Petrobras: o que as sinalizações do futuro CEO e a saída de diretores mostram sobre o futuro da estatal?

Incerteza segue sendo a palavra de ordem para os investimentos na petroleira, sendo elevada com a saída de importantes executivos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O noticiário para a Petrobras (PETR3;PETR4) foi bastante movimentado entre a noite da última quarta-feira (24) e a manhã desta quinta-feira (25), marcado pela saída de diretores, venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, entre outros anúncios feitos pela estatal.

No final da tarde da véspera, repercutiu a entrevista à Reuters do futuro CEO da companhia, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, trazendo algumas considerações sobre o que esperar dele no cargo. A princípio, as sinalizações foram positivas. Silva e Luna disse que não cederá a eventuais pressões políticas, incluindo aquelas relacionadas a cargos na empresa, e avalia que parte da diretoria atual poderá continuar, pelo menos em um primeiro momento de sua gestão.

Cabe lembrar que o presidente Jair Bolsonaro decidiu não renovar o contrato de Roberto Castello Branco após atritos relacionados à política de preços de combustíveis da estatal,  indicando o general Joaquim Silva e Luna em seu lugar, o que gerou uma grande desconfiança no mercado. A indicação do general da reserva para ocupar uma vaga no Conselho de Administração da estatal será apreciada em 12 de abril, em uma assembleia de acionistas. Depois da eleição dos novos conselheiros, Luna deverá ser eleito pelos seus pares para o posto de principal executivo.

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Porém, horas depois, houve um revés nos planos do general. Em comunicado, a companhia informou que quatro membros de sua diretoria executiva comunicaram ao Conselho de Administração que não têm interesse de renovar seus mandatos. São eles Andrea Almeida (Financeira e de Relacionamento com Investidores), André Chiarini (Comercialização e Logística), Carlos Alberto Pereira de Oliveira (Exploração e Produção) e Rudimar Lorenzatto (Desenvolvimento da Produção). Na entrevista, o general havia destacado que alguns executivos poderiam sair, mas citou dois.

Os mandatos da diretoria executiva foram encerrados em 20 de março, mas os executivos estão comprometidos a cumprir com deveres e obrigações até a posse de seus respectivos sucessores, o que deve ocorrer após a realização da assembleia  em 12 de abril.

Conforme destaca o Morgan Stanley, o comunicado da Petrobras busca reiterar que os conselheiros não se demitiram, pois se comprometeram a permanecer até a eleição de seus sucessores. “No entanto, o resultado prático é que, contando com o CEO, a equipe de gestão executiva da Petrobras terá uma rotatividade de 56% (5 de 9), que incluem os cargos de diretor administrativo mais relevantes, em nossa opinião (e uma taxa de rotatividade de 78% com o diretor de Governança e Conformidade Marcelo Zenkner e a saída da diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras Anelise Lara anunciada em janeiro)”, apontam os analistas. A empresa disse em um comunicado em separado na quarta-feira que o conselho escolheu Salvador Dahan como novo diretor de Governança que ele assumirá o cargo a partir de 1º de maio.

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Bruno Montanari e Guilherme Levy, analistas do banco, apontam que, embora algumas saídas já fossem esperadas, a impressão inicial é que não iria atingir tal número, avaliando ainda que esta é mais uma consequência da recente intervenção do governo na Petrobras.

“Mesmo que acreditemos firmemente que a Petrobras possui um forte corpo de gestores experientes e altamente capacitados, estamos bastante preocupados com o risco de continuidade, particularmente com a substituição dos diretores de exploração e de desenvolvimento da produção”, avaliam.

A percepção de riscos para a manutenção da atual estratégia da companhia também inclui a sua política de preços de combustíveis, avaliam Maira Maldonado e Gabriel Francisco, analistas da XP Investimentos, que destacam os avanços ocorridos na Petrobras durante o mandato dos atuais diretores, liderados por Castello Branco.

Esse risco maior se exacerba à medida que saem notícias sobre o motivo para a saída dos diretores. De acordo com a Reuters, os executivos vão deixar a companhia após discordância com os planos de seu próximo presidente, o que inclui justamente a política de preços da empresa. Enquanto isso, em entrevista à agência, ele afirmou que manterá a Petrobras livre de interferências políticas.

Outras sinalizações foram dadas pelo futuro CEO durante a entrevista. Ele disse esperar que o governo encontre uma solução para evitar volatilidades de preços de combustíveis, mas sem que a Petrobras pague a conta.

