Petrobras (PETR4) rebaixada pelo JP, Ânima (ANIM3) elevada pelo Morgan e mais: analistas já revisam preferências após vitória de Lula

Já o Credit Suisse traçou um cenário para elétricas, enquanto o Goldman Sachs fez o mesmo para varejistas, destacando a de alimentos

Lara Rizério

Publicidade

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência por uma margem apertada não foi exatamente uma surpresa para os mercados. Contudo, a definição eleitoral após semanas de forte volatilidade tem impacto imediato nos mercados, uma vez que os investidores aguardam por definições sobre política econômica do agora presidente eleito – algo que deixou a desejar no primeiro turno.

Além disso, há temor por maior intervenção em estatais, levando em conta as declarações de Lula durante a campanha com críticas à paridade internacional de preços de combustíveis da Petrobras (PETR3;PETR4) , enquanto vislumbram possíveis investimentos maiores em refinarias, com menor retorno para a estatal. Por outro lado, as declarações sobre fortalecer o FIES, programa de financiamento estudantil do governo federal, levam a um ânimo maior para o setor de educação na Bolsa. Construção civil também deve ser impulsionada pelas indicações do fortalecimento dos programas habitacionais, com o carro-chefe voltando a ser o Minha Casa Minha Vida (chamado de Casa Verde e Amarela durante o governo Bolsonaro).

Neste cenário, nas horas após o segundo turno das eleições, analistas de mercado vêm revisando as suas projeções para as ações que mais chamam a atenção – positiva ou negativamente – no governo que assumirá o poder em janeiro de 2023.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O JPMorgan reduziu a recomendação para os ADRs (na prática, os papéis negociados na Bolsa de Nova York)  da Petrobras de overweight (exposição acima da média do mercado) para neutro.

“Ficamos muito otimistas com a Petrobras já faz há algum tempo. A combinação da agenda de turnaround e criação de valor que foi adotada desde 2016, aliado ao fato de a empresa ter ativos fantásticos e ser apoiada por nossa tese de superciclo para o petróleo, criou uma história forte para a empresa”, apontou a equipe de analistas, liderada por Rodolfo Angele.

No entanto, avalia o JP, como empresa estatal, as direções da Petrobras mudam com as mudanças na liderança política do país e há uma mudança importante com a eleição de Lula.

Continua depois da publicidade

O banco americano lembra que este novo governo criticou abertamente como a Petrobras tem sido administrada e também discutiu prováveis ​​mudanças na companhia. Os principais pontos devem ser sobre alocação de capital e política de preços para os combustíveis vendidos no mercado interno. O plano do governo do PT prevê que a Petrobras invista em refinarias para permitir que o Brasil dependa menos do combustível importado. O mesmo plano também prevê a implementação de um mecanismo que crie um “’preço brasileiro’ para os combustíveis.

“Embora acreditemos que muito já está precificado em ações da Petrobras e que a governança e o escrutínio público em geral
desempenha um papel importante na empresa, acreditamos que o preço das ações não refletirá totalmente os fundamentos até que os investidores tenham clareza sobre exatamente o que vai mudar na empresa. Isso deve levar, a nosso ver, pelo menos seis meses. Enquanto isso, acreditamos que os investidores podem encontrar alternativas no setor petrolífero (como a Geopark na América Latina) ou em outros setores (como Suzano SUZB3 ou Gerdau GGBR4) no espaço de commodities  da América Latina”, avaliam os analistas.

Com isso, os analistas do JPMorgan reduziram o preço-alvo para os ativos PBR (equivalente aos ordinários) da companhia de US$ 20 para US$ 14, enquanto o preço-alvo para PETR4 foi reduzido de R$ 53 para R$ 37.

“Mudanças trazem incertezas que os investidores não gostam. Os investidores já nos bombardearam em torno de questões-chave como: (a) no governo petista, qual será o capex? (b) que tipos de retornos serão exigidos em novos investimentos,
especialmente à luz do papel de protagonista social esperado para as empresas estatais? (c) a Petrobras arcará com algum ônus quando se trata de evitar a volatilidade do preço do combustível? (d) o que acontece com a política de dividendos existente?”

Os analistas apontam que estas são todas perguntas justas que só poderão ser respondidas com mais certeza depois de um tempo. A nova administração indicará novos executivos para a Petrobras – CEO, Conselho e estes, posteriormente, aprovarão também os nomes dos diretores. “Este é um processo que deve levar, a nosso ver, cerca deseis meses. Até lá, as incertezas permanecerão”, avalia o JP.

