‘Discurso pró-mercado não é suficiente’, diz presidente do Goldman Sachs no Brasil

"Esse discurso pode até levar a um bom conjunto de medidas iniciais, mas elas (as medidas) só serão boas se sobreviverem", afirma Paulo Leme

Estadão Conteúdo

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A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de ter sido um “processo difícil”, foi positiva para o País, pois a Justiça cumpriu seu papel, na análise do presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme. Para ele, porém, a detenção não altera as eleições, que continuam incertas. Leme vê o ex-governador Geraldo Alckmin como alguém com capacidade de implementação política e conhecedor dos limites contábeis – “dois upgrades grandes” – e compara a candidatura de Jair Bolsonaro a “um voo a dez mil metros de altitude e duas vezes a velocidade do som” feito com um “bimotor da Segunda Guerra”.

A 20 dias de deixar a presidência do Goldman e passá-la para Maria Silvia Bastos Marques (ex-presidente do BNDES e da CSN), Leme afirmou não descartar propostas no setor público, mas negou participar de campanhas. Disse que continuará trabalhando com economia, sem dar detalhes. Sobre a economia brasileira, afirmou que, apesar da conjuntura política desafiadora, o trabalho de terraplenagem foi feito e há uma boa base para o próximo governo.

Em 2016, o sr. falou que o mercado havia dado ao presidente Michel Temer o benefício da dúvida. Como estamos agora?

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As partes de excelência são a redução da inflação – que também não surpreende devido à recessão -, o ajuste externo e o fato de conseguirmos atravessar uma crise de crédito com o sistema financeiro e bancário sólidos. Já não tão favorável é a parte da atividade econômica e do desemprego. O resultado é satisfatório, mas, na hora em que se tira o desempenho da agricultura e o resultado do saque do FGTS, o que sobra (do crescimento do PIB) está mais próximo a 0% do que de 1%. O crescimento é de natureza frágil e, apesar de haver uma queda do desemprego, ele ainda é muito alto. A parte preocupante é o déficit primário próximo a 2% do PIB e a dívida bruta indo para 80% do PIB. A parte de Previdência e os problemas dos Estados ainda não foram resolvidos. Outro grande desafio é o tamanho do Estado. Mas os resultados são bons dados os desafios políticos. A base é boa para um governo que se proponha a um trabalho sério.

O que muda no cenário brasileiro com a prisão do ex-presidente Lula?

Por um lado, e por mais difícil que tenha sido o processo, é positivo para as instituições que a Justiça tenha cumprido seu papel. Por outro, o cenário das eleições ainda é incerto. É difícil prever quem serão os candidatos e quem irá ganhar.

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Como o sr. vê esse cenário?

Um candidato do establishment político e empresarial brasileiro é o cenário mais provável para vencer as eleições. Mas, apesar desse cenário, com probabilidade de 60% a 65%, ser um candidato que trabalhe bem com o setor privado, ainda há os cenários de caudas (extremos).

O Jair Bolsonaro tinha um discurso estatizante e nacionalista, mas se associou ao economista Paulo Guedes, de discurso liberal. Como vê esse casamento?

Ter um discurso pró-mercado é uma condição necessária, mas não suficiente para um bom governo. Esse discurso pode até levar a um bom conjunto de medidas iniciais, mas elas (as medidas) só serão boas se sobreviverem. Que o establishment político possa trabalhar com esse novo ator é fundamental. Isso pode até acabar se comprovando possível, mas, para mim, não está claro. É assim: estou planejando voar a dez mil metros de altura e duas vezes a velocidade do som e me aparece um bimotor da Segunda Guerra Mundial.

Como vê a candidatura de Ciro Gomes, que caminha para uma posição mais nacionalista?

Não me sinto confortável em falar de candidatos. Prefiro falar de programas. Pagamos um preço enorme, não só pela recessão, mas especialmente pela perda de oportunidades numa economia global competitiva, por dez anos de erros na matriz econômica (do governo Dilma Rousseff).

As candidaturas dentro desses 65% que o sr. comentou, de candidatos que podem trabalhar bem com o setor privado, se equivalem? Geraldo Alckmin equivale a um Temer, por exemplo?

Há diferença na capacidade de gestão e de entrega política. Não adianta um outsider com um excelente programa se não consegue administrar forças complexas no Congresso e no STF. Há diferenças no plano político e maiores ainda na capacidade de gestão política. Sem entrar em nomes.

O Alckmin fez uma gestão preocupada com as contas públicas, mas não tinha um perfil liberal. Agora, colocou o Persio Arida, mais liberal, como coordenador de campanha. Que cara teria um governo Alckmin?

Seria um governo democraticamente eleito, o que traz uma estabilidade vantajosa em relação ao governo Temer. A capacidade de implementação política seria superior. Depois, não vai desafiar a lei da gravidade, ou seja, sabe que há limites contábeis. São dois upgrades grandes. Outro ponto é que, se precisamos de 30 grandes medidas econômicas e um governo entregar umas cinco, o resultado é grande, especialmente se atender às reformas previdenciária e tributária, além da abertura comercial, e conseguir dar previsibilidade ao setor privado. O Alckmin tem experiência e pode fazer muito melhor do que fez até agora.

O sr. participaria de algum governo? Seu nome já foi citado para o governo Temer e para a presidência de diversas estatais.

Não gosto de trabalhar com hipóteses. Dependendo da pessoa e do momento, acho que está tudo em aberto.

O sr. vai participar de alguma campanha?

Não. Não planejo participar. 

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