ENTREVISTA: Alckmin é “irrelevante” e centro terá que escolher quem apoiará no 2º turno, diz Paulo Guedes

O economista liberal que está conduzindo a campanha de Jair Bolsonaro recebeu o InfoMoney no escritório da Bozano Investimentos em São Paulo; ele explicou por que a social-democracia encerrará o ciclo de 30 anos governando o País e por que Jair Bolsonaro segue crescente nas pesquisas

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Após 30 anos de governos social-democratas no Brasil, chegou a hora de uma aliança liberal-democrata assumir a presidência do País, afirma Paulo Guedes, responsável pelo plano econômico do pré-candidato Jair Bolsonaro.

O liberal de carteirinha, que está com a missão de convencer investidores de que Bolsonaro levará adiante a tão sonhada agenda de reformas, recebeu o InfoMoney no escritório da Bozano Investimentos em São Paulo.

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Ao longo de 60 minutos de conversa (sendo que por 57 minutos apenas o Paulo Guedes falou), o economista atribuiu a manutenção de Bolsonaro na liderança das pesquisas eleitorais ao fato de eles terem identificado o que a população realmente espera de um governo. “A população hoje grita ‘segurança’, e não ‘economia’”.

Durante a conversa, ele recorreu ao celular para mostrar o vídeo gravado de uma palestra feita por ele em 2006, na qual ele projetava que a combinação da descompromisso fiscal com crescimento da corrupção levaria ao fim do ciclo social-democrata no Brasil “daqui uns 10 anos” – o que está sendo visto agora, explica.

Mesmo com um tom de voz calmo em toda a entrevista, Guedes não escondeu a irritação logo no início do papo ao ser questionado sobre as declarações do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) recentemente publicadas no twitter (ele disse que “Bolsonaro e o PT é a mesma coisa” e que por isso votar nele seria “andar para trás”).

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“Eu não tenho nada para falar do Alckmin. O Alckmin é irrelevante. Eu acho que o Alckmin é um bom homem num Titanic chamado establishment (…). O Alckmin não vai ganhar a eleição, mas a posição do PSDB e do centro no 2º turno vai ser importante”, disse o possível ministro da Fazenda em um eventual governo de Bolsonaro.

Ph.D pela Universidade de Chicago e fundador do Instituto Millenium (um ‘think thank’ disseminador do pensamento liberal), Paulo Guedes fez a carreira no mercado financeiro, tendo sido um dos fundadores do banco Pactual. Atualmente, ele é um dos sócios da Bozano Investimentos.

Confira os principais trechos da entrevista:

Alckmin irrelevante; pra onde vai o centro?

Eu não tenho nada para falar do Alckmin. O Alckmin é irrelevante. Eu acho que o Alckmin é um bom homem num Titanic chamado establishment, que perdeu a decência e está com um problema sério. O Alckmin não vai ganhar a eleição, mas a posição do PSDB e do centro no 2º turno vai ser importante. Ele vai para a esquerda com o Ciro Gomes ou ele fará parte de uma aliança de centro-direita para dar governabilidade para o Bolsonaro? Eu acho que, depois de 30 anos de social-democracia, vai haver uma aliança liberal-democrata, de centro, conservadores e liberais em torno de um programa liberal para a economia.

PT rival do PSDB? Tudo social-democrata

No Brasil, só houve governo social-democrata nos últimos 30 anos: teve o social-democrata de chão de fábrica com o PT, social-democrata de imposto de renda com o PSDB, até o próprio PMDB do Sarney era social-democrata. E o saldo final é um governo totalmente disfuncional. Algo muito errado foi feito nesses últimos 30 anos: social-democratas subiram em postos de trabalho por 30 anos, aumentaram gastos públicos por 30 anos — os gastos foram de 26% do PIB para 45% do PIB com a Dilma – os impostos subiram. Por isso eu acho engraçado que falam “liberal quer Estado mínimo”, ridículo, ninguém quer Estado mínimo, quer um Estado funcional. Porque hoje ele é mínimo e máximo ao mesmo tempo: ele é mínimo socialmente, porque não tem segurança, saúde, não tem nada, e ao mesmo tempo ele é máximo pois gasta 45% do PIB. É um Estado disfuncional e isso não foi sem querer, isso é uma história e o Alckmin é parte dela através de seus economistas, eles fizeram essa história. Eles que fizeram o Plano Cruzado, que foi um plano de congelamento de preços, mas que deu errado e gerou uma hiperinflação.

