Petrobras divulga resultado do 1º trimestre nesta quinta-feira: o que esperar dos números da estatal?

Expectativa é de dados fortes em meio à alta do petróleo, ainda que dados de produção não tenham animado muito; atenção ainda para a tele de resultados

Ricardo Bomfim

Visão aérea da plataforma P-52 da Petrobras na Bacia de Campos. 28 de novembro de 2007. REUTERS/Bruno Domingos

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SÃO PAULO – A Petrobras (PETR3; PETR4) reportará seus resultados do primeiro trimestre de 2021 nesta quinta-feira (13) após o fechamento do mercado, com a expectativa de registrar fortes números no período, ainda que os dados de produção divulgados no final de abril não tenham animado tanto os analistas.

A alta do petróleo, na avaliação do mercado, guiará números mais positivos, enquanto os investidores ficarão atentos à primeira teleconferência de resultados de Joaquim Silva e Luna como presidente da estatal, após as primeiras falas dele serem bem recebidas pelos investidores: a webcast sobre o balanço acontecerá na próxima sexta, às 10h (horário de Brasília).

De acordo com os analistas da XP, os resultados deverão refletir os maiores preços médios de petróleo brent (usado como referência para a companhia), que registraram alta de 20,67% na comparação anual, passando de US$ 50,8 no primeiro trimestre de 2021 para US$ 61,30 o barril em igual período de 2021. “Por outro lado, devem refletir uma média de desconto para a paridade de importação de 9,5% no diesel e de 10,5% na gasolina”, apontam os analistas.

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Um dos grandes pontos de atenção para o balanço fica para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês). O Credit Suisse espera um número de R$ 50 bilhões, alta de 33% na comparação anual, enquanto a projeção do Bradesco BBI é de um resultado de R$ 48 bilhões,  tanto pela alta dos combustíveis quanto pelos ganhos no segmento downstream (refino e distribuição).  O Credit estima ainda uma redução da dívida líquida que pode chegar a US$ 5 bilhões.

As projeções para o lucro líquido, por sua vez, são bastante diversas. Enquanto a XP espera um lucro líquido de R$ 14,6 bilhões no primeiro trimestre de 2021, revertendo a perda histórica de R$ 48,52 bilhões em igual período do ano passado, o Credit Suisse espera um prejuízo líquido de R$ 126 milhões devido ao efeito-câmbio. Já o BBI projeta lucro líquido de R$ 3,34 bilhões no primeiro trimestre, também avaliando que os números da companhia devam ser negativamente impactados pelas perdas cambiais não-caixa.

Maior cautela depois de dados de produção

Cabe destacar que a companhia divulgou seu relatório de produção e vendas do primeiro trimestre no final de abril, com números que, a princípio, levaram a maior cautela para os analistas, ainda que não tenham mudado materialmente a perspectiva para o balanço.

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A companhia registrou crescimento de 3,1% na produção, para, em média, 2,77 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) de petróleo, gás natural e líquido de gás natural (LGN), em relação ao quarto trimestre do ano passado. Contudo, houve queda de 5% da produção na base anual e de 9% nos volumes de vendas.

Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do Credit Suisse, destacaram que o volume total vendido caiu também 7% em relação ao quarto trimestre de 2020 e que as exportações se reduziram em 14% no trimestre e 29% na base anual.

“Avaliamos que os menores volumes de vendas reportados podem atrapalhar o resultado consolidado do primeiro trimestre”, apontou a equipe de análise do banco suíço ao analisar o relatório de produção. A consequência de maior produção, porém menores vendas, de acordo com o Credit Suisse, deve ser um crescimento nos estoques da estatal.

O banco tem recomendação neutra para os ADRs (na prática, as ações da empresa negociadas na Bolsa de Nova York) com preço-alvo de US$ 10,00, o que representa uma valorização de 6,84% sobre o valor de fechamento das PBR ontem nos EUA.

