Pirelli e Benetton se unem e adquirem o controle da Telecom Italia

Conteúdo do Portal InfoMoney - Editoria Mercados

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A fabricante italiana de pneus e cabos Pirelli SpA e a família Benetton irão assumir o controle efetivo da Telecom Italia SpA. Isso possibilitará a saída do acionista dominante da operadora de telefonia, Roberto Colaninno, que controla a empresa desde 1999 quando a Olivetti passou a gerir a antiga estatal italiana. Este negócio pode marcar o fim da conturbada administração de Colaninno, que em 1999 elaborou uma complexa engenharia financeira que possibilitou à Olivetti fazer uma das maiores ofertas hostis na história européia e assumir o controle da quarta maior empresa de telecomunicações do continente. A Telecom Italia é uma das telefônicas com maior presença no Brasil ao lado da Telefónica de Espanha.

A companhia possui participação acionária em várias empresas. Ela é uma das sócias da Brasil Telecom, que opera telefonia fixa no Sul e Centro-Oeste do Brasil, além dos Estados de Acre e Rondônia, e controla várias empresas de telefonia celular de banda A através de sua subsidiária TIM, a Telecom Italia Mobile, entre elas a Tele Celular Sul (Paraná e Santa Catarina), a Tele Nordeste Celular (seis Estados do Nordeste brasileiro). Além disto, a empresa possui participações na telefonia celular de banda B através da Maxitel nos Estados de Minas Gerais, Bahia e Sergipe e recentemente adquiriu novas licenças do sistema SMP que lhe proporcionarão ser a primeira companhia de telefonia celular com cobertura em todo o território nacional.

No sábado passado, a Pirelli e a holding da família Benetton, Edizione Holding, anunciaram um acordo para comprar uma participação conjunta de 23% na Olivetti SpA, que detém 55% da Telecom Italia. Como os dois novos parceiros já tinham uma participação de 1,8% cada na Olivetti, a participação total deles passa a ser de quase 27%, o que significa que eles terão o controle efetivo da Telecom Italia. O restante do capital da Olivetti está pulverizado entre acionistas minoritários. A Pirelli e a família Benetton vão comprar a participação na Olivetti da Bell SA, holding que é controlada por Roberto Colaninno e um grupo de investidores do norte da Itália que o apoiou na compra da Telecom Italia em 1999. A Pirelli e a Benetton pagarão cerca de € 7 bilhões (US$ 6,1 bilhões) pela fatia de 23% na Olivetti, quase o dobro da cotação de fechamento da ação da Olivetti na sexta-feira. Isso lhes dará o controle efetivo de uma empresa com valor de mercado de quase US$ 61 bilhões. A nova companhia terá 60% da Pirelli e 40% da Edizione Holding, que representa a Benetton, e deterá os 23% da Olivetti.

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A estratégia de Colaninno à frente da Olivetti, que lançou uma oferta de US$ 45,3 bilhões pela Telecom Italia em 1999 foi vitoriosa depois de uma longa disputa que durou quatro meses e causou várias discussões entre os antigos acionistas da empresa. Certamente Colannino irá embolsar uma pequena fortuna resultante desta transação, mesmo porque ele transformou uma empresa que valia US$ 45,3 bilhões em uma que vale hoje US$ 61 bilhões. De fato, o grande trabalho de Colaninno foi a dificuldade para reorganizar a gigante telefônica de forma a cumprir com as metas agressivas de crescimento e lucratividade acertadas com os credores que possibilitaram a compra da Olivetti pela Telecom Itália, o que acabou levando a uma deterioração de sua base de apoio junto a estes sócios credores. Segundo rumores, ele deve pedir demissão em poucos meses. Ele deverá ser substituído por Enrico Bondi, atual executivo-chefe da Montedison, que também assuimirá a Telecom Itália.

A ousadia da estratégia de Colaninno se fundamentou em um enorme endividamento da Olivetti para financiar a aquisição, sendo que foram realizadas várias tentativas de operações financeiras que assegurassem que o gordo fluxo de recursos gerados pela Telecom Italia pudesse reduzir gradativamente o montante da dívida, o que acabou resultando em choques com acionistas minoritários. A sucessão de fracassos derrubou as ações da Telecom Italia e da Olivetti, e acabou gerando fortes discordâncias entre os credores parceiros de Colaninno. A situação se agravou nos últimos meses, com uma investigação judicial em várias operações da Telecom Italia envolvendo Colaninno e alguns de seus principais parceiros. Estes recentes conflitos forçaram Colaninno a buscar novos investidores que pudessem segurar o controle da Telecom Italia.

A transação já conta com o apoio do governo italiano, que ainda mantém uma fatia de 3,4% na telefônica, mas deve enfrentar a oposição de pequenos acionistas, que ficaram de fora na troca de poder e não terão direito a vender suas ações. A Pirelli e a Benetton já deixaram claro que não ultrapassarão o limite de 30% que, de acordo com a lei italiana, as forçaria a fazer uma oferta por todo o capital da Olivetti. O ingresso da Pirelli e Benetton no controle da Telecom Italia leva dois dos nomes industriais mais poderosos da Itália para o comando da empresa, que terão novamente que administrar a elevada dívida da companhia, além de enfrentar os acionistas minoritários. O ministro da indústria italiana, Antonio Marzano, afirmou que o governo estava neutro nesta negociação. Entretanto, membros do governo disseram que o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, empresário conservador e adversário de Colaninno, se mostrou aliviado pela não só saída de Colaninno , mas pelo fato de que a Telecom Italia ficou sob controle de empresas nacionais.

Analistas de mercado definiram este acordo como uma briga entre grandes grupos italianos, temendo uma volta do antigo capitalismo familiar e o enfraquecimento do mercado de capitais. Segundo eles, as ações da Telecom Italia foram elevadas artificialmente pela especulação, mas o controle foi transferido sem que os pequenos acionistas tivessem a chance de ter lucro através do mecanismo de tag along.

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