“Quem está ganhando não é o Lula, não é o Bolsonaro, é o Mr. X”, diz Rabello de Castro

Para o ex-presidente do BNDES e pré-candidato pelo PSC, quem tem despontado como verdadeiro líder nas pesquisas, é a insatisfação do povo com a política tradicional

Fredy Alexandrakis

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SÃO PAULO – O pré-candidato do PSC (Partido Social Cristão) à presidência, Paulo Rabello de Castro, retorna à cena política com determinação renovada. “Agora, a bronca é comigo”, conta o ex-presidente do IBGE e do BNDES (em 2016 e 2017, respectivamente) ao podcast da Rio Bravo Investimentos. Embora reafirme seu respeito pelo presidente Michel Temer e sua equipe, o economista não esconde sua frustração em assistir ao que considera ser “um país que há 40 anos está parado no mesmo lugar”.

Segundo Castro, esse marasmo é resultado da deficiência de ideias e propostas do establishment, do qual ele faz questão de se distanciar, apesar de ter aceito os convites da gestão Temer à presidência de órgãos públicos em duas ocasiões. O pré-candidato rejeita classificações à direita ou à esquerda e se posiciona como “centro-avante”: “eu estou avante desse nada que é a falta de proposta sobre como nós vamos reformular o país”.

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É nisso que ele aposta como seu diferencial, dada a largada das campanhas eleitorais. Não lhe espantam os resultados inexpressivos que seu nome tem angariado nas pesquisas de intenção de voto: “eu migrar rapidamente para [o conhecimento da] massa da população é quase uma impossibilidade, a menos que a força das minhas ideias seja muito grande, e ela é”.

Quem tem despontado como verdadeiro líder nas pesquisas, em sua visão, é a insatisfação do povo com a política tradicional. “Não é o Lula, não é o Bolsonaro”, argumenta, “é o Mr. X, do ‘não quero mais votar ou estou indeciso ou vou, inclusive, anular minha cédula ou votar em branco, talvez nem apareça lá, porque eu não estou mais para votar”. Assim como outros pré-candidatos, Paulo Rabello de Castro conta com essa insatisfação para fazer valer sua voz nas urnas em setembro.

Confira os destaques da entrevista:

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RB: No ano passado, a Fundação Perseu Abramo, think tank do Partido dos Trabalhadores, divulgou uma pesquisa realizada na periferia de São Paulo. O título do trabalho é “Percepções na periferia de São Paulo”. Para surpresa de muita gente, aquele documento revelava uma intensa presença dos valores liberais, do individualismo, da competitividade no imaginário da população e também uma força da religião. O seu ingresso no Partido Social Cristão tem a ver com uma leitura de que há parcela dos eleitores identificados com essa agenda?

PRC: A minha adesão ao PSC foi por compatibilidade de gênios. Eu acho que as teses e valores levantados no estatuto do partido estão corretas. Eu defendo a família, a família tradicional, eu defendo a vida desde o início, a não violência, eu defendo as instituições democráticas e o Estado de Direito e, principalmente, defendo a liberdade, a liberdade de iniciativa.

E é isso que consta como declaração de preferência na grande massa de entrevistados nessa pesquisa da Perseu Abramo, que tem essa curiosidade. Por ser um instituto do PT, surpreendeu e até chocou negativamente a toda a comunidade do PT, que estava dormindo em berço esplêndido, não sabendo que o mundo está caminhando para a valorização do indivíduo, das agendas individuais, mas dentro de um princípio geral de solidariedade, que é esse princípio religioso que eu carrego dentro de mim e que o partido defende. Só a Perseu Abramo que não viu, a banda já passou e nós já estamos no Brasil do futuro enquanto existe muita viúva de pensamentos coletivistas do passado.

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RB: Independentemente disso, a posição da sua candidatura nas pesquisas está abaixo das suas expectativas. A essa altura, você já esperava estar em uma posição melhor?

PRC: De jeito nenhum. A minha posição inicial – e não poderia deixar de ser de outra forma – é um nada. Eu era conhecido para o mercado financeiro, para a comunidade acadêmica e empresarial, que em termos populacionais é um nada. Eu migrar rapidamente para a massa da população é quase uma impossibilidade a menos que a força das minhas ideias seja muito grande, e ela é. Eu sou a diferença nessa eleição, eu sei fazer.

RB: A estrutura do partido não te preocupa nesse sentido?