Entre as possíveis soluções, uma política de amortecimento de preços dos combustíveis, após a Petrobras, com seu esquema de paridade ante o mercado internacional, ter elevado fortemente as cotações neste ano. “A ideia de criar um colchão, um amortecedor de preços, está viva e existe. Não tem nada pronto. O governo vai trabalhar com isso e a Petrobras vai contribuir, ajudar e participar. Isso não significa pagar a conta”, disse ele.

Segundo o Bradesco BBI, a ideia do fundo de compensação para reduzir a volatilidade é boa. No entanto, o método de financiamento dele ainda parece ser bastante complicado dado o cenário fiscal atual. Ao mesmo tempo, a implementação deste fundo precisaria acontecer antes das eleições presidenciais de 2022, pois isso poderia trazer uma volatilidade significativa. Isso ainda mais levando em conta a recente anulação da condenação do ex-presidente Lula no âmbito da Operação Lava-Jato pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) colocando o petista de volta ao jogo eleitoral.

Venda da RLAM: boa notícia, mas futuro incerto

Sobre isso, os analistas ainda destacam que, diante desse cenário político altamente incerto, veem a probabilidade da Petrobras vendendo suas refinarias, com exceção da RLAM, como muito baixa. O anúncio da venda da refinaria RLAM foi feito também na noite da última quarta, sendo um dos últimos atos de Castello Branco à frente da estatal.

Após muita polêmica, a venda para a Mubadala Capital foi anunciada por US$ 1,65 bilhão. “É o começo do fim de um monopólio numa economia ainda com monopólios em várias atividades”, disse em nota o presidente da estatal, Roberto Castello Branco.

A empresa afirmou ainda que a refinaria RLAM será a primeira dentre as oito que estão em processo de venda a ter o contrato assinado. No processo de desinvestimento em curso, a companhia busca se desfazer de cerca de metade da capacidade de refino do país.

De acordo com o Credit Suisse, a notícia é positiva, sendo um passo importante para a estatal uma vez que representa 15% da capacidade de refino da empresa. Ela deve trazer os seguintes benefícios: (a) mitigar risco de preço, (b) reduzir o capital exigido para refino, (c) e ajudar na meta de US$ 60 bilhões de dívida bruta que deve levar à nova política de dividendos.

A Petrobras, avalia, claramente está aumentando o seu foco na exploração e produção e deve ficar com uma capacidade de refino de 1,1 milhão de barris diários (MMbpd ), nível bem abaixo dos 2,4 MMbpd de produção. Os analistas ressaltam que a posição atual praticamente monopolista da Petrobras traz junto com ela uma boa dose de poder de precificação, mas a maior competição deve diminuir a possibilidade de intervenção no futuro.

Já a XP vê como negativo valor final de venda da RLAM, tendo em vista que a operação ocorreu em um múltiplo de 3,1 vezes o valor da firma sobre o Ebitda [EV/Ebitda], abaixo da expectativa mais pessimista dos analistas de 6,7 vezes e também abaixo dos múltiplos atuais que as ações da Petrobras negociam atualmente, de 4,8 vezes o Ebitda esperado entre 2021 e 2022.

“Em nossa opinião, o nível baixo de múltiplos para transação pode refletir uma combinação dos seguintes fatores: (i) baixo nível de competição pelo ativo; (ii) maior percepção de risco para o segmento de refino no Brasil devido a política de preços de combustíveis da Petrobras e (iii) potenciais necessidades de investimentos em renovação de equipamentos (Capex) da RLAM, tendo em vista que é um ativo mais antigo da Petrobras”, avaliam.

De qualquer forma, conforme ressaltou o BBI, o processo de venda das demais refinarias pode estar comprometido dado o cenário atual para a empresa, o risco eleitoral no Brasil e a falta de uma solução estrutural para o impasse sobre o preço do diesel no curto prazo.

Com esse cenário ainda de grandes incertezas para a empresa, a recomendação dos analistas segue sendo de cautela. O Bradesco BBI, o Credit Suisse e a XP Investimentos possuem recomendação de venda ou equivalente à venda para a companhia, enquanto o Morgan Stanley tem recomendação equalweight (exposição em linha à média do mercado, ou neutra).

“Apesar da recente baixa do preço das ações, os riscos de queda para a Petrobras permanecem elevados neste ponto, e a recompensa de risco é binária. Ficamos à margem até que obtenhamos mais clareza sobre a nova equipe de gestão e a sua estratégia”, avaliam os analistas do Morgan. A XP também vê que a percepção de riscos para a Petrobras deverá continuar elevada até a transição do comando na empresa.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.