Forbes: alguns no Brasil já estão culpando Trump por 2017 – mas o problema é outro (e muito maior)

Para o colunista da revista, Trump não é o maior problema do País: "o Brasil, como todo o mundo, encontrará uma maneira de viver com ele"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Se a economia do Brasil ‘feder’ em 2017, é culpa do [Donald] Trump”. Porém, as coisas não são bem assim. É o que afirma o colunista da Forbes para mercados emergentes, Kenneth Rapoza, em artigo da última segunda-feira (2). 

A publicação destaca que, pelo menos quando se trata de assuntos externos, os especialistas em economia no Brasil estão dispostos a colocar as incertezas sobre o comércio exterior em torno do novo presidente americano. A coluna cita nomes como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, o professor da Universidade de Berkeley Barry Eichgreen. Entre os motivos de temor com o novo presidente americano destacadas pelas Forbes estão o comportamento errático do republicano e a possibilidade de advento de políticas nacionalistas, que podem prejudicar as exportações brasileiras para a maior economia do mundo.

“O Brasil nunca foi um alvo específico. Mesmo a administração de Barack Obama no ano passado atacou com tarifas as importações brasileiras de aço. As tarifas comerciais são muitas vezes temporárias e em grande parte de natureza bipartidária. (…) Isto não é um traço de Trump”, afirma o colunista da Forbes.

Contudo, Rapoza aponta que Eichengreen tem razão ao apontar que países como o Brasil poderiam usar os mecanismos usuais na OMC (Organização Mundial do Comércio) para que essas barreiras fossem levantadas … eventualmente. Mas a questão é se Trump honraria a decisão de um painel de arbitragem da OMC. “Podemos ter esperança, mas é difícil ter confiança”, escreveu Eichengreen sobre o republicano. Outras questões sobre a redução dos compromissos financeiros dos EUA com o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) entraram na pauta, mas Forbes aponta que o Brasil já não é dependente dessas instituições para financiamento e que também poderia recorrer ao novo Banco dos Brics.

Além disso, há outras questões, como as preocupações com a Rússia, a Turquia e o problema das imigrações, além do cenário para as eleições na Europa este ano.

“Há também o problema das eleições na União Europeia. Neste ano poderemos ver uma desintegração do euro no pior cenário. Isto é especialmente verdadeiro se o partido da frente nacional de Le Pen ganhar as eleições na França. Os investidores já estão vendo paridade entre o dólar e o euro”, aponta a publicação. A Forbes aponta que um dólar forte nunca é bom para os mercados emergentes como o Brasil, mas a Opep e a Rússia podem ter colocado um limite a esse cenário negativo quando concordaram em reduzir a produção de petróleo. “Algumas estimativas do mercado indicam que os preços do petróleo vão para US$ 60 o barril neste ano, o que é bom para os mercados emergentes, especialmente para empresas como a Petrobras”.

Além disso, se a economia dos EUA prosperar, uma maior demanda dos EUA poderia ajudar o Brasil. 

Rapoza reforça que, com o trabalhador americano médio sentindo-se desprotegido, a política anti-establishment iria tomar lugar posse eventualmente, o que aconteceu agora com Trump. Porém, nem o republicano pode fazer tudo o que quer, como ressaltou o economista da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros. A Forbes cita a coluna do economista para o Estadão, em que aponta que também há tragédias brasileiras em desenvolvimento, como o desemprego de quase 12%, as previsões de crescimento do PIB em baixa.

A Forbes também aponta que há o escândalo de corrupção da Petrobras deflagrado pela Operação Lava Jato, que enfraqueceu fortemente o PT. “As rodas estão em movimento, no entanto. Ninguém jamais imaginou no Brasil que oligarcas como Marcelo Odebrecht e pesos pesados ??políticos como Eduardo Cunha passariam uma noite na prisão, muito menos sentenciados por anos”, afirma o colunista.

Contudo, conclui Rapoza, “levará tempo para o Brasil acabar com a velha maneira de estabelecer contratos lucrativos de obras públicas com o setor privado. As mini-oligarquias que comandavam as economias estaduais, particularmente no norte, com ricos políticos possuindo as maiores empresas e a maior parte das terras, significavam que as empresas eram basicamente forçadas a fazer acordos com elas se quisessem trabalhar. Talvez este seja o maior e mais antigo problema do Brasil. Está acabando. Trump, por outro lado, não é. O Brasil, como todo mundo, encontrará uma maneira de viver com ele”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.