O que o povo está vendo em mim é confiança, é credibilidade, é alguém diferente dessas pessoas que têm se apresentado…”. Sem a possibilidade do uso do voto impresso, proposta sua aprovada no Legislativo, o parlamentar sustenta que “as eleições, de qualquer forma, estarão sob suspeição”.

Bolsonaro agradece Eduardo Cunha

Questionado sobre seu passado vinculado a partidos com grandes quadros acusados de corrupção (PP, PTB) e sua proximidade em alguns momentos do ex-deputado Eduardo Cunha, o deputado aproveitou para agradecer o parlamentar pela participação na aprovação do voto impresso, que acabou barrado pelo Supremo Tribunal Federal. “Em raras vezes estive ao lado de Eduardo Cunha… Eu gostaria de ter estado mais vezes ao lado dele, inclusive. Agradeço a ele a aprovação do voto impresso”.

“Paulo Guedes é meu Posto Ipiranga”

Bolsonaro nega qualquer possibilidade de desavença com o economista de sua campanha, Paulo Guedes, nome bem avaliado pelo mercado e que busca trazer imagem de liberalismo econômico ao parlamentar. O deputado diz que não há “plano B” em caso de atrito. Em meio às dúvidas sobre seus reais compromissos liberais, Bolsonaro adotou discursos enfáticos em defesa a tais valores. O deputado disse que, além do economista, tem vários ‘postos Ipiranga’ em distintas áreas, como segurança e agronegócio.

“Que dívida é essa?”, questiona Bolsonaro sobre escravidão

Deputado critica política de cotas e a classifica como divisiva da sociedade. “Por que essa política de dividir o Brasil? De brancos e negros, de homens e mulheres, nordestinos e sulistas, homossexuais e heterossexuais?”. Questionado sobre um resgate da dívida da escravidão, ele respondeu: “Quando você for ver a história realmente, o português nem pisava na África, os próprios que entregavam os escravos”. “Que dívida é essa?”, questionou.

Regras diferenciadas na Previdência

O parlamentar disse admitir discussão de alterações nos regimes para militares, mas defendeu a necessidade de regras distintas em função de atribuições e direitos diversos aos das demais categorias. “Você pode modificar, alterar, propor correções para todas as categorias. Mas [no caso dos militares] não é privilégio. Nós, militares, temos hora para chegar, mas não temos hora para sair. Não temos fundo de garantia, hora-extra, direito a fazer greve. São categorias diferentes”.

“Não somos incorruptíveis”

Bolsonaro admite corrupção no meio militar, mas diz que lá é menor do que em outras áreas da política. “De vez em quando acontece, a gente pega no quartel o coronel, o capitão, o cabo, o sargento, acontece. Agora, é infinitamente menor a incidência de corrupção em nosso meio do que no meio político que está aí”.  

“Se o Congresso me der um excludente de ilicitude, nem precisa de forças federais lá”

O deputado disse que não renovará o prazo da intervenção federal implementada pelo governo Michel Temer no Rio de Janeiro. Ele também criticou a forma como a corporação policial é tratada pela imprensa e grupos defensores dos direitos humanos. “Você está tratando de gente com fuzil, que mata inocentes rindo o tempo todo. Nem carro blindado adianta mais ter no Rio, porque os caras vão de fuzil e a blindagem não pega. Você quer continuar tratando esses caras com direitos humanos?”.

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.