Já a XP aponta que o dado de produção foi neutro. Os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, ressaltam que no refino o volume total de vendas da Petrobras foi de 1,821 milhão de barris por dia, o que corresponde a uma queda de 4,1% na comparação com o trimestre anterior.

Essa redução foi atribuída aos impactos das medidas mais rígidas de distanciamento social adotadas para conter o avanço da Covid-19 no início do ano. “Adicionalmente, o fator de utilização do parque de refino foi de 82%, em linha com nossa visão de que a taxa de utilização deveria subir devido a manutenção de preços de combustíveis abaixo da paridade”, avalia a corretora.

“Por um lado, os números de produção ficaram abaixo na comparação anual devido aos desinvestimentos e ao declínio natural de produção. Por outro, vemos como positiva a maior taxa de utilização de refinarias reportada pela companhia na comparação anual”, escreveu a equipe de análise da XP.

A XP tem recomendação de venda para as ações da Petrobras, com preço-alvo estimado em R$ 24,00, valor que está 4,57% abaixo do patamar de fechamento das PETR4 no pregão de ontem na B3.

Risco de intervenção divide analistas

Os analistas Bruno Montanari e Guilherme Levy, do Morgan Stanley, por sua vez, avaliam que o dado operacional da Petrobras foi saudável, mas não esperam que seja o bastante para acalmar as preocupações dos investidores com a independência da administração no futuro.

Com uma visão mais otimista, a equipe de análise do Bradesco BBI elevou recentemente a sua recomendação para as ações da Petrobras de venda para neutra com preço-alvo de R$ 32,00, o que representa uma valorização de 27,24% no valor dos papéis.

Segundo os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, é hora de retomar a confiança no investimento em Petrobras, pois apesar dos acontecimentos passados (intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da empresa) terem sido “traumáticos”, a relação risco/retorno parece cada vez mais atrativa. Porém, ainda fazem algumas ressalvas.

“A Petrobras recompôs seu conselho de administração e diretores executivos com nomes técnicos e o novo CEO manifestou o desejo de continuar o planejamento estratégico da gestão anterior, ao mesmo tempo em que a companhia elevou os preços da gasolina e do diesel em R$ 0,72 o litro este ano, o que adicionou US$ 5,5 bilhões em FCFE [fluxo de caixa livre para patrimônio] e o governo parece estar estudando formas de criar um fundo de compensação por meio dos leilões dos campos de Sepia e Atapu para evitar a volatilidade nos preços do diesel”, analisa o Bradesco BBI.

Porém, ainda há riscos no radar que impedem os analistas de ficarem mais construtivos com o case. Na avaliação do BBI, enquanto o discurso de posse de Luna, em meados de abril, foi muito positivo para os acionistas, “as ações importam mais do que palavras”. Em sua fala, Silva e Luna afirmou que a companhia pretende reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis (mudanças bruscas dos preços nas refinarias), mas sem desrespeitar a paridade internacional (alinhamento com os preços externos).

O principal risco é de que os seus compromissos possam ser esquecidos em meio às turbulências. Além disso, eles também veem a eleição presidencial de 2022 como um fator-chave de risco, ainda que relativamente distante temporalmente.

Leia também: É hora de olhar de novo para Petrobras? BBI e Credit elevam recomendação para ações, mas seguem atentos aos riscos

Além disso, uma visão mais otimista sobre o case da estatal requer vendas de ativos e/ou a implantação efetiva de um fundo de estabilização de combustível pelo governo para ajudar estruturalmente a resolver a questão do reajuste de combustíveis. Desta forma, além do resultado, a teleconferência com o mercado será acompanhada de perto pelos analistas.

De acordo com dados compilados pela Refinitiv, a Petrobras acumula cinco recomendações de compra, seis neutras e apenas uma de venda entre bancos, corretoras, casas de análise e consultorias. O preço-alvo médio para as ações PETR4 está em R$ 31,45, o que representa um upside (valorização) de 25,05% em relação ao fechamento de ontem.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.