Por que a maioria dos partidos ainda não decidiu o que fazer nas eleições?

Com cenário profundamente incerto, siglas optam por adiar realização de convenções para definir posição no pleito

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Está marcado para a próxima quinta-feira (5) um encontro entre líderes de PP, DEM, PRB, Solidariedade, PSC e PR que pode definir os rumos que o bloco de partidos pode seguir na eleição presidencial. Conforme noticia o jornal O Globo, apesar do discurso oficial de união, o risco de uma fragmentação é crescente.

Atualmente há divergências entre as legendas sobre a candidatura a ser apoiada: Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) ou Álvaro Dias (Podemos). Do lado do PR, até uma aliança com o deputado Jair Bolsonaro (PSL) é avaliada. Juntas, as seis legendas têm 174 deputados e um financiamento eleitoral superior a R$ 650 milhões e quase um terço do tempo da propaganda eleitoral gratuita em cadeia nacional.

Leia também: Próximo presidente eleito pode enfrentar fantasma do impeachment a partir de 2020

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Os rumos, contudo, ainda não estão claros, sobretudo com o elevado nível de indefinição da corrida presidencial. Uma das consequências deste quadro é a decisão dos partidos de retardar a realização das convenções partidárias, com prazo determinado pela Justiça Eleitoral entre 20 de julho e 5 de agosto.

“Neste ano, estamos com o calendário de convenções atrasado em relação a 2014. Este momento, em que estávamos acostumados a ver os partidos decidindo com quem iriam ou que candidatura apoiariam, foi postergado para o fim de julho ou começo de agosto”, observou o analista político Paulo Gama, da XP Investimentos, no último programa Conexão Brasília. Segundo ele, o atual cabo de guerra entre os partidos é natural.

“O bloco não é unido e os partidos internamente não são unidos. É possível, inclusive, haver coalizão pelo tempo de televisão, mas não haver coesão no apoio”, explicou. Um dos exemplos mais clássicos das divisões internas está no próprio MDB, partido que tem Henrique Meirelles como pré-candidato no momento. Conforme pontua o especialista, o ex-ministro da Fazenda já sabe que não pode contar com o apoio dos senadores Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Jader Barbalho (PA).

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“O que conseguimos saber é que cada um está pensando no próprio [interesse]. Se for melhor para eles continuar negociando em conjunto, para ver se conseguem uma posição mais vantajosa lá na frente, seguem em conjunto. Se perceberem que há divergências insanáveis, não vejo dificuldade nenhuma de eles romperem esse bloco e que cada um vá para um lado”, complementou Gama.

Ninguém quer errar e apoiar uma candidatura que saia derrotada no processo. E, neste difícil processo decisório, o tempo também conta: quem bater o martelo antes tem maiores chances de ter as melhores posições na coalizão formada. Conforme explicou João Villaverde, analista sênior da Medley Global Advisors, no último Conexão Brasília, ao contrário de eleições anteriores, hoje paira um nível de incerteza extremamente elevado, o que dificulta a escolha dos partidos.

“Agora a gente não faz a menor ideia de quem será o próximo presidente da República. Parece 1989. Imagine os políticos, cuja maior parte continuará no Congresso Nacional. Eles ficam olhando e se perguntando: ‘com quem vou conversar no ano que vem?’. Ninguém quer errar. E o tempo está passando. Daqui a 30 dias, ainda não teremos certeza sobre quem será candidato e quem não será, com as eleições chegando”, observou.

Na avaliação dos especialistas, a construção de alianças segue sendo relevante para o desempenho de um candidato em uma corrida presidencial, a despeito do peso que novas tecnologias têm conquistado nos últimos anos. “Quando Ciro Gomes conversa com DEM e PP, ele não espera, assim como esses dois partidos, que seus eleitores típicos votem nele caso a aliança seja fechada. Mas por que essa conversa acontece? Por dois fatores: 1) tempo de TV para ganhar as eleições. É um país com 60 milhões de pessoas, segundo o IBGE, que não têm acesso a internet. É um percentual muito grande, que só vai descobrir quem é candidato a partir de 31 de agosto, quando começa a campanha na televisão e no rádio. Além disso, pessoas estão vendo televisão porque estão desempregadas; 2) O segundo fator é governabilidade. Porque quem quer que vença terá que sentar e conversar com as bancadas do DEM, PP, PTB, Solidariedade”, explicou Villaverde.

Para ele, o jogo de alianças segue relevante e o presidente que não tiver condições de participar deste sistema corre crescentes riscos de sofrer impeachment, sobretudo após o primeiro ano de mandato (saiba mais clicando aqui).

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Calendário de convenções

O cenário indefinido tem levado partidos a postergarem a definição de candidaturas ou alianças. As expectativas são de que siglas consideradas “chave” para o processo batam o martelo mais ao final do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, entre 20 de julho e 5 de agosto.

PARTIDO DATA EXPECTATIVA
DEM
MDB Reunião para definir data em 03/07
Novo
PCdoB 1º de agosto
PDT 20 de julho
Podemos
PP Reunião para definir data em 04/07
PPS Reunião para definir data em 09/07
PR 4 de agosto
PRB
PSB Reunião para definir data em 10/07 Último dia
PSC
PSD
PSDB Sem data Final do calendário
PSL
PSOL
PT 28 de julho
PTB
Solidariedade Reunião para definir data em 5 de julho Fim de julho

Fonte: XP Investimentos

Em reportagem publicada nesta terça-feira, o jornal O Estado de S.Paulo lembra que o cenário que hoje se desenha é distinto ao da eleição de 2014, quando seis partidos realizaram suas convenções logo na primeira semana do período estabelecido pela legislação: MDB, PSDB, PV, PSC, PSTU e PRTB. A pulverização de postulantes e a baixa pontuação nas pesquisas de intenção de voto seriam algumas das justificativas para o quadro de maior indefinição.

“Essas próximas semanas serão o momento em que os partidos têm as reuniões de suas executivas, quando eles deliberam sobre as datas das convenções. O que dá para perceber é que todo mundo está querendo empurrar um pouco para frente. A tendência é que tenhamos isso para a última semana de julho ou a primeira semana de agosto. Todo mundo está tentando empurrar para frente o máximo possível para tentar sentar na janelinha, mas do avião certo”, observou Gama.

Conforme pontua Villaverde, há uma estratégia de marketing também por trás da escolha das datas para a realização das convenções. “É bom lembrarmos que não só é uma exigência legal, os partidos são obrigados a fazer convenção, mas é também um momento muito especial da campanha, já que terá acabado a Copa do Mundo e a exposição será total. No dia 20 de julho, por exemplo, à noite, todos os telejornais vão dar Ciro Gomes candidato à presidência da República. Ele vai ter uma grande exposição. Depois, vai ser o mesmo com o PSDB de Geraldo Alckmin, e assim por diante. É um momento de largada mesmo, de muita exposição que eles precisam. Portanto, estar no começo [da agenda de convenções] ou no final é muito interessante. Eles também fazem esta conta, até do ponto de vista de marketing”, observou.

Assista à íntegra do programa Conexão Brasília pelo vídeo abaixo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.