PIB deve cair 3% com racionamento, diz consultor da Camargo Corrêa

No entanto, consenso entre executivos presentes no evento "Racionamento: riscos e possíveis impactos" foi que apenas o corte no fornecimento de energia poderá impedir o prolongamento da crise nas elétricas

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – As chuvas de março, cantadas em verso por Elis Regina e Tom Jobim vieram, mas a crise das hidrelétricas não passou. Na região Sudeste, os reservatórios das usinas operam com 22,22% da capacidade, segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), ou seja 12,78% a menos do que os 35% registrados em 2001 na época do famigerado “apagão”. 

“Estamos mais frágeis [do que naquela época] em relação à crise da hidrologia”, diz João Carlos Mello, presidente da Thymos Energia no evento “Racionamento: riscos e possíveis impactos”, realizado em São Paulo. Para ele, mesmo com as termelétricas fornecendo mais energia do que no começo do milênio, a demanda mais do que dobrou desde então e a oferta não acompanhou, de modo que um problema estrutural foi criado. 

E a tendência é só piorar, segundo ele. A afluência nos reservatórios em janeiro ficou em 38% da média de longo termo (MLT), o pior resultado da série histórica de 85 anos, de acordo com os dados do ONS. Mesmo com as chuvas de fevereiro, o nível ficou em 58% na MLT. “Sem um racionamento a situação só vai se salvar se chover em proporções bíblicas, no estilo arca de Noé”, afirma Mello. 

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A solução seria justamente decretar cortes no fornecimento de energia, mas isso pode estar distante dos planos do governo. “O ônus político da decisão do racionamento faz o Executivo acreditar em alguns milagres técnicos e econômicos”, diz. 

PIB
No entanto, o impacto não será suave para a já debilitada economia brasileira. O consultor da Camargo Corrêa, João Canellas, diz que a decisão de realizar cortes no fornecimento fará com que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro sofra uma retração de 3%, muito além das previsões que vem sendo feitas por diversos economistas e instituições financeiras, que veem o PIB caindo 1,5% caso a eletricidade sofra interrupções este ano. Mesmo assim, a solução agora é “a recessão e o arrocho tarifário”, defende o executivo. 

Para Geraldo Mota, do Grupo Delta Energia, as crises energéticas de 2012 a 2015 já impactaram o PIB mais do que qualquer racionamento que possa ser feito pelo governo. 

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Tarifas
Apesar disso, o que está mais perto do horizonte do Planalto para resolver ou ao menos amenizar a crise atual o aumento nas tarifas de energia elétrica para desestimular o consumo. Esta solução não agrada nem um pouco empresários de indústrias que fazem uso intensivo de energia. 

É o caso de Aníbal do Vale, da Unipar Carbocloro, que afirma ser impossível competir com outros mercados com este nível de preços da eletricidade. Outra questão da qual ele reclama, são as constantes mudanças na regulação deste mercado especificamente. Para ele, o industral não é um especulador e a indústria precisa de previsibilidade, sendo fundamental o modelo de contrato de longo prazo com as distribuidoras. 

“O governo precisa parar de tentar fazer uma coisa mais estruturada porque senão a vaca vai para o brejo, como disse uma ex-senadora”, alfinetou, em referência a texto publicado na Folha de S. Paulo pela senadora Marta Suplicy (PT). No texto, a senadora escreve que em política existem duas coisas que levam a vaca para o atoleiro: a negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada.