Petróleo sobe e volta a superar os US$ 90 o barril com atenção voltada para a Opep+: o que está em jogo?

Grupo consideraria um corte de produção em mais de 1 milhão de barris por dia para sustentar os preços, o que aumentaria tensão com países consumidores

Lara Rizério

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A sessão da segunda-feira (3) foi de forte alta para o petróleo, com o brent para dezembro subindo 4,4%, perto da casa dos US$ 89 o barril, enquanto o WTI para novembro avançou ainda mais, 5,2%, a US$ 83,63 o barril. O movimento continuou nesta terça, com o brent futuro fechando em alta de 2,98%, superando os US$ 90 o barril (a US$ 91,51), assim como o WTI, que subiu 3,13%, a US$ 86,25. A grande responsável por essa alta recente foi a expectativa pela reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, conhecidos como Opep+, que ocorrerá na próxima quarta-feira (5).

O grupo, de acordo com informações da Reuters, considera um corte de produção em mais de 1 milhão de barris por dia (bpd) para sustentar os preços, o que seria seu maior corte desde o início da pandemia de Covid-19. Esse número não inclui cortes voluntários adicionais por membros individuais, acrescentou uma fonte da Opep.

Se concluído, esse será o segundo corte mensal consecutivo do grupo após reduzir a produção em 100 mil bpd no mês passado. A maioria dos traders esperava cortes de cerca de 50 mil bpd, destacou Dennis Kissler, vice-presidente sênior de negociação da BOK Financial.

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“Depois de um ano tolerando preços extremamente altos, metas perdidas e mercados severamente apertados, a aliança (Opep+) aparentemente não hesita quando se trata de agir rapidamente para apoiar os preços em meio à deterioração das perspectivas econômicas”, disse Craig Erlam, analista de mercado da Oanda.

O Goldman Sachs destaca que, embora tal corte ocorra em um dos momentos do mercado mais apertados da história em termos de oferta, e antes de um potencial declínio nas exportações russas no final deste ano, tal decisão pode ser justificada pelo recente declínio nos preços, 40% abaixo do pico de junho, com crescentes preocupações sobre o crescimento global.

A diminuição recente dos investimentos no ativo, reduzindo a liquidez e os preços, também é um forte catalisador para esse corte. A expectativa é por recuperar investidores, que se voltaram recentemente para a alocação em dólares após os aumentos agressivos de juros pelo Federal Reserve, aponta o Goldman.

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Para os analistas do banco, “tal corte, não assumido em nossos últimos relatórios, reforçaria nossa visão otimista de preços, ao mesmo tempo em que ajudaria a limitar o lado negativo dos preços, caso o crescimento econômico decepcionasse, mesmo em relação ao cenário cauteloso. Como resultado, reiteramos nossa visão otimista do petróleo, bem como nossa preferência por posições de longo prazo de petróleo no final do ano”.

Historicamente, a Opep+ tem frequentemente cortado a produção em face do enfraquecimento da demanda, mas nunca implementou um corte em um mercado tão apertado, com estoques em níveis historicamente baixos, recorde de fortes intervalos sazonais de petróleo e com a demanda permanecendo resiliente apesar de ventos contrários no ambiente macroeconômico.

Olhando para frente, os analistas esperam que a produção russa diminua no final do ano, com a expectativa de que a demanda seja suportada pela troca de gás natural para petróleo na Europa e na Ásia.

Embora excepcional, o Goldman avalia que o corte na produção de petróleo também é lógico, pois maximiza as receitas do grupo hoje com o mínimo sacrifício de lucros futuros.

Enquanto não fazem nenhuma suposição explícita sobre o resultado da reunião por enquanto, os analistas ressaltam três cenários principais com cortes de 0,5 milhão, 1 milhão e 1,5 milhão de barris por dia respectivamente – e avaliam o que eles implicam para preços.

Eles lembram ainda que, devido aos amplos limites de capacidade dentro da Opep+, um anúncio de corte provavelmente não se reflete efetivamente em uma redução efetiva da produção, avaliam. No caso de um corte de 1 milhão de barris por dia, a expectativa seria de um impacto positivo de cerca de US$ 13 por barril nos preços do Brent ao longo de 12 meses, embora já haja antecipação nos preços, enquanto o último regime sugere uma possibilidade distinta de um pico de cerca de US$ 20 por barril acima dos valores da última semana.

Corte é tão grande assim?

O Credit Suisse aponta que, embora um corte de produção principal possa parecer bastante grande, o detalhe principal será se esse corte é feito em relação às cotas existentes ou se as cotas serão redefinidas primeiro para corresponder à realidade (antes que novos cortes sejam aplicados), uma vez que vários membros da Opep estão consistentemente produzindo aquém da meta.

No primeiro caso, a redução real da oferta seria menor do que o número a ser anunciado implica. Por exemplo, se um corte de fornecimento de 1,5 milhão de barris por dia fosse compartilhado proporcionalmente, o impacto real no fornecimento poderia ser de cerca de 0,6 milhão de barris por dia.