Morgan eleva Ânima

O Morgan Stanley, por sua vez, após as eleições presidenciais, revisou o setor de educação, com elevação dos ativos de Ânima (ANIM3) para overweight, enquanto reduziu Vitru, negociada na Nasdaq, para equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente a neutro).

Com a eleição de Lula, um retorno do FIES torna-se mais provável, uma vez que o petista sugeriu trazer de volta o programa de financiamento público várias vezes durante sua campanha. Os analistas da casa lembram que este foi um poderoso impulsionador de popularidade durante o governo petista na última década e pode ser um importante programa social, com impacto limitado sobre a inflação.

“O FIES pode voltar a ser o propulsor do setor em uma indústria que carece de catalisadores. Os nomes de ensino superior foram para mínimas nos últimos meses, mas ainda não há catalisadores claros diante de um cenário macro desafiador, que
mantém as matrículas e as desistências sob pressão. Uma potencial nova onda de financiamento poderia acelerar o processo de recuperação e permitir uma reclassificação em múltiplos. No entanto, não há maiores detalhes sobre as regras do ‘novo’ FIES, e elas importam para determinar em como operar no setor”, avaliam os analistas. Os analistas veem como razoável um aumento gradual no orçamento do programa atingindo R$ 18 bilhões ao ano.

Contudo, na falta de mais detalhes sobre o programa de financiamento estudantil, o FIES não é considerado
no caso base dos analistas. Assim, preferem ser seletivos e favorecerem ações de educação que parecem subvalorizadas e podem navegar bem por um complexo 2023.

“A Ânima poderia oferecer mais resiliência em um alto cenário de inflação e parece barato em relação aos pares, e acreditamos que poderia ser negociado a um leve prêmio”, apontam.

Goldman Sachs destaca varejistas com potencial no novo governo

O Goldman Sachs, por sua vez, vê as ações de consumo reagindo positivamente à vitória de Lula nas eleições presidenciais, pois as expectativas de apoio contínuo a programas de distribuição de renda e um potencial programa de reestruturação das dívidas do consumidor entre as propostas podem ser vistas como favoráveis ​​ao consumo.

“Além disso, passadas as eleições, esperamos que os investidores mudem seu foco para os eventos de comércio mais imediatos no quarto trimestre de 2022 (4T22), como Copa do Mundo e Black Friday, bem como as perspectivas para o mercado brasileiro consumidor em 2023”, avaliam.

No curto prazo, o Goldman espera que as varejistas de alimentos continuem se beneficiando de uma perspectiva de demanda relativamente forte, com ajuda governamental contínua e a demanda adicional da Copa do Mundo da FIFA, citando Assaí (ASAI3) e Carrefour Brasil (CRFB3).

O grupo SBF (SBFG3, dono da Centauro, também é citado como uma companhia que tende a se beneficiar com a demanda adicional por produtos relacionados à Copa do Mundo, “embora reconheçamos que a empresa tenha que enfrentar um 3T22 ainda desafiador primeiro”, avaliam os analistas.

Credit destaca cenário para utilities

Já o Credit Suisse discutiu em relatório os impactos do resultado das eleições para as elétricas, relembrando os principais temas.

“Apesar do setor ser altamente regulado, vemos muitas empresas com certa proteção a eventuais mudanças regulatórias proporcionadas pelos contratos de concessão existentes, diferentes exposições ao PIB e níveis de alavancagem sustentáveis. Portanto, no geral, não vemos grandes riscos”, avaliam.

Os analistas destacam que alguns contratos de distribuidoras que começam a vencer em 2025, caso de Energias do Brasil (ENBR3), poderiam ser o maior risco, mas não esperam grandes mudanças.

As revisões tarifárias que se iniciam ano que vem também não devem sofrer grandes alterações. Em relação à Eletrobras (ELET3;ELET6), como a privatização exigiu mudanças na legislação, estatutos e um grande aumento de capital, não esperam que esse processo seja revertido.

Na Sabesp (SBSP3), com a eleição de Tarcisio de Freitas (Republicanos) como governador de São Paulo, veem uma oportunidade vinda de mais eficiência de custos, implementação da nova estrutura tarifaria proposta em 2021 e provavelmente avanço dos estudos de privatização. Os analistas do Credit veem espaço para um potencial significativo em caso de um amplo corte de custos.

“Por fim vale ressaltar que acreditamos que os investidores devem se manter cautelosos e acreditamos que CPFL CPFE3) é um bom nome para ter na carteira dado previsibilidade de fluxo de caixa, boas margens e dividendos razoáveis”, apontam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.