O Estado “inútil” que paga R$ 400 bi por ano em juros

Uma parte enorme desses 45% do PIB comprometido em despesas é o juro da dívida. Ela não brotou nem caiu da lua, ela foi consequência da estratégia social-democrata, que produziu um custo de dívida de R$ 4 trilhões, que hoje dá uma despesa de quase R$ 400 bilhões ao ano em juros. R$ 400 bilhões é um plano Marshall [na época foram US$ 13 bilhões, mas trazendo aos valores de hoje daria pouco mais de US$ 100 bilhões, o que dá os R$ 400 bilhões citados]. O que foi usado para reconstruir a Europa inteira no pós-guerra o Brasil usa todos os anos em juros da dívida, que é um dinheiro que não produz nada. Estamos reconstruindo uma Europa todo ano e não conseguimos acabar com a miséria. Então você fala, “ah, o liberal é contra o Estado”, claro que é contra o Estado, olha só o Estado inútil que você tem!

O grande erro dos sociais-democratas

Qual foi o grande problema de todas as estratégias sociais-democratas? A falta da dimensão fiscal. Faltou isso. O Plano Cruzado deu errado porque não tinha nem fiscal nem monetária. O Plano Collor deu errado porque não tinha nem fiscal nem monetária. O Plano Real deu certo, mas só para acabar com a inflação, que é um fenômeno monetário, só que para isso ele estagnou a economia. Ele combateu muito errado a inflação, pois ele usou freio monetário e aceleração fiscal. Isso provocou o descontrole do gasto público. Por isso que nesses 30 anos o juros ficou na lua e o endividamento entrou em bola de neve. Tivemos que subir impostos e hoje as despesas são para pagamento de juros, para o próprio funcionalismo público e para as aposentadorias. Ou seja, o governo virou uma grande agência de pagamentos, que gasta pelos erros do passado, do presente e do futuro. O passado dele são os juros; o presente é o funcionalismo público; e o futuro é a previdência pública. O pecado original de todos os planos de estabilização da economia brasileira foi nunca atacar frontalmente a dimensão fiscal.

O Brasil tornou-se assim o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores. É uma grande agência de transferência de renda, porque para pagar esses juros aumentou-se imposto, então o empreendedor pagava cada vez mais para o rentista. Aí o capital empreendedor começa a abandonar o país, os jovens começam a abandonar o país. O Brasil hoje, em vez de receber imigrantes como recebia no passado, agora é o contrário: os jovens brasileiros estão indo embora para tentar prosperar.

Estou contando tudo isso para dizer por que o Alckmin é irrelevante na eleição de hoje: ele é parte de um establishment dominante. Não adianta dizer “foi o PT”, na verdade foi a social-democracia, que está há 30 anos no governo, desde José Sarney, passando pelos dois mandatos do FHC e pelos 4 mandatos do PT.  E essa hegemonia é natural: como houve 20 anos de governo militar, a direita ficou associada a autoritarismo e ficou prescrita, então veio a esquerda e, com méritos, comandou a redemocratização. Mas o saldo final foi uma degeneração da política, a política foi corrompida. E junto com isso tivemos um crescimento econômico medíocre. Esse é o resultado final de um modelo que aumentou os impostos o tempo inteiro; que combateu a inflação com juros altos o tempo inteiro, porque não atacou a dimensão fiscal; que hesitou em privatizar… Você não lembra do Alckmin colocando e tirando o macacão [da Petrobras]?. Essas hesitações, essa agenda envergonhada… O FH fazia uma agenda liberal envergonhada. Ele mesmo dizia: “eu sou a vanguarda do atraso, tem que me apoiar porque ou sou eu ou é o caos”, ele tinha noção disso. Era o que diziam: as medidas não podiam ser nem tão rápidas que fossem uma vergonha para um social-democrata, mas nem tão devagar que fossem um desastre.

Os méritos dos 30 anos da social-democracia

Mas houve méritos nestes 30 anos de social-democracia? Claro que houve méritos, houve um aprendizado doloroso. Por exemplo, o tripé macroeconômico foi um aprendizado torto. Como eles aprenderam a política monetária? Com o erro do plano cruzado. Antes do Armínio [Fraga] criar o sistema de metas da inflação, sofremos com o dólar porque a programa de estabilização estava ancorado antes no câmbio, mas âncora de programa de estabilização é monetária ou fiscal. Quando o PSDB finalmente aprendeu a colocar o tripé macroeconômico de pé, as urnas disseram, “opa, seu tempo acabou. Saiam daí”, e os tucanos deram lugar ao PT. E lá vem o PT para aprender também. O Lula aprendeu rápido, mas o fiscal está solto. Só que o poder corrompe, e poder absoluto corrompe absolutamente: Correios, em vez de entregar carta, estava fazendo o Mensalão. A Petrobras, em vez de cuidar do pré-sal, estava fazendo o Petrolão. Se perderam. O diagnóstico de um liberal-democrata vendo 30 anos de experiência social-democrata é assim: eu avisei.

O bom é ter o equilíbrio nas duas correntes: você tem um [presidente] social-democrata mas logo depois um liberal-democrata, alternando. Social-democrata coloca os mais frágeis dentro dos orçamentos públicos, muito bom. O liberal-democrata bota a economia para crescer: a economia cresce e não deixa ninguém para trás. O Chile hoje está assim: é o [Sebastian] Piñera, que é um empresário, e a [Michelle] Bachelet. São os americanos com os democratas e republicanos. Aqui, eles gostam de brincar sozinhos com a bola. Daí quando aparece uma coisa diferente, já vira um “denúncia, perigo, vai ser o caos”. Não vai ser caos nenhum, por que vai ser o caos? Por que se não for um deles vai ser o caos? Nunca entendi.

A projeção feita em 2006 está acontecendo…

Em 2006, eu fiz esse diagnóstico que eu estou te falando agora. Eu disse na ocasião que acreditava que daqui uns 10 anos a esquerda estaria esburacada, porque toda essa escala de roubo iria continuar aumentando e atingiria todo o espectro político. Da mesma forma que depois de 20 anos de regime militar a direita ficou queimada politicamente. O diagnóstico feito em 2006 era relativamente simples: do regime militar pra cá, os gastos públicos saíram de 18% do PIB aos atuais 45% do PIB. São quase cinco décadas ininterruptas de crescimento, FH pegou com 28% e devolveu com 32%, Lula passou para Dilma com 36% e agora chegamos em 45%. Quer dizer, o Brasil acredita que governo que faz crescer, enquanto China, Rússia e outros vários acreditam que a ferramenta de inclusão social são as economias de mercado, Estado de direito, propriedade privada, integração competitiva e desburocratização. Essa combinação de centralização de poder e crescimento de gastos do governo é o que acaba com um país. Isso que provocou a Revolução Francesa no século XVIII e isso que colapsou a Venezuela. A União Soviética também foi assim. São episódios seculares.

Por isso eu me irritei no começo da nossa conversa [ao falar sobre o Alckmin]. O Alckmin vai vir com essas estratégias de querer polemizar com o Bolsonaro para ver se ele sobe. Ele é um cara do establishment, ninguém do establishment vai ganhar. Ele já vestiu o macacão da Petrobras e tirou, ele disse que era pelo desarmamento e agora que dar arma para o campo. Não adianta dizer “Ah, mas o Pérsio Arida vai ser meu economista”, eu sou amigo do Pérsio, adoro o Pérsio, mas o Pérsio já congelou preço, já botou juros na lua, agora o Pérsio vai fazer o que? Vai fazer o que todo o mundo vai fazer, não tem novidade. Vai fazer o que devia ter feito há 30 anos atrás. Naquela época, o buraco fiscal era pequenininho. Agora, é um buraco colossal e mal administrado, um legado horroroso. A coisa mais irônica que poderia acontecer é deixar um social-democrata ganhar essa eleição, para ele ter que limpar a faxina de 30 anos. Agora vão buscar um liberal correndo para consertar isso tudo — é uma missão desagradabilíssima.

