Petrobras (PETR4) ‘desperdiça’ alta do petróleo e acionistas ficam sem ver ganhos

Nos últimos dias, além da questão de mudança na presidência e de dividendos, defasagem também entrou no radar

Vitor Azevedo

Tanque da Petrobras em Brasília 30/9/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino/Arquivo

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O preço do barril de petróleo do tipo Brent já subiu, desde fevereiro até o fim dessa quinta-feira (11), quase 17%, sendo negociado, atualmente, a cerca de US$ 90. No entanto, as ações da Petrobras (PETR4), principal petroleira do Brasil, não acompanham esse avanço do preço da commodity e os acionistas (como o próprio governo) ficam sem se beneficiar destes ganhos.

Ao contrário da Vale (VALE3), por exemplo, que se beneficia da alta do preço do minério na China (em suas ações), no caso da Petrobras (PETR4) o mesmo não acontece. Dessa forma, surge mais um fator de preocupação aos investidores, junto com os embates políticos, que é a defasagem dos preços dos combustíveis.

Para uma empresa privada do setor de óleo e gás, o avanço do preço do petróleo significa maiores ganhos e, consequentemente, valorização. Mas esse não é o caso da Petrobras. Em grande parte por isso, as ações preferenciais da empresa de economia mista, da qual o Estado é o principal acionista, no mesmo período caem por volta de 5%, impactadas por uma série de fatores.

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Ações da Petrobras (PETR4) não acompanham alta do petróleo

Nos últimos dias, as principais polêmicas políticas envolvendo a companhia, que explicam a maior parte das quedas, foram minimizadas. Por enquanto, aparentemente, Jean Paul Prates continua no cargo de presidente.

Fora isso, políticos, como o ministro da Fazenda Fernando Haddad, vêm sinalizando que a Petrobras pode optar por acabar distribuindo mais dividendos aos acionistas

Defasagem

Mas a questão da defasagem continua. Até terça, o preço cobrado pela Petrobras pelos combustíveis que vende estava 15% atrás das refinarias privadas brasileiras, que seguem a paridade internacional. 

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“A questão da distribuição ou não dos dividendos é diferente da de precificação. A decisão de pagar dividendos ou investir até tem o cunho político, mas é uma escolha de qualquer empresa, estatal ou privado. Se você fizer maus investimentos pode minguar o lucro, mas fazendo bons, pode alavancá-lo. Lá atrás, a Petrobras investiu no pré-sal, por exemplo”, diz Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria. “Mas a questão da precificação é clara. A Petrobras devia cobrar os maiores preços que pode”.

Pública ou privada?

A Petrobras, na questão dos preços, fica dividida entre os interesses dos acionistas privados e políticos. Enquanto um lado – o privado – preza pela maximização dos lucros, o outro acaba tendendo a usar a companhia para fatores políticos, uma vez que o preço dos combustíveis acaba sendo algo que pesa muito nas avaliações políticas, principalmente do Executivo Federal. 

“Se ela fosse pública, estatal, seria uma prerrogativa do governo definir quanto quer cobrar. O grande problema é ela não ser nem pública nem privada, com isso a política de preços acaba influenciando de maneira negativa”, diz de Vitto. 

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Ele lembra, no entanto, que o próprio Governo Federal se beneficiaria de um reajuste, com lucros crescendo, bem como os dividendos. A ajuda que a estatal traz aos cofres públicos com seus proventos, uma vez que a União é a maior acionista, está no centro das recentes discussões políticas.

Popularidade em risco

Flávio Conde, analista da Levante, lembra, contudo, que recentemente a avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem com tendência de queda. Segundo o IPEC, em pesquisa publicada na quarta, o número dos que consideram o governo do petista positivo caiu para 33%, contra 43% de um ano atrás. “Se tivéssemos em uma situação normal, com a aprovação do presidente bem, sem preocupação, provavelmente iriam reajustar. Mas não é o caso”, fala Conde. 

Para ele, contudo, a atual defasagem não é algo tão preocupante. “O lucro ainda está bem alto. Acompanhar o mercado internacional  é bom para os acionistas, mas não é uma necessidade”, fala.

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Walter de Vitto vai no mesmo sentido, comentando que, para que a Petrobras perdesse dinheiro, a intervenção deveria ser muito mais radical, a ponto de os custos serem maiores que os ganhos. “Quando o majoritário intervém na política de preços de forma agressiva, ele acaba gerando uma redução do lucro”, pondera. 

De qualquer forma, para especialistas, se a empresa mantiver seus preços defasados, é possível que investidores fiquem ainda mais cautelosos com as ações. Hoje, de acordo com dados da LSEG, as ações preferenciais da Petrobras têm cinco recomendações de compra, quatro neutras e nenhuma de venda. O preço-alvo médio fica em R$ 43.