Como Aécio e Temer preparam o terreno perfeito para um “outsider governista” em 2018?

O noticiário político recente pode ter consolidado a percepção de que presidente e senador tucano ganharam forças e tendem a aumentar influência sobre o processo eleitoral

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As recentes movimentações no ninho tucano comprovaram o fortalecimento de Aécio Neves (PSDB-MG) após escapar do afastamento das funções legislativas e da reclusão noturna imposta pela Primeira Turma do STF.

O senador monocraticamente destituiu Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do partido e colocou no comando do processo Alberto Goldman, do time de José Serra, senador que já começa a mexer as peças no tabuleiro para uma candidatura ao governo de São Paulo ou até mesmo para a presidência da República.

Embora a atitude do parlamentar mineiro tenha alimentado críticas na legenda em frangalhos, fato é que se concretizou e nenhuma iniciativa de fato foi tomada no sentido contrário para além do campo das narrativas.

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Do outro lado, Aécio fez um aceno importante para aliviar a pressão da ala que deseja desembarcar do governo de Michel Temer, preocupada com a toxicidade da impopularidade do presidente. Em convenção do partido em Belo Horizonte (MG), o tucano disse que “há um convencimento de todos nós de que está chegando o momento da saída (do governo)”.

O discurso do principal tucano governista facilitou a vida do presidente Michel Temer, que antes resistia contrariar os tucanos e realizar uma reforma ministerial. Como pontuou o jornalista Kennedy Alencar, a fala funcionou como uma senha ao deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE) para pedir demissão ontem do cargo de ministro das Cidades, antecipando-se a qualquer movimento do Planalto e evitando pressão tucana, que poderia deixá-lo com a marca de quem não queria “largar o osso”.

Na outra ponta, Temer ganha uma avenida para avançar com a difícil Reforma da Previdência, apesar de mais enxuta. Seria um aceno e tanto para o mercado. Na outra ponta, o presidente busca tocar o programa Avançar, para retomar obras paralisadas, e já anuncia reajuste no Bolsa Família acima da inflação, em sinalizações de que poderá influenciar mais nas próximas eleições do que podem considerar as comparações a José Sarney.

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O analista político Leopoldo Vieira vislumbra três movimentos decorrentes do jogo de comadres estrelado por Temer e Aécio:

1) “O grupo aecista fica no governo após a reforma ministerial, o oposicionista sai e perde inúmeras vantagens decisivas do poder da máquina em 2018, apostando na vã-filosofia de que se ganha mais se distanciando de um desgaste de imagem, pelo qual já fora contaminado até aqui. Haverá muitas pautas locais no ano que vem”; [ou seja: o grupo que se descola do governo terá mais dificuldades com recursos decisivos para o desempenho eleitoral dos candidatos de centro-direita, sem que haja uma justificável recuperação nos prejuízos de imagem de se associar com a atual gestão até aqui]

2) “O grupo aecista vota fiel à reforma da Previdência e acumula pontos, junto ao núcleo duro peemedebista, para a interlocução com o mercado financeiro, de modo a dobrar a sustentação deste ao governo e angariar o apoio deste ao candidato da centro-direita que o governo quer ter protagonismo em indicar e bancar na disputa”; [todas as movimentações do presidente Michel Temer indicam um interesse em influenciar com maior força o processo eleitoral do ano que vem, a despeito de sua baixa popularidade. Por mais que o “centrão” não venda barato a continuidade das reformas, receoso de dar muito poder ao peemedebista, a reforma ministerial tende a dar impulso à agenda do ajuste fiscal, em contraste com o calendário apertado]

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3) “O grupo oposicionista fica vulnerável para fazer esta interlocução, incluindo o governador Geraldo Alckmin, prócer da tese do distanciamento do governo”; [para provar o contrário, Alckmin, tido como mais provável presidenciável tucano neste momento, terá de mostrar que os tucanos opositores estão dispostos a assumir o ônus de votar a favor da reforma previdenciária, a despeito do desembarque da coalizão. Em contraste com o compromisso ideológico de muitos tucanos com essa pauta, conseguir o apoio da ala oposicionista às vésperas das eleições pode não ser tarefa fácil. Um fracasso na articulação pode enfraquecer o governador paulista. Além disso, há pouco ou nenhum espaço para os tucanos na oposição nas próximas eleições];

4) “O grupo aecista ganha envergadura para dar as cartas sobre os nomes internos do PSDB a serem oferecidos ao campo centro-direitista e ganha tempo para amadurecer, dentro do partido, este candidato, que pode vir de uma articulação mais próxima a José Serra e Aloysio Nunes Ferreira, já que Alberto Goldman é desta composição. Ou medir a situação de Doria Jr., que recuou, mas segue o tucano melhor posicionado e apoiou a destituição de Jereissati, embora tenha brigado historicamente com Goldman. Mas política é a arte do encontro ainda que haja tanto desencontro na política. A própósito, é do avô de Aécio a máxima pela qual não se deve estar próximo demais a ponto de não poder se distanciar e nem distante demais a ponto de não poder se aproximar”. [é neste contexto que se insere a possibilidade de Alckmin presidir o partido, tal qual ventilado por Fernando Henrique Cardoso, podendo repetir o ocorrido nas últimas eleições, quando Aécio Neves ocupava o posto de presidenciável tucano e mandatário do partido]

Caso aceitasse a costura de FHC, Alckmin teria de enfrentar o enorme desafio de pacificar o ninho tucano — o que é visto por muitos como missão impossível. E eventual fracasso em tal missão poderia enfraquecê-lo profundamente para a disputa eleitoral. A incapacidade de reorganizar o PSDB poderia ensejar questionamentos sobre suas condições de conduzir o país.

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Para Vieria, está sendo criado um ambiente perfeito para o surgimento de uma figura que ele chama de “establishment em pele de outsider“. Na avaliação do analista, os investimentos anunciados pelo governo, a reforma ministerial e o próprio aumento nos repasses a programas como o Bolsa Família põem bala na agulha do governo, do “centrão” e da ala aecista nas eleições. Enquanto um nome é costurado politicamente para representar a centro-direita no pleito, a agenda econômica pró-mercado é conduzida pelo ministro Henrique Meirelles, que poderá se tornar o fiador da candidatura de um outsider às vistas do mercado.

“O chefe da economia ficou com a tarefa de entregar a reforma previdenciária, enquanto o restante da gestão se dedica a gerir a coalizão e a estratégia dela para 2018. E todos trabalham juntos. Para o mercado é fácil enviar a seguinte mensagem: ‘Entregamos o ajuste fiscal real, duro como determina o teto de gastos, após vencermos. Por isso, nos ajudem. Vocês preferem que deste caos político se elejam “imprevisíveis” Lula e Bolsonaro ou fazer um esforço político agora para se estabelecer um governo com mandato para tocar a agenda completa?'”, observa Vieira.

Em meio às possibilidades que surgem no campo da centro-direita a partir do governismo, do PSDB ou de articulações de partidos como o PPS e DEM, a aceitação do nome de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pelo mercado parece mais improvável. A ver qual será o desempenho das alternativas lançadas nas próximas pesquisas.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.