Nosso grande erro foi não entender que a estrutura do Estado tinha que mudar. O único respiro que tivemos nesse período foi quando entrou o Collor e ele segurou os gastos públicos e abriu a economia. Foi o único vento que a gente teve ali de modernização, o resto aprendemos aos trancos e barrancos, mas aprendemos. Então tem que ter uma certa paciência, por isso eu reclamo da impaciência com o Bolsonaro. “Ah, o Bolsonaro não sabe economia”. Os economistas brasileiros que congelaram preços sabiam economia? Quem fez o cruzado sabia economia? Sabiam economia quando colocaram o juros em 70% ao ano? Então, isso aí é um ataque político, quer atacar e fala que não conhece economia. Esse negócio de não saber economia depende da equipe que ele montar, do plano que ele apresentar etc.

Por que Bolsonaro sobe nas pesquisas

É importante explicar por que o Jair está subindo nas pesquisas. Você sabe qual é a função básica de um governo? Se você perguntar isso para um social-democrata, ele dirá que é saúde, educação, mas não é isso. Essa pauta é recente na história, surgiu há uns 300 anos, depois da Revolução Francesa. A função básica de um governo é preservar vidas e propriedades, e surgiu 500 anos atrás, com Thomas Hobbes e depois com John Locke. É o que o Bolsonaro está dizendo, preservar vidas e propriedades. Então, o Bolsonaro está subindo porque ele significa uma expectativa de ordem sobre esta agenda que foi ignorada nos últimos 30 anos.

3,5 bi de eurasianos fora da miséria; e o Brasil?

E essa “ordem” precisa de um “progresso”, que não é a pessoa Paulo Guedes, mas sim as ideias liberais. Foram elas que transformaram em potência Inglaterra e os Estados Unidos, foi o que reconstruiu a Alemanha no pós-guerra e deu diretriz ao Chile. Essa história está acontecendo no mundo inteiro, e agora está acontecendo com 3 bilhões e meio de eurasianos que estão saindo da pobreza. Os chineses estão saindo do campo para a zona franca do sul, onde tem as plataformas de exportação e de lá começa a exportar para o mundo inteiro e se integra às grandes cadeias. Então, os mercados ocidentais estão tirando da miséria 3 bilhões e meio de eurasianos e não estão tirando da miséria os brasileiros, que estão aqui, dentro dos mercados. Por que isso? Legislação trabalhista, não tem proteção da vida, não tem proteção da propriedade, os impostos são muito altos, a burocratização é demasiada, a infraestrutura estatal é ridícula, nada funciona.

A população grita “segurança” é não “economia”

Muita gente que tem medo do Bolsonaro vem questionar o que será feito na economia. Essas pessoas não estão escutando um grito da população brasileira dizendo “eu não estou pensando em economia, eu estou pensando em segurança”. O povo brasileiro está gritando isso. Claro que o tema é importante, mas vocês têm que escutar a resposta também que é “ó pessoal, o mais importante hoje é preservação de vidas e propriedades, é o que o povo brasileiro está dizendo, vocês estão entendendo? Ô, Alckmin! Você está escutando, Alckmin? A urna está apontando para cá”.

Otimista com o discurso do Brasil

Eu estou otimista com o Brasil porque não dependemos de ninguém: a classe política está madura, ela já entendeu que precisamos de um programa fiscal. Todos os candidatos estão falando de programa fiscal. O Brasil não vai se perder, ele tem uma história muito rica e aprendeu bastante nesse meio tempo.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers