PIB da Irlanda cresce 26,3% em 2015, deixa economistas “sem palavras” e causa mal-estar no país

A economia irlandesa registrou essa "explosão" por conta de fatores extraordinários e em meio às especificidades da atividade do país, com a chamada contabilização de ativos de multinacionais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Parece mentira, mas não é. Um país da zona do euro, que sofreu para reerguer a sua economia e já fez parte do famigerado grupo PIGS, registrou uma alta inexplicável do PIB (Produto Interno Bruto) no ano de 2015: a Irlanda viu sua economia explodir 26% no ano, anunciou o departamento de estatísticas do país no início desta semana. Anteriormente, eles haviam apontado estimativas de crescimento de 7,8% no ano. Esse anúncio deixou muitos economistas sem palavras para explicar esse crescimento sem paralelos no mundo inteiro, conforme destacou a Bloomberg.

Uma variação tão grande no PIB de um país pode ocorrer em caso de pequenos países, até mais pobres, por conta da baixa base de comparação.

Mas não foi o caso dos irlandeses. A economia irlandesa registrou essa “explosão” por conta de fatores extraordinários e em meio às especificidades da atividade do país.

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A revisão do valor do PIB está relacionada com a contabilização de ativos das multinacionais que têm sede no país. Os números foram inflados, uma vez que a baixa taxa de impostos que a Irlanda cobra às empresas tem atraído cada vez mais companhias, provocando uma forte alta no valor dos ativos que são contabilizados para chegar ao PIB do país. 

Diversas companhias, como Allergan, Tyco, Medtronic, entre outras, alteraram a sede para Dublin, a capital irlandesa. Em fala ao jornal britânico The Guardian, o estatístico sênior no Escritório Central de Estatísticas Michael Connolly destacou o movimento e o impacto para o PIB, através de uma prática denominada de inversão corporativa.  “O que acontece é que a folha de balanços inteira de uma empresa que se realoca de algum outro lugar para a Irlanda entra como estoque de capital ou posição de investimento internacional”, afirmou. 

Assim, as inversões inflam artificialmente o tamanho da economia da Irlanda. Quando a sede de um grupo de empresas torna-se residente na Irlanda, todos os seus lucros globais podem ser considerados como parte do rendimento nacional bruto do país.

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A Bloomberg destaca números de 2014 de que empresas com ativos avaliados em 523 bilhões de euros alteraram a sua sede para a Irlanda, pagando impostos no país. Também deu um forte impulso à economia o fato de na Irlanda estarem sedeadas muitas companhias de leasing de aviões e o ano passado ter sido muito forte neste setor. 

Porém, se olhar para outros números, a economia irlandesa está bem, mas não tão bem assim: o consumo das famílias, por exemplo, subiu 4,5%. Assim, o PIB não deve ser um indicador tão utilizado para tratar a situação atual do país. “A Irlanda está crescendo a uma taxa razoável”, ao redor de 5,5%, “mas não dramática”, como de 26,3%, afirmou o economista Jim Power para a Bloomberg. Porém, mesmo não tendo números tão impressionantes, a Irlanda segue sendo a economia que mais cresce na Europa.

 “Não há dúvida de que a Irlanda tem uma economia voltada para a exportação e que isso está sendo impulsionado por investimento estrangeiro direto americano. Mas esses pulos enormes de crescimento não estão vinculados a bens e serviços reais. Não deveriam estar nos números de PIB”, afirmou Seamus Coffey, professor de Economia no University College Cork. 

De qualquer forma, mesmo com o PIB tão alto trazendo notícias positivas como a redução do nível de endividamento, que é agora inferior a 80% do PIB, essa “explosão” da atividade gerou um mal estar político na Irlanda. 

Na última quarta-feira, o primeiro-ministro do país, Enda Kenny, reconheceu que os números surpreendentes não refletem a realidade com exatidão. O principal partido da oposição irlandesa, Fianna Fáil, considerou que os números prejudicam a reputação internacional da Irlanda e que, agora, ninguém acredita neles. Porém, Kenny destacou que, mesmo com os números impressionantes não sendo tão realistas, a política econômica do governo levou à redução do desemprego e aumento do consumo, o que confirma a solidez da recuperação econômica. 

E os números tão positivos já podem levar a um outro efeito: os dados do primeiro trimestre de 2016 mostraram queda de 2,1%, o que pode ser explicado pela evolução anômala do ano passado. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.