Peste suína, gripe aviária e vaca louca: como essas doenças afetam a dinâmica e as ações dos frigoríficos?

Doenças impactam companhias brasileiras do setor, tornando leitura de cenário mais complexa

Vitor Azevedo

(Shutterstock)

Publicidade

Os últimos tempos não têm sido calmos para quem investe no setor de proteínas brasileiro. Gripe aviária, gripe suína e vaca-louca surgiram no horizonte de companhias como a JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3) e BRF (BRFS3), traçando cenários hora mais positivos, hora mais negativos.

Na semana passada, a Reuters noticiou que o governo chinês relatou alguns casos da chamada peste suína africana (PSA) após o feriado do Ano Novo Lunar, em janeiro. Como resultado, as ações da Marfrig, JBS e Minerva fecharam em alta a sessão da última quinta-feira, com investidores interpretando que o problema pode beneficiar as companhias brasileiras. Contudo, vale ressaltar, os ativos amenizaram os ganhos ao longo daquela sessão, com a visão de diversas casas de análise que o surto não encontraria paralelos com os anos mais graves.

A China é o maior consumidor de carne suína do mundo e o Brasil, um dos maiores produtores. Se o gigante asiático realmente enfrentar problemas com a gripe, sua produção deve ser afetada, o preço da carne suína irá aumentar e as companhias brasileiras terão margens melhores.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“A doença, conhecida por extinguir aproximadamente 30% da produção de carne suína na China durante o último surto entre os anos de 2019 e 2020, tem uma alta taxa de mortalidade e foi um dos eventos mais transformadores no comércio global de proteínas na história recente”, comentou Itaú BBA, em relatório.

A produção da proteína suína no país naquele período caiu de 11 milhões de toneladas em 2019 para seis milhões em 2020 e só foi se recuperar em 2022. Durante todo o período, os preços dessa carne se mantiveram elevados.

Nesta semana, o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China emitiu políticas para o controle e prevenção de doenças animais durante a primavera, incluindo a peste suína africana. O ministério criticou os governos locais por não rastrearem efetivamente os surtos e os instou a fortalecer a investigação de epidemias animais e relatar informações de monitoramento em tempo hábil. Este alerta também foi emitido em outubro de 2022, quando os preços do suíno estavam mais altos.

Continua depois da publicidade

“Nosso caso base é que casos recentes de PSA na China não terão um impacto relevante para as ações brasileiras de proteína. Embora continuemos monitorando a situação, o rebanho suíno na China permanece elevado (em janeiro de 2023) e outros dados de alta frequência que usamos para olhar o impacto potencial da PSA não mostram nenhum sinal de que a doença tenha um impacto relevante desta vez (por exemplo, preços de leitões na China, estoque de produtores de suínos chineses, etc.)”, avalia o BBI. Caso a situação se agrave na China, o impacto pode ser maior para os produtores brasileiros, beneficiando os locais.

Enquanto a peste suína se mostra como uma possível variável positiva para os resultados dos frigoríficos nacionais, a gripe aviária é algo binário por enquanto.

A doença vem se aproximando do Brasil. No começo do mês, o Uruguai, que tem fronteira direta com o sul do país, já havia confirmado 70 mortes de aves, entre galinhas e aves silvestres. A Argentina tem problemas ainda mais sérios. No começo deste mês, o país suspendeu a exportação de frango. Em uma granja na província de Rio Negro, a mil quilômetros de Buenos Aires, 200 mil aves morreram.

Continua depois da publicidade

“Até passar o fluxo de aves migratórias, o cenário para as empresas mais expostas às aves é de aversão ao risco. Temos de ver se a doença entrará no Brasil. Passando isso, se o Brasil sair imune, ele será um dos poucos países que conseguirá aumentar sua produção de frango”, explica Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos.

