Qual será o impacto da reforma da Previdência sobre as eleições em 2018?

Para analista político, ao contrário do que se pode imaginar, a oposição à proposta pode ser um tiro no pé dos parlamentares governistas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Já é impossível compreender a dinâmica da reforma previdenciária na Câmara dos Deputados sem levar em consideração o cenário eleitoral de 2018, pelo qual diversos parlamentares tentarão se reeleger ou alçar voos mais altos. A impopularidade da proposta afugenta deputados do apoio ao governo em mais uma empreitada, em meio aos ecos do mote “quem votar não volta” pelos corredores de Brasília. A inércia da PEC 287 na casa legislativa, porém, também pode ter impacto decisivo sobre a corrida às urnas.

Conforme observa o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, a sensação crescente de desilusão e raiva do eleitorado com a classe política naturalmente constrói um cenário mais favorável à oposição na disputa presidencial. Desta forma, também seria previsível que deputados da base governista oferecessem resistências em votar o novo texto da reforma previdenciária, sobretudo após salvarem a pele do presidente Michel Temer por duas vezes em denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria Geral da República). Apesar disso, como bem pontua o especialista, mal sabem muitos que o destino desta matéria será crucial para o resultado das próximas eleições.

“Se o governo Temer, após todo o esforço empreendido nos últimos dias, não conseguir fazer a Previdência avançar na Câmara dos Deputados antes do recesso, os governistas entrarão mais fragilizados no ano eleitoral”, projetou Ribeiro em relatório a clientes. “O desempenho positivo da economia tornar-se-á mais incerto. O BC puxará mais cedo o freio da redução da Selic. Ganhará força a possibilidade de as agências de risco soberano apertarem o gatilho do rebaixamento da nota brasileira. Aumentará o risco de o mercado se estressar com o sobe e desce dos candidatos nas pesquisas. Tudo isso produzirá impactos negativos sobre taxa de câmbio, risco país e juros futuros. E diminuirá ainda mais o espaço fiscal para o governo atender demandas de sua base durante o ano eleitoral”.

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Segundo o analista político, embora as conexões estaduais e locais sejam mais determinantes no desempenho dos candidatos a cargos no Legislativo, a vinculação à candidatura presidencial vencedora também pode se revelar fator de grande importância. E neste momento, Ribeiro sustenta que, para os governistas, neste quadro de incertezas ainda faz mais sentido apoiar candidatos situacionistas. 

“Lula e Bolsonaro, os atuais líderes da corrida presidencial, ainda não são alternativas de fato atraentes para parlamentares do PMDB e do Centrão que compõem a maioria adesista da classe política brasileira. No caso de Lula, porque não há certeza se ele será mesmo candidato tendo em vista a possibilidade concreta de que seja barrado pela Lei da Ficha Limpa. Quanto a Bolsonaro, além de não ser um político gregário, há desconfiança na classe política quanto à consistência de sua candidatura. Suspeitam que terá fôlego curto para a enfrentar a maratona eleitoral. Marina Silva, Ciro Gomes, Álvaro Dias, João Amoedo tampouco são opções apetitosas para essa turma”, observou o especialista da MCM Consultores.

Neste caso, restariam como alternativas mais viáveis a esse grupo de parlamentares os nomes do governador Geraldo Alckmin e do ministro Henrique Meirelles. Para qualquer candidato governista, naturalmente a aprovação da reforma previdenciária daria maior fôlego para o ingresso na disputa. Do contrário, o cenário descrito anteriormente pode atrapalhar o uso político de uma possível recuperação econômica, com o efeito reverso beneficiando opositores. “Sendo assim, do ponto de vista político e eleitoral, faz mais sentido para essa turma aprovar a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, mesmo que só em primeiro turno, antes da chegada de 2018”, sustentou Ribeiro.

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Para ele, o cenário de ausência de um nome que já apareça como o grande representante do legado da agenda de reformas da atual gestão pode se mostrar perigoso à ala situacionista. “Consequentemente, se o campo governista fracassar nesse trabalho de coordenação [de fazer prevalecerem os benefícios coletivos em detrimento de custos individuais] suscitará dúvidas quanto à sua capacidade de erigir uma candidatura competitiva em 2018. Isto, por sua vez, alimentará o receio de a recuperação da economia tropeçar em 2018. Assim, podemos entrar novamente em um ciclo político-econômico vicioso, cujas vítimas mais prováveis serão justamente os políticos governistas, que resistem a aprovar a reforma da previdência”, concluiu o analista.

Nesse raciocínio, ao oferecer resistência à PEC da reforma da Previdência com o intuito de sobreviverem às próximas eleições, os parlamentares governistas podem, na verdade, estar dando um tiro no pé. Afinal de contas, para a situação, o bom desempenho da economia poderá decidir o futuro de parte dos apoiadores do projeto político posto em prática.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.