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PRC: A estrutura do partido é excelente. O PSC vai surpreender e muito no resultado eleitoral. Faço um duplo prognóstico. Os partidos ditos médios e pequenos vão crescer, porque o país está farto da política tradicional.

A população, de um modo geral, não quer mais nem ouvir falar em políticos e é por isso que quem está ganhando em primeiro turno disparado, vou dizer quem é: não é o Lula, não é o Bolsonaro, é o Mr. X, porque é o Mr. X do “X, não quero mais votar ou estou indeciso ou vou, inclusive, anular minha cédula ou vou votar em branco, talvez nem apareça lá, porque eu não estou mais para votar”.

Este grupo de insatisfeitos, no entanto, quer um Brasil melhor, sonha com um país reformulado, mas precisava ter certeza antes de desperdiçar seu voto. Eu acho que é essa exponencial que nós vamos percorrer, a exponencial de adesão a uma surpreendente proposta nova que, no entanto, além de ser liberal, é popular.

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RB: Em 2016, a sua presença na política se deu com a assunção do IBGE. No ano seguinte, 2017, com a Presidência do BNDES. Por que sair dessa presença próxima do governo Temer para uma candidatura que está fora do quadrante do establishment político? E uma outra questão: existia uma expectativa da sua parte em ser o candidato oficial do governo?

PRC: Nunca. Na realidade, ao atender ao convite do presidente Temer, atendi a uma convocação do país. Uma convocação íntima, para começar, de que já não havia mais a quem ajudar, porque há 40 anos eu venho ajudando outros candidatos. Desde que, ainda no início dos anos 80, comecei a formular para que governos utilizassem ideias, nós temos tido um alto grau de frustração porque esses governos têm sido pautados por uma falta de compromisso com aquele plano que, muitas vezes, nem chegam a adotar.

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Portanto, agora a bronca é comigo. Não vou mais terceirizar plano de governo, nós vamos ser os portadores desse plano e, mais do que isso, de um compromisso de reformular um país que há 40 anos está parado no mesmo lugar. E eu agora, falando tecnicamente, posso te atestar, do alto do meu PhD: nós não fomos a lugar algum.

Algumas coisas até melhoraram. O agronegócio, que por acaso todo mundo enjeitava lá nos anos 80 como o setor retardatário, e o Paulo Rabello era um dos dois ou três em milhões que dizia “Não, este é o setor que vai pagar a conta, que vai despontar como grande setor arrojado e a gente devia dar um pouco mais de atenção para esse setor que nós consideramos retardatário”.

E eu me pus no jogo, aceitando o convite para ir ao BNDES para fazer a preliminar. Fiz uma preliminar extraordinária ao fazer um censo agropecuário rodar por metade do preço que estava orçado. Ao invés de R$ 1,6 bilhão, o melhor censo agropecuário de todos os tempos vai ser agora publicado, a partir desse mês ou do mês que vem, e por metade do preço, por R$ 800 milhões. Ou seja, economizando R$ 800 milhões em uma única rubrica.

E depois – e isso foi um incidente por causa da saída da Maria Silvia – atendi a um convite apurado do presidente para ocupar um espaço, o que também foi excelente porque passei de uma área estatística para uma outra área financeira, onde reformulei completamente o banco em dez meses. Eu acho que foi bastante para a gente ficar orgulhoso do trabalho.

Isso não tem nada a ver com aderir a governo Temer nem muito menos participar de equipe econômica do governo Temer, porque nós sabemos que equipe econômica do governo Temer é a equipe do ministro Meirelles lá na Fazenda, haja vista que ficou o Guardia de ministro da Fazenda. Nós nunca fizemos nenhuma reunião.

Essa é até uma curiosidade que muitos não devem saber no mercado financeiro, pensando que uma equipe de governo se reúne para debater. Este é um problema, e disso não faço uma denúncia, mas apenas uma constatação de que os últimos governos têm sido assim. Governos que são samba de uma nota só, baseados em plano nenhum, normalmente monotemáticos no sentido de reduzir a taxa de inflação para ver se os mercados se acalmam.

RB: Essa constatação vale para o governo Temer também?

PRC: Também, mas eu dou essa informação a título de uma constatação para uma reflexão da elite pensante econômica do Brasil, porque essa elite é que tem que pensar profundamente se deve depositar tantas esperanças em cima de plano nenhum, porque os mercados não são de planos, os mercados são funcionais concorrencialmente.

Agora, se um ente qualquer se apresenta como governo, governo não é mercado, então o governo tem que, primeiro, interferir o menos possível, mas ele enquanto governo precisa ter um plano, porque a função de governar é a função de planejar futuro e indicar caminhos, e é o que nós não temos tido.

RB: Quem vai ser o Paulo Rabello de Castro do governo Paulo Rabello de Castro?

PRC: O mesmo, porque só faltava essa. A gente depositar fé nas nossas convicções de 40 anos de construção para depois ir lá fazer uma outra coisa diferente. Sempre andamos insistindo nas mesmas teses: o Estado de Direito, a valorização da família como núcleo básico de funcionamento da sociedade, a liberdade de iniciativa, que no Brasil é praticamente nenhuma, porque como você tem o manicômio de impostos e a taxa de juros real provavelmente mais elevada do mundo no sistema bancário, mais uma selva burocrática impossível de ser vencida, e ainda mais com a incerteza jurídica, porque regulamos demais e regulamos mal.

Normalizar a taxa de juro, que significa uma reforma financeira em relação a recolhimentos compulsórios, operações compromissadas, toda maneira de gerir a dívida pública que afeta a taxa de juros. Obviamente, o equilíbrio fiscal nominal. Uma medida por dia para reduzir a burocracia durante pelo menos 365 dias. Ou seja, mais de 300 medidas para realmente desbastar essa selva burocrática. E, finalmente, tirar o governo da hiper-regulação.

Me assusta que o establishment, como você perguntava, jamais tenha se sentado para conversar de fato sobre renovar o Brasil de fato. Esse é o desafio que eu faço ao establishment. Por isso que eu não posso jamais ser candidato nem do Centro nem do establishment. Agora, não sou um candidato por acaso da Direita, nem da Centro-Esquerda. Portanto, no máximo, se você quiser, eu sou um centro-avante. Eu estou avante desse nada que é a falta de proposta sobre como nós vamos reformular o país.

RB: Você não tem receio de ficar identificado com o governo Temer, portanto?

PRC: Não, eu respeito o presidente Temer. Tenho lealdade a quem teve a simpatia de nos convocar, como convocou outros profissionais. No nível técnico, são grandes nomes. Eu posso citar o Marcos Cintra na Finep e por aí vai. Esse segundo escalão do presidente Temer é algo sobre o qual não podemos colocar nenhuma crítica. No discurso político a gente quer embolar isso com o primeiro escalão, que eu não vou nomear aqui, porque não interessa saber se é o ministro A, B ou C. Nós temos que pensar agora é no futuro.

RB: Falando em futuro, uma das questões mais importantes desta eleição, além da economia, é segurança pública. Qual é a proposta para debelar a escalada da violência urbana no país? Os números recentes mostram um cenário bastante tenso, aterrador.

PRC: Com certeza. O cenário atual é que deve pautar a política para o futuro. De que modo? Estabelecendo desde logo o que é essencial na política de segurança: coibir o número de homicídios dolosos, os assassinatos premeditados – vamos dizer o nome -, que ocorrem, segundo as últimas estatísticas, ao nível de 62 mil por ano, dos quais 33 mil, portanto mais de metade, jovens do sexo masculino, entre 15 e 19 anos, negros ou pardos.

Portanto, uma população completamente segmentada. Como ex-presidente do IBGE – e não precisaria nem ter passado por lá, como economista eu já sei qual é a principal política. A principal política é tirar a oferta de jovens vulneráveis desse mundo da bandidagem. É o jovem nem-nem, que nem estuda nem trabalha, que normalmente está sentado ali ociosamente em uma comunidade, porque ele não tem perspectiva de vida nenhuma.

RB: E como a gente dá essa perspectiva?

PRC: Através de 500 CETs, Centros de Educação para o Trabalho, que serão centros onde nós vamos assinar contratos de adesão a um processo educacional vestido de primeiro emprego.

Portanto, um tipo de pedagogia diferente de Ensino Fundamental, Ensino Médio, levando em conta que esse jovem pode chegar praticamente ainda analfabeto funcional ou já está até egresso de um abandono de segundo grau e fazer, obviamente, um desenho pedagógico totalmente pró-mercado, pró-profissionalizante, com ajuda de um Sesi. Na realidade, de um Senai, de um Senac. Também até na parte moral e cívica da colaboração de denominações religiosas na parte pedagógica. Todo um processo de disciplinamento que pode ter a colaboração também das Forças Armadas embora sendo uma espécie de educação civil voluntária, mas ela no finalzinho tem também uma formação adaptada do antigo serviço militar, três meses possivelmente.

A meta é reduzir em pelo menos 36 mil homicídios por ano, vidas poupadas nessa faixa. Essa grande chaga precisa ser cicatrizada. Além do mais, existe um outro aspecto, que significa dizer montar um serviço de integração de polícias e de inteligência, que começa a acontecer através do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, uma iniciativa correta do presidente Temer embora tardia. Nós precisamos de, em nível nacional, fazer as polícias se conversarem. Elas não se conversam às vezes nem dentro do próprio estado, entre a Polícia Civil e a Polícia Militar.

RB: Há dois anos, economistas diziam que as reformas eram absolutamente necessárias – Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência – para que o Brasil avançasse do ponto de vista econômico. Qual é a sua avaliação a respeito disso e qual é o impacto dessas reformas em um eventual governo Paulo Rabello de Castro?

PRC: Essas reformas no campo econômico estão escritas há 40 anos em várias versões, que nem se atualizaram muito, porque, como eu digo e vou repetir, o Brasil não foi a lugar nenhum e eu me surpreendo com o grau de atualidade de escritos e propostas feitas nos anos 1980, 1990. As coisas nesse sentido – Previdência, impostos, estatais – só pioraram, então na realidade, para não me alongar demais em um tema que é vasto, mas é completamente interligado, diria que a mãe de todas reformas – que, na realidade, são mais do que reformas, são viradas – é a questão tributária.

Nós temos que desbastar essas categorias tributárias que existem só no Brasil, temos que tornar o sistema corretamente mais progressivo, isentando na base o imposto de renda do trabalhador que ganha até R$ 5 mil, rever o processo de repartição desses tributos em um novo pacto federativo, embora na partida a redistribuição tenha que ser neutra para que não haja dúvidas de que perdedores vão ter que pagar a conta de supostos ganhadores.

Para isso já tem toda uma formulação que nós, na época, no Instituto Atlântica e no Movimento Brasil Eficiente, já deixamos isso pronto e que está, inclusive, na mesa do presidente Temer.

RB: Qual é a sua proposta em relação às privatizações?

PRC: As privatizações são o nome de algo que a gente não sabe bem o que fazer. Qualquer empresa estatal hoje… E não tem nenhuma que possa ter esse nome de estratégico, talvez a parte eletronuclear seja a única exceção legal para ser revisitada no futuro.

Todas as demais estatais, incluindo até o BNDES, são capital do povo, só que a gente acha que capital do povo é capital do estado. Não há coincidência entre os interesses do Estado e os interesses do povo. Esse capital, inclusive porque foi montado com empréstimos do povo… Ou empréstimos ou fundos. O próprio BNDES, com o FAT; o setor elétrico, com empréstimos compulsórios que jamais foram pagos de volta; o setor habitacional, com recursos compulsórios do FGTS. O INSS, originalmente, tinha ativos estatais que foram solapados quando virou INPS e depois INSS.

Cadê o capital original? Esse capital todo tem que ser devolvido para o fundo do Regime Geral da Previdência Social. Uma vez lá e administrado com zero de politicagem, zero de corrupção, zero de banditismo e com total governança e compliance, os administradores desses fundos, que podem ser até as XPs da vida aí, é que vão determinar o ponto ótimo da venda dessas ações.

Se você quiser chamar isso de privatização, eu aceito, mas a privatização nesse momento não é um fator importante, porque eu vou estar trocando eventualmente no meu fundo do povo ativos em ações por ativos em caixa, que serão realocados e reinvestidos ou em outras empresas – em ações de outras empresas brasileiras ou até estrangeiras – ou em títulos públicos ou privados.

Portanto, é um novo mundo. Um novo mundo em que eu não seleciono qual é o grupinho brasileiro já enricado que vai ser o feliz detentor das ações daquelas empresas privatizadas. Não mais. Nós não vamos é deixar o povo ser ludibriado com as privatizações que ocorreram nos anos 90. Privatização no sentido dos anos 90 é enxugação de gelo, é encontrar um ganhador carimbado e pré-fabricado para ser o detentor de uma estatal. Eu também quero. Para ser financiado pelo BNDES, eu também quero.

RB: Uma última pergunta, Paulo. Qual é a chance da sua candidatura ser absorvida por outra legenda partidária?

PRC: Zero. Completamente zero. Zero vezes zero. E, para não haver dúvida, nós estamos muito confiantes que várias siglas vão começar a nos procurar para apoiar o programa, o plano de 20 metas, que é a base de toda negociação que pode haver entre a nossa candidatura e outros que queiram nos apoiar.

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