A ideia é que, com a oferta caindo, o Brasil poderá vender a sua carne de frango por preços maiores, bem como no caso da gripe suína. O cenário, porém, pode se firmar como negativo se casos forem confirmados no país e a produção ter de ser interrompida.

A BRF é o frigorífico brasileiro mais dependente da carne de frango.

Publicidade

De acordo com Alencar, a gripe aviária já impactou fortemente a Europa e os Estados Unidos. Além disso, há falta de pintinhos e ovos em várias localidades.

“Observamos que o Uruguai já havia notificado casos de gripe aviária no mês passado. O mercado está monitorando o risco de o Brasil relatar casos de gripe aviária, pois os países vizinhos encontraram aves contaminadas, mas destacamos que o Brasil continua livre da doença. Em países que relataram casos em aves selvagens, as exportações de carne de frango podem não ter sido afetadas, mas os países que relataram casos em aves comerciais podem enfrentar restrições à exportação”, disseram os analistas do Bradesco BBI, em relatório.

Vaca louca: suspensão das exportações para a China continua

Por fim, quanto à vaca louca, o cenário é mais negativo. A suspensão das exportações de carne bovina brasileira para a China, principal importador dessa proteína, se estende desde o dia 22 de fevereiro e deve trazer alguns impactos nos balanços do primeiro trimestre.

Continua depois da publicidade

De acordo com dados da consultoria de agronegócios Datagro Pecuária, os frigoríficos brasileiros de carne bovina estão perdendo entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões por dia útil depois do embargo comercial.

O Brasil suspendeu voluntariamente as vendas de carne bovina para a China após relatar um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou a doença da vaca louca, em conformidade com os protocolos sanitários. Uma investigação posterior considerou o caso “atípico” (não contagioso), o que significa que o Brasil manteve seu status de risco insignificante para EEB e pode retomar as exportações para a China.

A suspensão da proibição, no entanto, depende da aprovação de Pequim. As autoridades brasileiras disseram que todas as informações relevantes sobre o caso da vaca louca foram compartilhadas com a China. O governo agora planeja persuadir Pequim a suspender a proibição antes ou durante uma visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, a partir do dia 26 de março.

Publicidade

“Concluímos que não é possível realocar totalmente a demanda da China para outros mercados. Como o Paraguai e a Colômbia não conseguem exportar para a China, enquanto Austrália e EUA estão limitados, apenas Uruguai e Argentina conseguiriam aumentar os embarques para a China. As empresas com maior diversificação geográfica, portanto, devem conseguir realocar a produção para outros países”, diz Alencar.

A Minerva, por exemplo, afirmou em sua teleconferência de resultados do quarto trimestre que não está preocupada com a interrupção das exportações de carne bovina brasileira para a China. A companhia afirmou que vem realocando sua cadeia de produção, priorizando as vendas para o país asiático em suas outras plantas, caso do Uruguai.

“Embora a situação ainda esteja evoluindo e possa ser muito cedo para avaliar todas as suas implicações, notamos que a diversificada exposição geográfica da Minerva em múltiplas regiões da América Latina (51% de sua produção está fora do Brasil) pode ajudar a compensar a proibição”, corroborou o Goldman Sachs, em relatório do começo de fevereiro.

No terceiro trimestre de 2022, 36% da receita da Minerva vieram de exportações, contra 13% da Marfrig e 8% da JBS.

Já o analista da XP aponta que, “se a China voltar agora no fim do mês, a Minerva deve ser a mais beneficiada. Se não, será a mais prejudicada”.

De qualquer forma, para ele, há ainda algum otimismo para o setor de proteínas brasileiro em 2023. Alencar cita como motivos para isso a questão de o ciclo do gado bovino americano ter virado, com as carnes provinda de lá mais caras, e a dificuldade que outros países estão tendo em aumentar produção. O Brasil, do outro lado, está em um ciclo de alta do gado e deve ter uma safra recorde de grãos, o que deve diminuir os gastos com ração e melhorar as margens.

(com informações da Reuters)