Com apenas 8 segundos na TV, Bolsonaro tem 36% dos votos ameaçados

Líder nas pesquisas sem Lula, deputado não consegue alianças que garantam grande exposição no horário eleitoral gratuito

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A implosão das negociações com o PR, do condenado pelo “mensalão” Valdemar Costa Neto, fez com que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) ficasse mais distante de ter direito a quase 1 minuto do total de 12 minutos e 30 segundos de tempo por bloco no horário eleitoral gratuito em rádio e televisão. As dificuldades na construção de alianças fazem com que o parlamentar, apesar de líder isolado nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, largue em desvantagem na corrida presidencial quando o assunto é estrutura para fazer campanha. Não que o PR sozinho fosse resolver os problemas de Bolsonaro, mas, a desistência da aliança traz ainda mais dificuldades.

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Como o próprio parlamentar indicou, a falta de tempo de televisão pode ser um grande problema, mesmo para uma candidatura que foca nas redes sociais. Palavras dele ao jornal O Globo há duas semanas, quando ainda negociava com o senador Magno Malta (PR-ES) a vaga de vice em sua chapa: “Vocês querem que eu fique sem televisão, é isso? Eles têm 1,7 bilhão para me ferrar. Está todo mundo contra mim, o centrão e a esquerda, estou sozinho. É R$ 1,7 bilhão que vai ser usado pela campanha deles para dar porrada em mim. Eu vou ficar com 8 segundos de televisão e as mídias sociais? No Facebook, até poucos meses, qualquer postagem chegava a 1 milhão, agora, para chegar a 100 mil, é um sacrifício”.

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Segundo pesquisa CNI/Ibope realizada de 21 a 24 de junho, Bolsonaro tem 17% das intenções de voto na simulação de primeiro que desconsidera a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atrás do parlamentar aparecem Marina Silva (Rede), com 13%, Ciro Gomes (PDT), com 8%, e Geraldo Alckmin (PSDB), com 6%. Com Lula, o deputado tem 15% das intenções de voto, enquanto o petista aparece com 33%. Na pesquisa espontânea, quando não são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados, Bolsonaro tem 11%, atrás de Lula, com 21%, ao passo que os demais candidatos não passam de 2% das intenções de voto. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais. O bom desempenho mostra certo nível de cristalização do apoio ao parlamentar.

A situação é similar à apresentada no último levantamento XP/Ipespe, realizado entre 9 e 11 de junho. Nos cenários estimulados, a pontuação de Bolsonaro varia entre 20% (com Lula) e 24% (com Fernando Haddad candidato pelo PT). Na pesquisa espontânea, o deputado tem a preferência de 15% dos entrevistados. A margem de erro máxima é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo. A pesquisa, porém, não traz apenas notícias boas ao deputado federal, sobretudo agora, mais distante de uma aliança robusta para a corrida presidencial.

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De acordo com o levantamento, 37% dos eleitores dizem que a televisão será o meio com maior influência sobre suas escolhas de voto. A internet e as redes sociais, por outro lado, foram apontados como principais influenciadores na escolha dos candidatos por 22% dos entrevistados, contra 12% representados por familiares e amigos. O estudo também mostrou que, quatro anos atrás, 51% dos entrevistados decidiram seus votos depois do início do período de campanha, sendo 16% após o último debate realizado entre os candidatos e 15% no próprio dia da eleição. Outros 39% disseram ter decidido em quem votar antes do início da campanha eleitoral.

Caso o comportamento se mantenha, este será outro fator a ampliar a influência da TV no processo de escolha dos candidatos, o que tende a ser ruim para Bolsonaro. Com pouca exposição nos meios tradicionais, o militar na reserva pode ser alvo de ataques de adversários e ter pouco espaço para defesa. Isso poderia favorecer uma erosão de votos em certos grupos. Caso vá para a disputa com menos de 10 segundos de exposição no horário eleitoral, Bolsonaro certamente verá um crescimento dos riscos associados a um trabalho de desconstrução de sua imagem na propaganda eleitoral.

O cruzamento de dados com as intenções de voto dos eleitores mostra que o deputado é o candidato mais exposto ao grupo que vê a internet e as redes sociais como os principais fatores a influenciar suas decisões de voto. Bolsonaro é conhecido pelo maior engajamento de seus eleitores nas redes. 31% de quem hoje declara voto no pré-candidato do PSL se diz mais influenciado por essas novas plataformas.

As expectativas de pouco tempo na televisão — salvo se houver construções de alianças em torno de sua candidatura — incentivam uma estratégia digital, mas também distanciam o parlamentar de determinadas faixas de eleitores. Apesar da influência das redes sobre o voto de parcela significativa, 36% dos que hoje apoiam Bolsonaro admitem que a televisão será o principal fator a pesar sobre suas escolhas. O patamar é menor em comparação com outros candidatos, mas ainda é um calcanhar de aquiles para a campanha do deputado.

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Fonte: XP/Ipespe, BR-09898/2018

Tal maioria, se mantida ao longo do processo, poderia indicar um grupo de mais de 10 milhões de eleitores, dentro de um total de 146 milhões de brasileiros aptos a votar, com maior chance de mudar de opinião sobre o apoio hoje dado a Bolsonaro, em função da maior influência da TV sobre a decisão. Evidentemente, falta de tempo não representa indicador qualitativo para os eleitores, mas é um obstáculo significativo para a manutenção de apoio ao deputado, que será alvo e terá dificuldades para rebater ataques de adversários.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.