Paulo Guedes e o otimismo por falta de opção: “chegamos às reformas, vamos ter que fazê-las”

Durante apresentação em evento do Credit Suisse, fundador do Pactual disse que a Previdência "está gritando na nossa vista" e se não for feita agora, terá que ser feita em 2019 pelo novo presidente; Guedes também falou sobre suas primeiras impressões de Jair Bolsonaro, a quem tem se aproximado desde o final do ano passado

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Um dos fundadores do Banco Pactual e atualmente sócio da Bozano Investimentos, o icônico Paulo Guedes foi um dos palestrantes do primeiro de dois dias do LAIC (Latin America Investment Conference) 2018, evento promovido pelo Credit Suisse em um hotel na zona sul de São Paulo. O economista recapitulou inúmeros erros cometidos pelo Brasil nestes quase 30 anos de democracia para concluir que está otimista com o País, não por termos aprendido com estes erros, mas pelo simples fato de que reformas terão que ser feitas de qualquer jeito.

“Meu otimismo está no fato de que acabou o espaço para manobras. Chegamos às reformas e vamos ter que fazê-las”, disse Guedes na última terça-feira (30). “A Reforma da previdência está gritando na nossa vista (…) Por falta de coragem, estamos hipotecando o futuro dos nossos netos, isso está muito claro. Por isso, vai ter reforma. Se não tiver reforma, o próximo governo vai ter que fazer”, complementa.

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Ph.D pela Universidade de Chicago, fundador do Instituto Millenium (um ‘think thank’ disseminador do pensamento liberal) e ex-presidente do Ibmec (atualmente Insper), Guedes também falou sobre sua recente proximidade com o pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que inclusive citou o banqueiro como um dos possíveis ministros da Fazenda em um eventual mandato. “Estamos conversando, sim (…) Ele reconheceu que não entendia nada de economia e decidiu que procuraria alguém, mas não alguém que já tivesse passado pelo governo. Queria um cara que estivesse ‘na lua’ e eu, por acaso, estava na lua”, explicou Guedes.

O fundador do Pactual definiu Bolsonaro como um “cara correto” e que tem passado uma boa impressão, mas até isso virar um plano de governo “ainda tem tempo”. Ele aproveitou o tema para criticar o “patrulhamento” que vem sofrendo por essa proximidade ao deputado federal carioca. “Eu acho isso um absurdo (…) Eu já falei com a Dilma por achar que podia ajudar meu País, agora só por que o cara é capitão e fala palavrão eu não posso falar com ele?”, questiona.

Apesar dessa boa impressão que Bolsonaro tem causado a Guedes, vale mencionar que eles têm visões diferentes sobre a reforma da previdência: enquanto Guedes disse que ela está ‘’gritando’’ aos olhos do Brasil e terá que ser feita, Bolsonaro disse no último dia 12 de janeiro que votará contra a reforma caso ela seja colocada em votação em fevereiro.

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A programação do LAIC 2018 continua nesta quarta-feira (31) com apresentações de nomes como Pedro Parente (presidente da Petrobras), Wilson Ferreira Jr (presidente da Eletrobras), Frederico Trajano (CEO do Magazine Luiza), Marcio Appel (sócio-fundador da Adam Capital), Rogério Xavier (gestor da SPX Capital) e Michael Bloomberg (fundador da Bloomberg e ex-prefeito de Nova York).

As principais frases ditas por Paulo Guedes durante sua apresentação:

Otimista com Brasil
Eu acho que o Brasil vai dar certo. A gente está terminando um ciclo em que a lama estava até aqui (colocando a palma da mão estendida na altura da testa) e agora está aqui (descendo a mão na altura do peito). Você ainda sente o cheiro e diz “tá terrível”, mas tem que ver que antes tava bem pior.

Fiscal acelerado, monetária freado
O ruim de ficar velho é assistir de novo os mesmos erros. O Brasil não fez o que devia fazer, e continuou com a máquina de poder centralizado, promovendo uma série de subsídios e concedendo créditos). (…). Nós levamos tempo demais combatendo a inflação com programas inadequados. “Fizemos uma cirurgia de córnea com uma picareta” disse um tucano sobre a criação do real. Não podia ter existido essa falta de sincronia entre política fiscal e monetária. Não adiantava travar o monetário e liberar o fiscal. Quando você olha pra trás, percebe que freamos com uma perna a política monetária e aceleramos com a outra perna o fiscal.

Reforma da previdência
A reforma da previdência está gritando na nossa vista. Meu otimismo está no fato que acabou a margem de manobra. Chegamos às reformas, vamos ter que fazê-las. Por falta de coragem, estamos hipotecando o futuro dos nossos netos, isso está muito claro. Seu filho está desempregado para seu neto achar que vai ter previdência. Por isso, vai ter reforma. Se não tiver reforma, o próximo vai ter que fazer. Região da Eurásia está crescendo, EUA estão crescendo, tudo sem encargo trabalhista nem garantias previdenciárias. Se dá certo do lado de lá do mundo e dá certo do lado de cá, por que não dá certo aqui?

Proximidade com Bolsonaro
A ordem está conversando com o progresso. Não sou eu o progresso, é o mercado. Estamos conversando sim. É importante eu saber o que ele pensa e ele saber o que eu penso. Porque se ele vir a me chamar, ele sabe o que eu penso. Se o Bolsonaro fosse um cara que quer trazer regime militar, pessoal iria sair voando da campanha dele. Ele [Bolsonaro] reconheceu que não entendia nada de economia e decidiu que procuraria alguém, mas não alguém que já tivesse passado pelo governo. Queria um cara que estivesse ‘na lua’ e eu, por acaso, estava na lua. Bolsonaro é um cara correto, não tá fazendo graça. Tenho tido uma boa impressão das intenções dele. Mas até isso virar um plano de governo, tem tempo.

Eu acho um absurdo esse patrulhamento, serei sempre a favor da liberdade da falar com quem eu quiser. Eu já falei com a Dilma [enquanto ela era presidente] por achar que podia ajudar meu País, agora só por que o cara é capitão e fala palavrão eu não posso falar com ele?

Independência do Banco Central
A diferença do social democrata pro liberal democrata é muito clara: na dúvida, o primeiro aumenta imposto e o segundo corte gastos. Na dúvida, o primeiro controla o Banco Central, o outro dá autonomia. Bolsonaro me disse um dia que era contra a independência do Banco Central. Eu expliquei a ele porque é importante ter um Banco Central despolitizado e indepenndente. De tarde, no mesmo dia, ele soltou um comunicado “sou a favor da independência do Banco Central”. Isso mostra que ele sabe ouvir.

Reforma virá nas urnas

Quando o estabilishment perde a decência, a reforma vem nas urnas. Vimos o que a perda de decência do estabilishment fez em 1989: os três políticos reconhecidos (Ulisses Guimarães, Mario Covas e Aureliano Chaves) não tiveram mais que 10% dos votos juntos, enquanto o Lula e o avançaram para o segundo turno.

Nós estamos assistindo a morte pública da velha política, e isso é muito bom.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers