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Como tem sido de costume nos últimos trimestres, a Petrobras (PETR3;PETR4) divulgou resultados considerados “sólidos” na noite da última quinta-feira (11), mas o grande foco ficou para os dividendos da companhia. E, ainda que tenha se mantido o “status quo” para os proventos da empresa junto com a divulgação do resultado do primeiro trimestre com um valor total de dividendos de R$ 24,7 bilhões, a grande expectativa fica para o futuro da política de proventos (além de outras políticas) da estatal com o novo Conselho e a nova diretoria.
Por enquanto, as indicações animam e, às 10h08 (horário de Brasília) desta sexta-feira (12) pós-balanço e anúncio de dividendos, os ativos PETR3 subiam 1,95%, a R$ 28,70, enquanto PETR4 avançava 2,04%, a R$ 25,95.
Primeiro, vamos aos números do resultado primeiro trimestre.
Análise de Ações com Warren Buffett
A companhia lucrou R$ 38,156 bilhões de forma líquida no primeiro trimestre de 2023, uma baixa de 14,4% na base de comparação anual. Contudo, o número veio acima do consenso da Refinitiv, que era de R$ 31,9 bilhões.
Na receita líquida, a petroleira estatal registrou um faturamento de R$ 139 bilhões, uma queda anual de 1,8%. Já para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, a projeção era de R$ 67,36 bilhões e o anotado foi R$ 72,5 bilhões, queda de 6,7% na base de comparação anual.
Conforme destaca a XP, os resultados ficaram em sua maioria em linha com as expectativas da companhia e do consenso, com a empresa novamente apresentando forte geração de fluxo de caixa livre (11% de yield ou 44% de yield anualizado).
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O Itaú BBA aponta alguns destaques do trimestre. Em exploração e produção, o segmento apresentou um Ebitda recorrente de R$ 56,6 bilhões, em que o menor patamar de petróleo no período foi praticamente compensado pelo aumento de produção e pela redução nas despesas. Já em refino, o Ebitda recorrente da divisão totalizou R$ 12,4 bilhões, 17% menor que o do quarto trimestre. O segmento continuou apresentando margens (rentabilidade) altas, principalmente devido aos preços da gasolina, parcialmente compensados por menores margens no diesel devido à sazonalidade e a menores preços internacionais.
Já em gás e energia: o setor apresentou um Ebitda recorrente de R$ 3,8 bilhões, 22% acima do trimestre anterior, muito devido ao menor custo de aquisição do gás natural. O fluxo de caixa foi de R$ 41,1 bilhões, sendo o resultado da dedução de R$ 12,6 bilhões de aquisições de intangíveis e imobilizados do fluxo de caixa operacional de R$ 53,8 bilhões.
Para o Bradesco BBI, a Petrobras mais uma vez entregou um excelente trimestre (apesar dos preços do petróleo mais fracos), com FCO-capex (Fluxo de caixa Operacional –investimentos) de US$ 7,9 bilhões.
Números positivos mas, como destacado acima, a grande questão fica para os dividendos.
Um grande ponto de atenção era a continuidade da política de dividendos, com muitas especulações se já no primeiro trimestre a companhia ia anunciar alguma alteração da sua regra. Isso não aconteceu: a empresa manteve a atual política e anunciou o pagamento de dividendo no valor de cerca de R$ 1,89 por ação, o que implica em um sólido rendimento de dividendos (dividend yield, ou a razão entre o dividendo pago por ação e a cotação da ação) de aproximadamente 7,4%. Com isso, logo após o anúncio, na reta final do pregão de quinta-feira, as ações seguiram um forte movimento de alta.
A política de dividendos foi mantida por mais um trimestre, mas a expectativa é de que mudanças, o que mantém a apreensão do mercado. Se a política não teve alteração agora, a projeção é de que haja uma mudança mais à frente, ainda que sem “açodamentos”, o que também foi visto como positivo por analistas de mercado.
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“A distribuição de dividendos é o principal fator de valor para a Petrobras em 2023 e uma nova política deve ser revelada até o final de julho. Embora ter mantido a política de distribuir 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e as aquisições de ativos imobilizados e intangíveis (investimentos) no 1T23 tenha sido uma indicação muito positiva, não podemos descartar pagamentos mais baixos ou distribuições menos frequentes daqui para frente”, avalia o Morgan Stanley.
O Morgan ainda lembra que o Conselho da Petrobras solicitou aos diretores que elaborem uma proposta para melhorar a política de remuneração dos acionistas, incluindo a possibilidade de recompra de ações, até o final de julho de 2023. Isso deixa a porta aberta para distribuições menos frequentes e/ou taxas de pagamento mais baixas ao longo do restante de 2023, pois o(s) adiantamento(s) trimestral(is) será(ão) deduzido(s) dos dividendos anuais a serem aprovados na Assembleia Geral Ordinária de 2024.
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Por exemplo, se o Conselho aprovar uma política compatível com a atual premissa do banco de pagamento de 32,5% do lucro líquido, os adiantamentos trimestrais subsequentes podem ser muito menores do que a distribuição implícita de 65% do 1T23.
De qualquer forma, o dividend yield ainda pode ser atrativo, mesmo com um pagamento menor, avalia o Morgan, e o balanço de riscos está do lado positivo.
“O anúncio do 1T23 já reduz o risco de uma quantidade importante de potenciais dividendos menor para o ano, com um yield de cerca de 7,0%. Em nosso caso base atual, com pagamento de 32,5% do lucro em dividendos, vemos o rendimento anual em cerca de 11,2%”, avalia.
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Os analistas veem que o balanço de riscos pende para o lado positivo tendo em vista que a empresa está gerando um caixa muito grande e entendendo que o acionista controlador se beneficiaria do fluxo de dividendos para contribuir com seu quadro fiscal. Aumentar o pagamento em proporção ao lucro (dividend payout) para 40% geraria um dividend yield de cerca de 13,8%, enquanto um pagamento de 50% resultaria em cerca de 17,2%.
A XP Investimentos avalia que este provavelmente será o último trimestre com a atual política de dividendos em vigor e, a partir de agora, os investidores estarão atentos às mudanças que a nova gestão vai implementar na Petrobras.
“Atualmente, não temos certeza sobre a natureza das mudanças que serão feitas na política de dividendos da Petrobras. Com base nas declarações anteriores d e[Jean Paul] Prates [CEO da companhia], nossa melhor estimativa é que a política de dividendos provavelmente se tornará mais discricionária, resultando em menor previsibilidade para os investidores”, avaliam os analistas.
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Esta é apenas uma das questões. Outras são: (i) potencial atividade de fusões e aquisições envolvendo Vibra (VBBR3), Braskem (BRKM5) e Acelen; (ii) antecipação das diretrizes do novo Plano Estratégico, principalmente no que diz respeito ao capex; (iii) possíveis mudanças nas políticas de preços de combustíveis e gás; e (iv) possíveis alterações nas práticas de governança corporativa.
O Bradesco BBI viu o pagamento de dividendos anunciado na véspera como uma surpresa positiva, superando sua estimativa de US$ 3 bilhões -US$ 4 bilhões e estando em linha com a política atual.
Sobre a notícia de que o conselho pediu à administração que apresentasse uma nova política de pagamento (com a possibilidade de recompra de ações) e um plano estratégico para avaliação até o final de julho, o BBI apontou que houve certa apreensão ao mercado em relação ao que esperar.
“Vemos os níveis de caixa da Petrobras subindo para quase US$ 20 bilhões até o final do ano de 2023. Ainda não se sabe se a empresa alavancará recompras com essa liquidez ou buscará fusões e aquisições. Mais detalhes serão fornecidos no novo Plano Estratégico, que deve ser publicado no 3T23”, avalia.
A Genial também destacou o pagamento anunciado na véspera como positivo. Porém, avalia que a nota deixou claro que a remuneração de acionistas poderá se estabelecer de outras maneiras que não via distribuição de proventos (como o caso da recompra de ações) além do “ajuste do Planejamento Estratégico“, que por sua vez deve mostrar o novo fluxo de investimentos esperado para os próximos anos pela empresa (maior que os US$ 78 bilhões anunciados para 2023 a 2027).
“Ficamos com a impressão que com maiores investimentos esperados e recursos sendo direcionados à recompra de ações, a parcela que poderia ser destinada a proventos de maneira propriamente dita pode minguar. Ou seja, achamos que esse posicionamento pode mais do que compensar a boa notícia relacionado ao pagamento de dividendos referentes as 1T23 ao longo dos próximos pregões”, avalia.
O Morgan Stanley avalia que os comentários da administração continuam bastante equilibrados, com destaque para a importância da exploração e produção do pré-sal como motor dos negócios e dos fluxos de caixa.
“A linguagem em torno do desejo da administração de investir em transição energética e projetos sustentáveis é conservadora, citando estudos e parcerias com empresas globais bem estabelecidas, como Shell e Equinor (ambas cobertas por Martijn Rats). Do lado dos riscos, uma comissão junto com o BNDES para desenvolver projetos conjuntos na indústria nacional (ou seja, conteúdo local) é algo a ser acompanhado de perto”, avalia.
Com todo esse balanço de riscos no radar, a maior parte das casas de análise ainda segue com uma visão conservadora para as ações da Petrobras, enquanto as que recomendam compra alertam para os riscos.
O Morgan Stanley aponta manter recomendação equalweight (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para os ADRs (recibo de ações, na prática, ativos negociados na Bolsa de Nova York) PBR (equivalente aos ordinários).
“Esperamos volatilidade contínua à medida que a nova administração e o Conselho assumem o cargo e começam a compartilhar sua visão e estratégia para a estatal. Decisões recentes sobre impostos sobre combustíveis e a criação de um imposto temporário sobre a exportação de petróleo levantaram a bandeira amarela do setor e aumentaram o clima de intervenção nas estatais. Achamos que é uma questão de tempo para as políticas da estatal mudarem, mas precisamos ter mais visibilidade sobre seus possíveis impactos na lucratividade e geração de caixa, por isso ficamos à margem, apesar da avaliação muito barata dos ativos”, apontam os analistas.
O BBI também segue com recomendação neutra para os ativos PETR4 e PBR. “Se a Petrobras continuasse a pagar de acordo com a política atual, os rendimentos de dividendos para 2023 e 2024 seriam próximos de 20%, sendo bastante atraentes. Ao mesmo tempo, a empresa concorre com pesos pesados como Shell, BP e Equinor, que estão investindo na transição energética e pagando rendimentos de 10% a 13%. Vamos ficar de olho no que a nova política sugere”, avalia.
O Itaú BBA também tem recomendação “neutra” para PETR4, com preço-alvo de R$ 27 ao final de 2023, em meio a um cenário incerto para o papel.
A Genial Investimentos tem recomendação de venda. “Avaliamos os resultados da Petrobras como positivos – que não trazem nenhuma surpresa, tendo em vista toda a execução da empresa nos últimos anos. É importante mencionar que esse é o primeiro trimestre reportado com a presença a nova presidência, diretoria e conselho de administração (essa última eleita mesmo depois da rejeição de alguns nomes, que conseguiram ser emplacados) e a ideia de um reporte negativo simplesmente não faria nenhum sentido”, avalia.
Contudo, aponta, por ser uma estatal, naturalmente, a empresa está inserida dentro de um ciclo político e essa é a grande questão em relação a análise da empresa. “Como grande incertezas, citamos: I) a nova política de preços (que ainda não foi oficialmente divulgada), II) Investimentos em novas refinarias (a despeito do passado controverso no desenvolvimento de suas últimas refinarias), III) aumento do uso da empresa como apoio para políticas de conteúdo nacional, o que deve pressionar a linha de investimentos da empresa, IV) rumores/possibilidade de uso da empresa para recompra de ativos previamente vendidos (refinarias, BR Distribuidora/Vibra, Eletrobras, etc) e outras”, aponta.
A XP, por sua vez, apesar do alto risco inerente associado à tese de investimento, mantém recomendação de compra para a ação principalmente com base no valuation descontado. “No entanto, observamos que no último mês o desempenho das ações da Petrobras superou tanto comparáveis locais quanto internacionais. Isto, juntamente com a introdução de uma nova política de dividendos, pode ter um impacto negativo sobre as ações no curto prazo”, avalia.