Os saldos de Agência Internacional de Energia atualmente mostram um superávit de 0,7 milhão de barris por dia para o quarto trimestre de 2022 (4T22), portanto, tal corte simplesmente estabilizaria o mercado.

No entanto, se a Arábia Saudita tomasse uma ação unilateral e cortasse mais produção ou se as cotas fossem redefinidas para refletir as produções reais primeiro, a ação da Opep resultaria em um aperto mais significativo do mercado.

Enquanto isso, aponta o banco, os EUA continuam pressionando por um teto de preço do petróleo russo. A estimativa é de que o plano do G7 de limitar o preço das exportações russas de petróleo poderia render US$ 160 bilhões em economias anuais para os 50 maiores mercados emergentes (contra um cenário em que o embargo da União Europeia estava em vigor sem isenções). Para os analistas do banco, a posição em petróleo é neutra, pois o risco-recompensa em qualquer direção parece desfavorável.

Em reportagem, a CNBC também destaca que, mesmo que haja um corte de produção anunciado de 1 milhão de barris por dia, isso não significa que 1 milhão de barris reais de petróleo serão retirados do mercado. Algumas nações da Opep ainda podem ser incapazes de cumprir metas de produção ainda mais baixas. Uma queda de 1 milhão de barris por dia provavelmente resultaria em cerca de metade disso saindo do mercado, mas há quem avalie que até isso poderia empurrar o petróleo de volta para US$ 100 o barril.

O portal ainda destaca que um importante ponto a ser monitorado é se qualquer corte de produção considerável pela Opep+ será visto como uma refutação direta à pressão americana para reduzir os preços do petróleo. Os lançamentos de reservas pelo país e por  outras nações levaram os preços futuros do petróleo a níveis mais baixos do que os sauditas e a Rússia desejam ou necessitam para sustentar seus respectivos orçamentos federais.

Embora as reservas de petróleo dos EUA estejam próximas das mínimas em quarenta anos, outra liberação potencial de nossas reservas não é impossível para tentar combater um corte de produção da Opep. Há também o risco de uma maior deterioração no relacionamento dos EUA e da Arábia Saudita. O congressista democrata da Califórnia, Ro Khanna, chamou a Arábia Saudita de “potência de terceira categoria” e sugeriu que o Congresso cortará as vendas de armas e peças de aeronaves para o país se eles prosseguirem com um grande corte de produção de petróleo.

A reportagem também aponta que o corte de produção esperado está sendo promovido principalmente pela Rússia (aliada da Opep), mais do que pelos outros membros da Opep+. Autoridades russas, incluindo o vice-primeiro-ministro Alexander Novak, comparecerão à reunião da Opep e pressionarão pela grande redução.

Na visão de analistas, os dois lados (Opep e Rússia) chegarão a um acordo sobre os cortes. Se não o fizerem, correm o risco de outra situação complicada como a de março de 2020, quando a Opep queria um corte e a Rússia o rejeitou, provocando uma guerra de preços que acabou levando o petróleo a ficar em valores negativos.

“O que vier, deve ser significativo”, aponta a CNBC.

Tensão contínua

O banco suíço Julius Baer avalia que as nações petroleiras parecem dispostas a explorar seu poder para aumentar artificialmente os preços do petróleo, aumentando as tensões com os consumidores de petróleo. “Esses jogos de poder geopolítico, o próximo embargo de petróleo europeu e a temporada de furacões são todos elementos que sugerem mais ruído e volatilidade no curto prazo”, avaliam.

Tal decisão de cortes de preços, aponta, parece difícil de justificar fundamentalmente. A situação de fornecimento do mercado de petróleo realmente melhorou ultimamente, mas o armazenamento na América do Norte e Europa permanece abaixo do normal.

A equipe de análise do banco reforça que o mercado de petróleo não sofre superávit, enquanto os preços do petróleo de hoje estão acima de sua âncora de ciclo neutro de longo prazo, que o banco coloca em torno de US$ 65 a US$ 75 por barril.

“O comportamento mais recente da Opep aumentou bastante as tensões com os países consumidores de petróleo e esteve um pouco em desacordo com a autoproclamada proteção do mercado de petróleo. O levantamento das restrições à produção no ano passado foi mais lento do que fundamentalmente justificado e, em partes, aumentou as pressões inflacionárias do mundo”, avalia.

O banco aponta que os riscos de tais jogos de poder geopolítico, o ruído potencial proveniente do embargo da Europa contra a Rússia a ser implementado ainda este ano, ou possíveis interrupções provenientes da temporada de furacões no Atlântico, são elementos que garantem uma visão neutra sobre o petróleo no curto prazo. “Dito isso, de uma perspectiva geral, a política do petróleo é um elemento transitório que não pode se opor às forças do mercado, como a dinâmica do xisto ou a transição para a mobilidade elétrica”, avalia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.