O grande desafio político de Henrique Meirelles antes das eleições

Ministro da Fazenda tem elevado índice de rejeição frente à opinião pública, mas conta com uma recuperação mais expressiva da economia para se tornar um candidato competitivo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Se grandes reviravoltas inesperadas não acontecerem, Michel Temer não disputará as próximas eleições presidenciais. Ao menos, este tem sido o cenário base da maior parte (senão todos) dos analistas políticos. Com tamanha impopularidade e duras acusações sobre escândalos de corrupção sobre seu nome, por mais que se espere que a economia dê sinais mais claros de retomada, o peemedebista não deverá encontrar espaço para novas aventuras — ao menos em cargos majoritários.

Apesar disso, as movimentações recentes do presidente indicam um claro interesse em aumentar seu poder de influência sobre o resultado das próximas eleições, sobretudo lançando um nome forte do governismo. A um ano das eleições, muitas são as opções ventiladas. Entre outsiders a figuras tradicionais da política, o mais importante para o Palácio do Planalto seria uma candidatura que defenda o legado da agenda de reformas e sinalize a continuidade de algumas medidas implementadas.

Hoje, o nome mais cotado dentro do mais estrito governismo é o de Henrique Meirelles, comandante da equipe econômica e maior sonho da maioria dos investidores para seguir com um plano de reestruturação do Estado brasileiro e o funcionamento dos mercados locais. Em contraste com a preferência dos agentes econômicos, o ministro da Fazenda tem elevado índice de rejeição frente à opinião pública. Quão reversíveis seriam esses números? Ainda é cedo para saber. Tudo depende de como a economia ajudará o governismo. No atual momento, é a oposição que faz a festa, com um discurso muito mais fácil de reverberar na sociedade. Isso irá mudar até outubro de 2018, mas qual será o tamanho destas alterações?

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Neste contexto, a figura politicamente mais dependente da aprovação da reforma da Previdência e outras medidas da agenda de ajuste do governo é o próprio ministro da Fazenda. Caso sonhe com uma candidatura exitosa no ano que vem, Meirelles dependerá de boas respostas da economia, para reverter sua rejeição e superar adversários competitivos, em uma espécie de reedição da história do Plano Real, que colocou Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto por oito anos.

muitos céticos quanto a isso. Na avaliação do cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a base comparativa de análise do atual governo seria a gestão de José Sarney. À época, o governismo não conseguiu lançar nenhum nome competitivo e entregou a economia em situação caótica ao sucessor — neste último quesito, o cenário pode se mostrar mais favorável atualmente. “O Brasil deve melhorar aos poucos. Tem que torcer para não piorar. Se melhorar, vai ser devagar”, observou. Na avaliação de muitos analistas de mercado, se fosse possível dar uma probabilidade para a aprovação de alguma reforma previdenciária, hoje este percentual estaria sensivelmente abaixo dos 50%. No Planalto, a leitura é que uma versão reduzida será aprovada, após muitos acharem que a reforma havia morrido após as delações de Joesley Batista e companhia.

O site Poder360 noticia, nesta sexta-feira, que há uma avaliação no Planalto de que Temer não precisa mais se expor ao “toma lá, dá cá” com o Congresso após a superação da segunda denúncia da PGR. Agora, caberia a Henrique Meirelles decidir o quanto ceder na negociação com congressistas para aprovar medidas de ajuste fiscal e a reforma da Previdência. Em troca da bandeira que quer levantar de saneador das contas públicas — apesar de o atual governo caminhar para o encerramento com déficits públicos –, o ministro da Fazenda será cobrado pelos parlamentares a abrir os cofres em troca de apoio. Neste aparente paradoxo que o economista terá de administrar, as atenções de deputados se voltam ao Funrural, reajustes de servidores públicos e medidas de ajuste fiscal. A ver como Meirelles se comportará em um desafio clássico da política.

Tudo leva a crer que se trata de um novo episódio de delegação do presidente. Após transferir responsabilidades pela aprovação da reforma previdenciária ao parlamento, o governo pode estar fazendo movimento similar em relação à equipe econômica. Enquanto isso, mantém controle significativo sobre a agenda legislativa, a despeito da impopularidade e de algumas análises apontando para sua fraqueza política. Por outro lado, caso alguma mudança nas regras das aposentadorias (talvez apenas a idade mínima) seja aprovada, o peemedebista colherá os frutos de eventual recuperação econômica. Naturalmente cresceria seu poder de influenciar nas próximas eleições presidenciais, sobretudo com uma reforma ministerial por fazer. Por mais que se trate de um vespeiro de administração de uma guerra de interesses dentro da base aliada, a influência da distribuição de cargos nos ministérios às vésperas da corrida às urnas jamais poderá ser negligenciada.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.